Paudalho se destaca nacionalmente por ter uma das maiores concentrações de terreiros afro-indígenas do Brasil
Dossiê e documentário mapeiam 19 casas de culto, fortalecendo identidade cultural e enfrentando o racismo religioso no município
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Um levantamento inédito colocou Paudalho, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, no mapa das maiores concentrações de casas de culto afro-indígenas do país.
O "Dossiê Território Ancestral" identificou 19 terreiros em funcionamento, incluindo espaços de Jurema Sagrada, Umbanda, Candomblé e outras tradições afro-indígenas, reunindo textos, fotos, vídeos e geolocalização em plataforma digital de acesso público.
Projeto conduzido por praticantes
O projeto foi idealizado por Jaifalerì, Babalossayn do Ylê Axé Xangô Ayrá, e executado em parceria com a produtora cultural Belisa Alves, Filha de Oxum, e o fotógrafo Edgar Lira, Filho de Ogum. Segundo Jaifalerì:
"Este trabalho é continuidade. É a certeza de que as próximas gerações terão acesso à história que sempre existiu, mas que muitas vezes foi silenciada. A ancestralidade não é passado: é presente e futuro".
A pesquisa percorreu bairros urbanos, comunidades rurais e áreas de difícil acesso, registrando ritos, rezas, folhas, encantarias e tradições herdadas de povos africanos e indígenas. Belisa Alves explica:
"Mapear não é invadir, é proteger. Quando praticantes realizam a escuta, há reconhecimento, confiança e troca de saberes que nenhuma pesquisa distante alcança".
Documentário e registro fotográfico
O fotógrafo Edgar Lira captou mais de 140 imagens oficiais, mostrando lideranças, objetos rituais e espaços sagrados. Parte desse material compõe o documentário "Território Ancestral", disponível gratuitamente no YouTube, ampliando o alcance do projeto.
Os resultados foram apresentados na Mostra Território Ancestral, que reuniu mães e pais de santo, pesquisadores e moradores. Apesar do convite, poucas instituições municipais e estaduais estiveram presentes, apontando desafios de apoio e avanço da intolerância religiosa.
O dossiê completo está disponível para acesso livre em territorioancestral.com.br e também no Instagram do projeto, com bastidores, registros e depoimentos das casas visitadas.