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Tarifa Trump: Setor produtivo pede mais prazo e cautela contra taxa de 50% dos EUA

Empresários e governo brasileiro unem forças para negociar com Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e evitar mais prejuízos

Por Estadão Conteúdo Publicado em 15/07/2025 às 22:31

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O governo federal dedicou esta terça-feira a intensas reuniões com empresários e líderes da indústria e do agronegócio, buscando uma frente unida contra a ameaça do presidente americano Donald Trump de impor uma tarifa de importação de 50% sobre produtos brasileiros.

A magnitude da preocupação é palpável: cerca de 40 representantes de setores-chave, do presidente da Fiesp, Josué Gomes, ao presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, e líderes do café, laranja e exportadores de carne, participaram dos encontros liderados pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.

O desafio da negociação e o prazo exíguo

O consenso emergente das conversas é claro: a negociação é a única saída para o Brasil. Alckmin, que também é ministro da Indústria e Comércio, reiterou que o governo está empenhado em flexibilizar o prazo estabelecido pelos Estados Unidos – 1º de agosto – para a aplicação das tarifas. "O prazo é exíguo, mas vamos trabalhar para dar o máximo nesse prazo", afirmou o vice-presidente após a reunião matinal com o setor produtivo.

A proposta do empresariado é ambiciosa: conseguir pelo menos mais 90 dias para a discussão. Segundo Alckmin, os empresários brasileiros atuarão em conjunto na tentativa de pressionar por uma prorrogação, embora a meta do governo seja resolver a questão até 31 de julho.

"Então, o governo vai trabalhar para tentar resolver e avançar nesse trabalho nos próximos dias", reiterou à tarde. No entanto, é visível que a tarefa de convencer Trump a recuar com argumentos convencionais será árdua.

Os EUA mantêm um superávit comercial com o Brasil (vendem mais do que compram), e o próprio Trump já deixou claro que a retaliação possui motivações políticas, não comerciais. Ao anunciar a tarifa de 50% na semana passada, ele ligou a taxação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF, classificando-o como "caça às bruxas" e reiterando seu apoio a Bolsonaro.

Quando questionado sobre o patamar elevado da tarifa brasileira, Trump foi categórico: "(Taxei) Porque eu posso fazer isso". O governo brasileiro, por sua vez, não cogita qualquer interferência no Poder Judiciário.

O impacto das tarifas e a estratégia de cautela

O tom das discussões em Brasília foi de extrema cautela. Executivos presentes no encontro com o setor industrial destacaram o consenso de que a diplomacia deve ser priorizada, mesmo que a ofensiva tarifária comece a valer em agosto.

José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), alertou que a indústria brasileira não tem mercados alternativos para os produtos atualmente vendidos aos americanos. "Se nós perdemos a exportação para os Estados Unidos, não tem como substituir com exportações para outros mercados."

Diante desse cenário, a retaliação não foi sequer cogitada. "Não foi falado em momento algum, nem pela parte privada nem pelo governo. Nada em relação à retaliação. O objetivo parece unânime ali. De negociar à exaustão", afirmou Velloso.

Os números revelam a gravidade da situação: Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer, estima que a tarifa de 50% pode significar um impacto de cerca de R$ 50 milhões por aeronave, resultando em perdas de receita de aproximadamente R$ 2 bilhões em 2025 e R$ 20 bilhões até 2030. "A taxa de 50% é praticamente um embargo. Esse patamar inviabilizaria as operações da Embraer nos EUA", sentenciou.

No setor do agronegócio, o cenário é similar. Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), confirmou que a tarifa de 50% inviabiliza as vendas para o mercado americano, com frigoríficos já paralisando a produção destinada aos EUA. "Nossa sugestão de imediato é, se possível, uma prorrogação do início dessa taxação porque existem contratos em andamento e não há tempo hábil de desfazê-los", destacou Perosa.

Protagonismo paulista em meio à crise

Paralelamente às reuniões em Brasília, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também convocou um encontro com empresários na capital paulista.

A presença do encarregado de negócios da embaixada americana no Brasil, Gabriel Escobar, fez com que o movimento fosse interpretado por muitos como uma tentativa de Tarcísio – apontado como potencial candidato à Presidência em 2026 – de disputar o protagonismo na crise.

O evento em São Paulo reuniu nomes como Paulo Skaf, ex-presidente da Fiesp, e o diretor administrativo da Indusparquet, José Antônio Baggio, além de representantes da Embraer, Usiminas, Cosan e outras 13 empresas e associações de diversos setores, incluindo café, máquinas, carne, citricultura, energia, papel e celulose, madeira, transporte de cargas e setor sucroalcooleiro.

Em nota, o governo de São Paulo reforçou "seu compromisso com o produtor, empresários e agronegócio paulista", sinalizando sua participação ativa na busca por soluções para a ameaça tarifária.

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