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Grupo Moura se prepara para produzir mil baterias de lítio por mês para veículos híbridos em projeto-piloto no Senai Park

Projeto tem investimento inicial de R$ 20 milhões e parceria com Stellantis, Volkswagen, Iochpe Maxion e Horse. Operação deve começar em 2026.

Por Rodrigo Fernandes Publicado em 20/10/2025 às 11:34

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Com investimento inicial de R$ 20 milhões e capacidade para fabricar até mil unidades por mês em fase de validação, um projeto-piloto de baterias de lítio de baixa tensão para veículos híbridos será instalado no Senai Park, complexo tecnológico do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, inaugurado nesta segunda-feira (20) no Complexo Industrial Portuário de Suape, em Ipojuca, no Grande Recife.

O projeto funcionará de forma compartilhada entre empresas reunidas no consórcio que foi contemplado no Edital Rota 2030 – Projetos Estruturantes, cuja composição é liderada pela Baterias Moura e envolve as gigantes do setor automotivo Stellantis (que detém marcas como Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën), Volkswagen, Iochpe Maxion e Horse (fábrica de motores da Renault).

A iniciativa, de acordo com a equipe técnica, pretende “tropicalizar” a tecnologia, incorporando inteligência produtiva e autonomia industrial à cadeia brasileira.

Toda a estrutura foi modelada e digitalizada com base em tecnologias de digital twin — um gêmeo digital que simula, em tempo real, o comportamento da linha produtiva. Ao todo, serão 20 contêineres enviados da China, onde a linha está atualmente em fabricação, com chegada prevista ao Brasil entre dezembro e janeiro.

A instalação começará já no primeiro trimestre de 2026, quando a linha deve entrar em operação. A partir disso, terá início a segunda fase do projeto, com integração digital das máquinas para monitoramento e otimização dos processos.

A meta é produzir lotes pioneiros para testes, certificação e validação pelas montadoras parceiras, em um movimento que pretende reduzir a dependência total de importação desse tipo de bateria, hoje fabricada majoritariamente na Ásia.

Reprodução/Senai Park
Ilustração mostra linha de produção de projeto-piloto de baterias de lítio do Grupo Moura no Senai Park - Reprodução/Senai Park

A Moura, como empresa âncora, coordena o desenvolvimento tecnológico e a nacionalização gradual da cadeia produtiva, com o objetivo de posicionar Pernambuco como polo estratégico na transição energética veicular.

Segundo projeções apresentadas no evento, o mercado brasileiro de veículos híbridos deve crescer de forma acelerada até 2030, e aproximadamente 45% da frota produzida no país poderá incorporar algum nível de eletrificação. Desse total, cerca de 30% deve utilizar baterias de baixa tensão (12V/48V), como as que serão desenvolvidas no Senai Park.

O conceito do projeto prevê que o conhecimento técnico inicial seja compartilhado entre todas as empresas envolvidas, especialmente na etapa de desenvolvimento comum do produto e do processo produtivo. No entanto, a partir do momento em que linhas específicas forem implantadas para modelos das montadoras parceiras, a propriedade intelectual passa a ser individualizada.

Divulgação/Fiepe
Linha de produção de baterias da Moura será instalada em galpão do Senai Park, no Complexo Industrial Portuário de Suape - Divulgação/Fiepe

'Baterias terão papel mais estratégico nos veículos'

O diretor de Operações de Lítio da Moura, Spartacus Pedrosa, explica que, com o avanço da eletrificação automotiva, a bateria passa a ocupar um papel ainda mais estratégico dentro dos veículos. Segundo ele, não se trata mais apenas de um componente de suporte, mas de um elemento ativo na performance dos sistemas híbridos.

“A bateria passa agora, com os veículos eletrificados, a ocupar uma cadeia de ainda maior destaque dentro do veículo, porque ela passa a ajudar na tração, na eficiência energética e na redução da pegada de carbono”, afirmou em entrevista realizada no Senai Park, na última sexta-feira.

Para o executivo, a adoção dessa tecnologia deverá crescer rapidamente no Brasil ao longo dos próximos anos. Ele projeta que “até o final dessa década, entre 30% a 40% dos veículos produzidos no Brasil estarão dotados dessa tecnologia”.

DIVULGAÇÃO
Diretor de Operações de Lítio da Moura, Spartacus Pedrosa - DIVULGAÇÃO

Pedrosa observa, no entanto, que este é um desafio global, já que a cadeia de células de lítio é fortemente concentrada na China. A BYD, por exemplo, montadora que recentemente inaugurou uma planta na Bahia, possui sua própria linha de produção da baterias.

O grande desafio das indústrias brasileiras, portanto, é dominar o processo de transformação dessa matéria-prima em produtos finais alinhados com as demandas das demais montadoras instaladas no país.

“Esse acelerador de tecnologia que a gente tá trazendo para o Brasil vai permitir que nossos engenheiros, pesquisadores e operadores sejam treinados nessa tecnologia”, explica. A ideia é que, quando houver demanda em escala, o país já tenha capacidade instalada e conhecimento técnico para responder com agilidade.

Spartacus defende que, para o estágio atual da indústria, o modelo mais viável é o de importação das células e produção dos módulos e baterias em território nacional. Ele pondera que, embora o Brasil tenha reservas de lítio, ainda não há justificativa econômica para a instalação de uma planta de produção de células em larga escala, dado o volume de investimento necessário. “Hoje o mercado não justifica. Os investimentos são bilhões e bilhões de dólares para construir uma planta como essa”, diz.

Apesar disso, o diretor da Moura acredita que esse cenário pode mudar à medida que o mercado se consolidar. Segundo ele, “a partir do momento que essa demanda se aproxima, obviamente a indústria local vai responder”.

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