Artigo | Notícia

Adriano Oliveira: Estamos condenados à polarização?

As visões que permitem a existência do bolsonarismo e lulismo seguirão a existir. Mas não significa que eleitores não possam fazer escolhas diferentes

Por ADRIANO OLIVEIRA Publicado em 22/06/2025 às 7:00

A polarização entre lulismo e bolsonarismo expõe a divisão de visões de mundo. Pesquisas qualitativas da Cenário Inteligência revelam que evangélicos preferem Bolsonaro a Lula. Pessoas de menor renda admiram o lulismo e condenam o bolsonarismo. O presidente Lula é associado como alguém que cuida dos pobres. E Bolsonaro é um presidente que só trabalhou para os ricos.

A polarização entre lulismo e bolsonarismo está presente em virtude de que Lula e Bolsonaro seguem vivos no ambiente político. O lulismo poderia estar fortemente enfraquecido. Contudo, o desempenho de Bolsonaro à frente da presidência da República possibilitou a ressureição do lulismo. Hoje, o presidente Lula e os partidos do centro, e, aqui incluo a direita democrática, podem enfraquecer fortemente o bolsonarismo.

O enfraquecimento do bolsonarismo ou do lulismo não significa que ambos irão sumir da memória do eleitor. Eles seguirão vivos, mas, volto a dizer, enfraquecidos. Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior e Ciro Gomes podem enfraquecer fortemente o bolsonarismo. Basta desprezá-lo na eleição presidencial vindoura. Todavia, Tarcísio e Ratinho, mas principalmente o primeiro, insiste em mencionar Jair Bolsonaro. Em razão disto, o bolsonarismo segue vivo e intenso. Embora, assim como o lulismo, com alta rejeição.

Os políticos são dependentes do lulismo e do bolsonarismo. A esquerda nunca pensou em promover a transição do lulismo para um lulismo atualizado, inovador. O presidente Lula nunca permitiu. Fernando Haddad foi uma tentativa imposta pela conjuntura de 2018. Lula volta em 2022 e insiste em ser candidato em 2026. O presidente da República sabe que as chances da sua reeleição depende do bolsonarismo vivo.

A direita não tem a mínima disposição, até o instante, de se afastar do bolsonarismo, mesmo sabendo que ele tem alta rejeição e que Jair Bolsonaro será condenado e preso pelo STF. A direita insiste porque é míope e acredita que a intenção de votos de Bolsonaro será automaticamente transferida para um dos seus candidatos. É bem verdade que parte será, mas se Michele Bolsonaro for candidata à presidência da República, ela poderá murchar eleitoralmente os candidatos da direita.

As visões de mundo que possibilitam a existência do bolsonarismo e lulismo seguirão a existir. Mas isto não significa que eleitores não possam escolher atores diferentes de Bolsonaro e Lula ou desprezarem determinados ingredientes das visões de mundo na hora do voto. Lembrem da alta popularidade do presidente Lula em 2010. Neste ano, Lula era adorado por todos os segmentos e regiões do Brasil. A chegada de Dilma Rousseff à presidência da República, as manifestações de junho de 2013 e a Lava Jato fizeram com que o lulismo fosse enfraquecido. Mas isto não significa que ingredientes das visões de mundo que hoje sustentam o bolsonarismo não existiam quando Lula era amado por todos.

Por que nas eras Lula 1 e 2, o Brasil não era polarizado, de acordo com as pesquisas eleitorais? A resposta simples é: Porque o bolsonarismo não existia. A resposta complexa e satisfatória não despreza Dilma Rousseff, as manifestações de junho de 2013 e a Lava Jato como variáveis que provocaram a polarização. E vou mais além: A ascensão social dos brasileiros no período Lula (2002 a 2010) mais as políticas sociais, como cotas e Bolsa Família, também possibilitaram a polarização da sociedade. E claro: A ascensão dos evangélicos com a agenda moral.

Em 2026 caminhamos para três tipos de conjuntura eleitoral: 1) Conjuntura 1: Lulismo versus candidato bolsonarizado; 2) Conjuntura 2: Lulismo versus candidato desbolsonarizado; 3) Conjuntura 3: Lulismo versus candidato desbolsonarizado mais candidato bolsonarizado. As conjuntaras 1 e 3 são as mais propícias. Portanto, em 2026 seguiremos polarizados entre lulismo e bolsonarismo. Lembro que na conjuntura 3, o candidato desbolsonarizado, pode surpreender.

Adriano Oliveira, Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência.

 



Compartilhe

Tags