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Ivanildo Sampaio: Foi dada a largada

Tido há muito tempo como um expoente da direita, Ronaldo Caiado, que se lançou candidato à Presidência, sempre foi um porta-voz do agronegócio

Por Ivanildo Sampaio Publicado em 13/04/2025 às 7:03

Foi o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil, quem de forma clara e recado direto se lançou candidato à Presidência da República, nas próximas eleições. Tido há muito tempo como um expoente da “direita”, porta-voz do Agronegócio e dos grandes empresários rurais do Centro-Oeste, muito antes de Jair Bolsonaro alcançar a Presidência da República, Caiado sempre foi um porta-voz do agronegócio, combateu e continua combatendo as ações do MST e de outras instituições, políticas ou culturais, com viés de esquerda.

O próprio MST, perseguido no Governo Bolsonaro, andou meio escondido, mas voltou a praticar suas invasões de terra e destruição de patrimônio, embora com menos intensidade. Com Caiado, o MST não prospera.

É evidente que Ronaldo Caiado tem todo o direito de se colocar como candidato: a maior liderança da direita no País ainda é Jair Bolsonaro, que enfrenta uma carga de acusações, desde a tentativa de golpe de Estado até a apropriação indevida de bens públicos, intercalando aí a venda de joias pertencentes à União. Condenado pela Justiça, Bolsonaro sonha com uma anistia que se apresenta incerta e duvidosa, mas, mesmo assim, se julga dono da faixa presidencial que, se não colocar no peito, quer vê-la com a mulher, Michelle, ou um dos seus filhos, especialmente Eduardo, o Zero-não-sei-quanto, deputado por São Paulo.

Aliás, é este que costuma surgir como “penetra” em algumas aparições desimportantes de Donald Trump, o ídolo de toda a família, depois da morte do guru, Olavo de Carvalho. Bom lembrar o absoluto despreparo de qualquer um deles para ocupar a Presidência da República.

De que se vale, então, o governador Ronaldo Caiado para tentativa tão ambiciosa? Antes de nada, daquilo que foi dito lá atrás: a inelegibilidade de Jair Bolsonaro, fato muito difícil de ser revertido. Além disso, a impopularidade do maior e até agora único candidato da esquerda, que ainda é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Assim como Bolsonaro, Lula parece não ver que a sua popularidade vai derretendo como manteiga na areia quente; que sua gestão é má avaliada sob todos os prismas em que se coloque; que não há mais aquela crença de que o PT é o partido do proletariado; que o Bolsa Família é o cabo eleitoral que alavanca candidaturas. Isso acabou.

Os sindicatos não são mais os “cabos eleitorais” do passado; o ABC Paulista não mais garante eleições de candidatos “da esquerda”; o Estado e a cidade de São Paulo deixaram de votar em candidatos da esquerda, como mostram as últimas eleições. Não que se queira ali xenófobos de direita; negacionistas como alguns fiéis seguidores de Jair Bolsonaro; destemperados como a deputada Carla Zambelli, que de revolver na mão perseguiu avenida afora um desafeto político, e que corre o risco de perder o mandato e pegar “uma cana”. E pergunta-se: Ronaldo Caiado teria o perfil que se exige para um candidato à Presidência?

Um candidato do Centro Oeste, governador de um Estado de pouca relevância política, está pronto para enfrentar os desafios de um país tão dividido politicamente e tão uníssono no desfile de problemas? Lembre-se que lá do Centro Oeste já tivemos dois presidentes da República – e nenhum dos dois deixou uma marca “chamada de sua”, na história de nosso País.

O primeiro foi o marechal Eurico Gaspar Dutra, que imortalizou-se por ter banido, logo depois da posse, o jogo legal no País. Com uma única “canetada”, a pedido da esposa, “Dona Santinha”, que atendia a um apelo do Cardeal do Rio de Janeiro, Dutra fechou os cassinos e todos os tipos de jogos que proliferavam nos centros urbanos nacionais, deixando desempregados mais de 400 mil brasileiros, numa época em que emprego não era uma coisa fácil. O Marechal Dutra era filho do Estado do Mato Grosso, antes daquela imensidão de terras ser repartida em dois Estados. Também do Mato Grosso foi o presidente Jânio Quadros, cuja renuncia inesperada virou o Brasil de cabeça pra baixo, numa crise política que culminou com o golpe militar de 1964.

Claro que não se quer tão triste futuro para Ronaldo Caiado, caso ele consiga a difícil tarefa de vencer o pleito e se tornar Presidente da República. No seu discurso, o Governador coloca como uma das suas prioridades combater a violência – tema simpático em todas as Regiões do País. Mas, é bom lembrar que governadores, como ele, sempre se colocam contra a Presença do Governo Federal na área de segurança, inclusive contra um projeto do Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski – por entenderem que isso seria uma intervenção federal numa área que não lhe compete.

Também é bom lembrar que, além de Caiado, que partiu cedo, existem outros nomes no campo da direita que são considerados potenciais candidatos. Entre eles, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, bem avaliado em seu Estado, embora com um sistema de segurança que mata mais do que prende, e que mesmo assim não consegue reduzir os índices de violência; nem a presença do CCC, nem os assaltos e mortes à luz do dia; Romeu Zema, governador de Minas, pouco conhecido fora do seu Estado, órfão de carisma e viúvo de inteligência, que não seria bem votado no Norte nem no Nordeste.

Zema é defensor de uma divisão do País que isolaria o Norte/Nordeste do Sul e Sudeste, uma tese nazista que é indefensável sob qualquer ângulo que se examine.

Fala-se ainda no governador Ratinho, do Paraná, cujo nome não ajuda e pega mal, diante dos “ratões” que já tivemos... No campo da esquerda, é bom lembrar que o Presidente Lula vai politicamente mal, mas não desiste nem permite que outros nomes surjam no Partido, como acontecia com Fidel Castro, em Cuba, enquanto viveu. Todos esses e os fenômenos surgidos no mundo digital, onde importa o número de seguidores nas Redes sociais – e não as condições, políticas, morais e intelectuais exigidas pela dignidade do cargo, estão aí, no espectro político, para se lançarem ou não, nessa barcaça da esperança.

Portanto, que não se critique nem se condene Ronaldo Caiado: ele é apenas um nome que cresceu dentro de legendas identificadas com teorias “de direita” – hoje muito mais presentes no nosso universo político do que foram antes. E que pode, também, ter voo curto e se tornar apenas uma lembrança na historia da política nacional, assim como, entre outros, Enéas, Garotinho, Leonel Brizola, Ciro Gomes e José Serra, que nunca chegaram lá, mas ajudaram na solidificação de nossa democracia. Na verdade, o jogo da sucessão está apenas começando.

E o governador Ronaldo Caiado selou seu cavalo e deu partida.

Ivanildo Sampaio é jornalista

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