Economia | Notícia

Dia do Nordestino: "O Banco do Nordeste não pode perder de vista a inclusão social", diz Paulo Câmara

Em entrevista ao JC, o presidente do BNB comenta a estratégia de crescimento do banco e a determinação do presidente Lula de incluir o social

Por JC Publicado em 08/10/2025 às 8:00

Clique aqui e escute a matéria

Em 2023, quando assumiu a presidência do Banco do Nordeste, Paulo Câmara, recebeu do presidente Lula a incumbência de devolver à instituição o protagonismo perdido. A responsabilade incluía fortalecer a instituição, estimular novos investimentos e, principalmente, ser instrumento de promoção social para a população. O resultado se reflete nos números e na vida das pessoas.  

Jornal do Commercio - Quando o senhor assumiu, em 2023, o presidente Lula pediu para o Banco do Nordeste recuperar o protagonismo. Dois anos depois, o que mudou no BNB e para quem precisa de crédito no Nordeste?

Paulo Câmara - Desde que o presidente Lula assumiu o governo e delegou a missão de trazer o Banco do Nordeste de volta ao seu papel de destaque no Brasil, nós estamos conseguindo fortalecer a instituição, estimular novos investimentos e, principalmente, ser instrumento de promoção social para a população. Quando comparamos os resultados de 2024 com 2022, vemos um salto de quase 14% no número de operações e de mais de 33% no valor contratado. Foram R$ 61,2 bilhões em financiamento no ano passado. Todo esse volume de recursos se desdobra em oportunidades de emprego e renda. Segundo o nosso Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste, o Etene, os financiamentos que o BNB realizou em 2024 geraram ou ajudaram a manter mais de 580 mil oportunidades de trabalho, o que impactou em R$ 8,4 bilhões na massa salarial. É justamente essa a orientação do presidente Lula: o Banco do Nordeste precisa crescer e se fortalecer, mas sempre com inclusão social.

Participação do Nordeste no PIB nacional

JC - A região tem 27% da população brasileira, mas só responde por 13,8% do PIB nacional. O PIB per capita da região também é baixo. O que falta para o Nordeste crescer mais e como o BNB pode ser uma alavanca para reduzir essa distância?

PC - A economia do Nordeste já vem crescendo acima da do Brasil. Em 2024, por exemplo, os levantamentos mostraram um aumento do produto interno bruto (PIB) de 3,8% para o Nordeste contra 3,4% da média do país. Mas a região possui ainda muita oportunidade para crescer ainda mais. Em muitos momentos da história, o Nordeste recebeu menos recursos do que deveria, basta ver como foi na gestão passada do Governo Federal. Isso deixou a região com um déficit de infraestrutura que dificulta a atração de novos investimentos. Mas desde que o presidente Lula reassumiu, estamos recebendo mais recursos. A exemplo do Novo PAC: o Nordeste concentra 41% das obras previstas. Em junho, nós divulgamos a Chamada Nordeste, uma importante ação conjunta para atrair investimentos para a região, e a resposta do setor privado demonstra o quanto a região tem a crescer. Houve cadastro de 246 projetos que somam R$ 127,8 bilhões em propostas. Os dados preliminares de 2025 também apontam para um crescimento regional acima do nacional e a indústria em destaque, consequência direta do projeto Nova Indústria Brasil.

Infraestrutura como base

JC - Grandes obras de infraestrutura são essenciais para atrair empresas, sobretudo em um cenário de fim dos incentivos fiscais (ICMS) em um futuro próximo. Qual tem sido a participação do BNB no financiamento desses projetos? Que setores são prioridade hoje?

PC - A atual gestão do Banco do Nordeste voltou a dar atenção aos projetos de infraestrutura. Em 2022, último ano da gestão anterior, o BNB contratou R$ 6,4 bilhões. De 2023 a agosto deste ano, nós contratamos R$ 25 bilhões. Nós estamos presentes nos principais projetos de portos, aeroportos no Maranhão, Ceará, Bahia e aqui em Pernambuco, bem como estradas em Minas Gerais.

Transição energética

Divulgação
Geração de Energia Eólica. - Divulgação

JC - O Nordeste é líder no processo de transição energética no País, com energia eólica, solar e a perspectiva do hidrogênio verde. Como o BNB está contribuindo com o avanço dessa transição?

PC - O Banco do Nordeste é o maior financiador da energia renovável na sua área de atuação e um dos principais vetores da transição energética no Brasil. Nos últimos dez anos as contratações somaram cerca de R$ 42,7 bilhões. Esses recursos foram aplicados tanto em grandes projetos de infraestrutura como nos pequenos consumidores residenciais. O Nordeste passou a exportar energia limpa. Foi o início da transição energética. Mas o potencial é muito maior. A capacidade eólica onshore, que mede a geração efetiva nos projetos, é de 43,3% no Nordeste, acima da média brasileira, que é de 40,8%, e da mundial, que fica em 34%. Em energia solar também ficamos à frente. Nesse processo de transição energética, o futuro passa pelo hidrogênio verde. E o Banco do Nordeste está acompanhando de perto esse mercado que deve crescer de forma exponencial até 2050. A previsão é que em 25 anos estejam sendo gerados 450 milhões de toneladas movimentando US$ 450 bilhões por ano.

JC - O senhor tem defendido que não basta financiar a geração de energia, mas também a transmissão... 

PC - A transmissão de energia apresenta alguns gargalos dentro do sistema elétrico nacional e essa dificuldade é ainda maior no Nordeste. A região está gerando cada vez mais, entretanto é preciso transmitir essa energia até os centros consumidores. O BNB está olhando para esse segmento com muita atenção porque temos interesse que a energia gerada no Nordeste gere negócios na própria região.Temos potencial, por exemplo, para atrair grandes data centers que buscam energia limpa e renovável. 

Microcrédito e impacto social

JC - O Crediamigo e o Agroamigo são símbolos do banco. Quais mudanças recentes fizeram esses programas crescerem tanto?

PC - Tanto o Agroamigo, que é o microcrédito do BNB para os produtores rurais, quanto o Crediamigo, que atende os pequenos negócios nas cidades, tem impacto na base da economia. Como diz o presidente Lula, “muito dinheiro nas mãos de poucos é concentração de renda. Pouco dinheiro nas mãos de muitos é distribuição de renda”. O que estamos fazendo na atual gestão é levar o crédito para os microempreendedores de forma rápida e acessível. Investimos na ampliação da rede atendimento, na digitalização do processo de abertura de crédito e na redução da taxa de juros para avançar ainda mais no segmento microcrédito.

Parcerias e novos investimentos

JC - O banco tem buscado parcerias com instituições internacionais para ampliar recursos. Que tipo de investimento externo o Nordeste pode esperar nos próximos anos? Existe interesse estrangeiro em financiar projetos de energia limpa ou de infraestrutura urbana na região?

PC - A economia como um todo na nossa área de atuação, que inclui parte de Minas Gerais e Espírito Santo, além de todo o Nordeste, possui um grande potencial de crescimento. As demandas previstas para a região são bem superiores à oferta de crédito, como ficou demonstrado na Chamada Nordeste. Para aumentar essa oferta, o BNB tem buscado parcerias com instituições de crédito nacionais e internacionais. O resultado é que estamos em processo de captação de quase R$ 10 bilhões com agências internacionais, como AFD, BID, NDB, Bird, KFW e CAF. Entre os objetivos das parcerias estão descarbonização da indústria, saneamento, abastecimento de água e fomento ao empreendedorismo feminino. 

Água e saneamento

JC - O saneamento é um dos grandes desafios do Nordeste. Desde que o banco voltou a financiar essa área, quais projetos já receberam apoio e qual é a meta para os próximos anos? Como o senhor enxerga o papel do banco na meta de universalizar o acesso à água tratada e ao esgoto?

PC - Nosso olhar para a infraestrutura tem dois objetivos muito claros que se completam: estimular a economia da região e provocar impacto social. Estamos investindo em áreas que estavam praticamente esquecidas. O saneamento básico é um exemplo disso. De 2019 a 2022, o BNB havia financiado R$ 480 milhões. Em apenas dois anos, nós financiamos R$ 4,35 bilhões. Um aumento de 910%. A região Nordeste possui um grande déficit em saneamento e quando investimos nessa área estamos oferecendo mais saúde e qualidade de vida. Isso se reflete na própria economia com uma população ativa e saudável.

Balanço e metas do FNE

JC - O Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) é a principal fonte de crédito do banco. Qual foi a evolução das contratações nos últimos anos e qual é a meta até o fim da sua gestão? Em quais áreas o FNE deve concentrar mais recursos nos próximos anos?

PC - A evolução do FNE, nesses últimos dois anos, está sendo muito grande. De 2019 a 2022, a média anual de contratações do Fundo foi de R$ 28,3 bilhões. Em 2023 e 2024, essa média foi de R$ 44,3 bilhões. Este ano, até agosto, foram mais de R$ 33 bilhões. Para o próximo ano, a programação do FNE é R$ 52,6 bilhões, um valor 11,1% maior do que em 2025. Além de contratarmos mais, aumentamos o percentual destinado a públicos prioritários para 62%. São R$ 32,6 bilhões. Lembrando que no governo passado, o público prioritário (micro, pequenos e pequeno médios empreendedores) era de 51% do total de contratações. 

Perspectivas e legado

JC -  Em 2023, o banco bateu recorde de contratações de crédito. Quais são as metas até 2026 para manter esse ritmo? Quando encerrar sua gestão, qual legado o senhor gostaria de deixar?

PC - O principal objetivo é cumprir a determinação do presidente da República que nos orientou a fazer o banco crescer. Os números são bem claros em mostrar que esse objetivo já foi alcançado. Saímos de um patamar de R$ 44 bilhões por ano em contratações em 2022 e devemos fechar 2025 próximo de R$ 70 bilhões. Além das contratações todos os nossos resultados são recorde: seja de desembolsos, seja do lucro, seja da menor inadimplência já anotada nos 73 anos de existência do BNB. É importante destacar ainda que estamos atuando em conjunto com os demais bancos públicos e isso tem ampliado a oferta de crédito. Mas acho que o principal legado que deixaremos é um maior protagonismo do BNB no cenário nacional. Cuidamos das nossas metas imediatas e fomos além nos inserindo em ações diretas com os ministérios, como por exemplo, a Nova Indústria Brasil e o Programa Acredita no Primeiro Passo no qual o Banco do Nordeste é o principal parceiro do Ministério do Desenvolvimento Social para levar crédito aos inscritos no CadÚnico. Voltamos a operar de maneira relevante com os estados, em projetos de saneamento e abastecimento de água, ampliamos os recursos voltados para cultura e projetos sociais, enfim, fortalecemos como nunca essa grande instituição chamada BNB.

Compartilhe

Tags