OPINIÃO | Notícia

Ivanildo Sampaio: Abaixo o imperialismo americano

Na sua prepotência, o presidente dos EUA humilhou, para o mundo inteiro ver, o presidente da Ucrania, Volodomir Zelensky, que tenta resistir....

Por Ivanildo Sampaio Publicado em 06/04/2025 às 7:00

Entre as muitas coisas que a ditadura militar extinguiu no nosso país estão as passeatas estudantis, algumas com sua irreverência; outras com suas cobranças, todas elas um reflexo da democracia, que deixou de existir a partir de abril de 1964. A pressão contra as manifestações da juventude começou ainda com o general Castelo Branco, quando o coronel Jarbas Passarinho, Ministro da Educação, implantou um arremedo de Reforma, que começou ruim, piorou nas mãos de seus sucessores - e acabou com o que restava de liberdade no meio estudantil, a partir do AI-5.

Naqueles protestos e naquelas passeatas, havia, sempre, críticas veladas ou diretas ao Sistema, aos costumes, aos governos, aos Estados Unidos e ao "Imperialismo Norte-americano", que se colocavam como "guardiões da democracia" e combatiam os governos "de esquerda" que havia na América do Sul, além da Cuba comunista de Fidel Castro. Mas, para os que protestavam os EUA eram, sim, os indesejados "imperialistas". Nas passeatas dos nossos universitários mais à esquerda, a Usaid era apenas um centro de espionagem; os jovens norte-americanos que integravam o Peace Corps, ou o corpo de Voluntários da Paz", não passavam de agentes da CIA disfarçados; missionários que chegavam na Amazônia eram apenas representantes de grandes cartéis norte-americanos, de olho nas riquezas daquele mundo inexplorado. Alguns dos nossos religiosos, como Dom Pedro Casaldáliga, da Prelazia de São Félix do Araguaia, nome de destaque na Igreja progressista de então - ajudavam a fortalecer a narrativa contra esses "estrangeiros indesejáveis" que ameaçavam nossa soberania.

Outra figura execrada nessas passeatas e manifestações foi a do estrategista militar Herman Kahn, que estudava os efeitos sobre a humanidade de uma possível guerra nuclear, e também falava na ocupação internacional e compartilhada da Amazônia. Eu fico imaginando como atuariam, hoje, aqueles manifestantesde então diante desse Governo de Donald Trump que, como Chacrinha, não chegou para explicar, mas sim pra confundir.

Desde o dia em que tomou posse na Presidência dos EUA, Donald Trump, ao lado de um neonazista chamado Elon Musk, o homem mais rico do mundo, anuncia, a cada dia, projetos e ações que até pouco tempo sequer seriam cogitados num país que já foi exemplo de democracia e ainda é a maior economia do mundo. E Trump faz isso exalando prazer: vai para frente das câmeras e com um caneta mais parecida com um pincel, numa caderneta de capa dura, assina atos que ajudam e desmontar uma máquina publica que movimentou a estrutura administrativa do País ao longo de décadas, com gestões tanto dos democratas quanto dos repulicanos.

Na sua prepotência, o presidente dos EUA humilhou, para o mundo inteiro ver, o presidente da Ucrania, Volodomir Zelensky, que tenta resistir ao retalhamento de seu País pelo ditador russo Vladimir Putim, o novo amigo do peito de Trump; ameaçou transformar o Canadá em mais um Estado norte-americano; quer tomar para si o Canal do Panamá, uma rota marítima que pertence a todos os navios que circulam no mundo; já disse que vai ocupar a Groelândia, de olho de minerais raros que a ilha armazena; assim como também só pensa em tomar conta desses minérios na Ucrânia; convulsiona a economia mundial, com sobretaxas inaceitáveis para países parceiros, trava uma guerra comercial particular com a China, que também é uma potência nuclear e não teme Trumpo; apóia a carnificina que Israel promove na Faixa de Gaza, onde para atingir um provável terrorista do Hamas, bombardeia a população civil matando mulheres, crianças e civis inocentes; sua beligerância, fez com que a Europa voltasse a se armar, temerosa de um conflito com armas atômicas que pode significar o fim de nosso planeta.

Portanto, cartazes pedindo que venha "Abaixo o imperialismo norte-americano", que embalou as passeatas da juventude nos anos sessenta do século passado, teriam muito mais sentido nos dias tumultuados desse século 21. Muitos dos jovens daqueles anos, que criticavam o "Imperialismo americano", Com um viés de esquerda, tornaram-se homens públicos conhecidos e respeitados; bem como os que se colocavam contrários e viam "o lado bom" da solida democracia norte=-americana. De um lado ou do outro, não creio que qualquer manifestante de então pudesse prever que, um dia, os Estados,Unidos se tornariam o exemplo de uma nação egoísta e criticada, que algumas vezes pisa na sua Constituição, construída pelos "Pais da Pátria", - homens em cujo passado e dignidade Donald Trump pisoteia e cospe, colocando seu nome e seu Governo no lado escuro da história.

Ivanildo Sampaio,  jornalista