Editorial JC: Investimentos em tempo integral
A precariedade e a defasagem da infraestrutura escolar ainda são os principais desafios a serem enfrentados na rede pública no país

A adoção do tempo integral nas escolas pernambucanas não é apenas uma questão de imediata adaptação curricular. Para que os estudantes fiquem mais horas no ambiente escolar, é preciso uma série de providências que as redes públicas, sobretudo municipais, ainda não conseguiram cumprir.
Como o JC-PE mostrou na edição de domingo, as condições das instalações das unidades escolares, muitas antigas e sem salas apropriadas para atividades complementares, com baixa acessibilidade e pouca tecnologia, ampliam o desafio dos governos para elevar a qualidade do ensino e obter os resultados vinculados à educação de tempo integral.
Para tanto, a primeiro passo é a busca da valorização da escola pelas crianças e adolescentes, pelos pais e responsáveis, associando a maior duração do horário escolar com um ganho para os indivíduos, a família e a sociedade.
Mas talvez a identificação não esteja ocorrendo na medida em que deveria. De acordo com os resultados do Censo Escolar 2024, divulgados na semana passada, o Brasil teve uma redução de 216 mil matriculados na educação básica, em relação a 2023, dos quais cerca de 27 mil a menos somente em Pernambuco.
A precariedade da infraestrutura é apontada por especialistas como um dos obstáculos à implantação do tempo integral em sua plenitude. E há demandas de equidade no atendimento das populações vulneráveis, cujas crianças e adolescentes necessitam de cuidados especiais, em uma visão aberta de inclusão, para que a educação funcione para o redirecionamento da vida.
A ampliação da oferta do tempo integral no ensino médio deve ser acompanhada de indicadores de melhoria do desempenho no aprendizado, que dependem, por sua vez, de investimentos básicos, da merenda para a jornada expandida e a manutenção das bancas e dos instrumentos de ensino, até a formação continuada de professores e demais profissionais na escola. Sem que exista a condição elementar, a adoção do tempo integral representa a expansão de um período de incômodo para os estudantes – tudo o que a jornada expandida não poderia ser.
Os investimentos para mais escolas de tempo integral hão de acompanhar um cronograma de melhoria estrutural sintonizada com as metas de aprendizagem. Não se trata de deixar as crianças e adolescentes por mais horas do dia no ambiente escolar, sem a oferta de serviços essenciais para isso.
As queixas observadas em Pernambuco e em outros estados são pertinentes, e merecem toda a atenção dos gestores públicos compromissados com a educação – em qualquer porção de tempo. Para manter as escolas integrais em desempenho melhor do que as de tempo parcial, as políticas públicas e o apoio da sociedade devem contar com investimentos de vulto, que coloquem a educação no foco dos planos de desenvolvimento nacional.
Para que os nossos jovens possam usufruir de “uma escola que caiba na vida”, na expressão do professor Mozart Neves Ramos, o avanço do tempo integral pede recursos para a modernização estrutural das unidades escolares.
Confira a charge do JC desta segunda-feira (14)