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EUA anunciam retomada de diálogo nuclear com Irã após ataques

Donald Trump, presidente dos EUA, disse na cúpula da Otan que os ataques americanos foram um golpe devastador para as ambições nucleares do Irã

Por Estadão Conteúdo Publicado em 26/06/2025 às 0:00

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira, 25, que autoridades americanas e iranianas se reunirão na próxima semana para discutir o programa nuclear do Irã. Contudo, em uma declaração que contraria a necessidade de diálogo, Trump afirmou que um novo acordo com Teerã não será mais preciso, justificando sua posição pela extensão dos danos causados pelos ataques dos EUA e de Israel às instalações nucleares iranianas.

A guerra de quase duas semanas entre Israel e Irã teve como principal objetivo impedir o desenvolvimento de armas atômicas por parte dos iranianos. No entanto, uma análise de inteligência americana divulgada esta semana indica que esse objetivo crucial não foi totalmente alcançado.

As declarações de Trump e a visão da inteligência americana

Ao anunciar a reunião durante a cúpula da OTAN, em Haia, sem fornecer detalhes específicos, Trump argumentou que os ataques americanos foram um golpe devastador para as ambições nucleares de Teerã.

Ele chegou a comparar os bombardeios às bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, no fim da Segunda Guerra Mundial, insistindo que as ações militares fizeram o programa nuclear iraniano retroceder décadas. Essa afirmação, porém, vai de encontro às conclusões da própria agência de inteligência dos EUA.

"Não quero usar o exemplo de Hiroshima, não quero usar o exemplo de Nagasaki, mas foi essencialmente a mesma coisa. Aquilo acabou com aquela guerra. Isto acabou com esta guerra", declarou o líder americano.

Reforço dos Assessores e Detalhes dos Ataques

Parte dos assessores de Trump veio a público para endossar o argumento presidencial.

O diretor da CIA, John Ratcliffe, declarou que informações confiáveis apontavam para danos severos ao programa iraniano, afirmando que "várias instalações teriam de ser reconstruídas ao longo dos anos".

Em manifestação similar, a diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, confirmou que novos dados atestavam a destruição de Natanz, Fordow e Isfahan – as principais instalações atacadas pelos EUA.

Ao lado de Trump em Haia, o secretário de Estado, Marco Rubio, foi o único a fornecer uma referência específica sobre como os ataques haviam atrasado o progresso iraniano por anos, e não apenas meses. Segundo ele, há evidências da destruição de uma "instalação de conversão", crucial para transformar combustível nuclear gasoso na forma necessária para a produção de uma arma atômica.

O governo de Israel também buscou defender a tese dos danos significativos com uma declaração de sua comissão de energia atômica, afirmando que o ataque à central de Fordow "a tornou inoperante".

A reação do Irã e a perspectiva do diálogo

Até mesmo o Irã confirmou que as três instalações atacadas sofreram sérios danos. "Com certeza", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmail Baghaei, em entrevista à TV Al-Jazeera, embora sem entrar em detalhes sobre a extensão dos prejuízos.

Baghaei sugeriu que o Irã pode não bloquear permanentemente os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), mencionando um projeto de lei pendente no Parlamento iraniano que propõe apenas a suspensão, e não o fim absoluto, das interações de Teerã com a agência.

O porta-voz, contudo, insistiu no direito do Irã de desenvolver um programa de energia nuclear. "O Irã está determinado a preservar esse direito sob quaisquer circunstâncias", declarou.

Diplomatas americanos e iranianos têm se encontrado repetidamente nos últimos meses para tentar negociar o futuro do programa nuclear, mas Teerã cancelou uma rodada de negociações após Israel lançar ataques contra o país, em 13 de junho.

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