Privatização | Notícia

Eletrobras completa três anos de privatização com avanços operacionais, mas ações patinam

Redução de custos e aumento de investimentos marcam a Eletrobras privada, mas o valor das ações segue abaixo do esperado, impactado por vários fatores

Por Estadão Conteúdo Publicado em 14/06/2025 às 8:58

A Eletrobras chega aos seus três anos como empresa privada com um balanço de conquistas operacionais e de gestão, mas ainda enfrenta o desafio de destravar o valor de suas ações no mercado. A gigante do setor elétrico, privatizada em 2022, celebrou entregas significativas, incluindo uma redução de 18% nos custos operacionais (PMSO) e de 27% no quadro de funcionários. A companhia também conseguiu diminuir mais de R$ 13 bilhões em passivos de empréstimos compulsórios e elevou o ritmo de investimentos, passando de R$ 4,6 bilhões em 2021 para R$ 7,7 bilhões em 2024.

Mesmo com esses avanços, o desempenho das ações não correspondeu às expectativas iniciais. Os papéis ordinários eram negociados recentemente a R$ 41,03, um valor abaixo dos R$ 42 precificados na oferta de capitalização. Na época da privatização, analistas projetavam preços-alvo entre R$ 60 e R$ 70 por ação, expectativa que ainda não se concretizou.

Diversos fatores contribuem para a estagnação dos papéis. A conjuntura atual do setor elétrico, marcada por uma sobreoferta de energia, impacta diretamente o preço do megawatt-hora (MWh), em um período em que a Eletrobras possui crescentes volumes de energia descontratada. O cenário macroeconômico adverso também pesa, segundo especialistas.

A ação direta de inconstitucionalidade (ADI) movida pelo governo Lula em maio de 2023 no Supremo Tribunal Federal (STF), questionando a limitação do poder de voto da União, é outro ponto crucial. Para Vitor Sousa, da Genial Investimentos, essa medida levou a empresa a postergar ações de melhoria mais "polêmicas", como a incorporação de subsidiárias (Chesf e Eletronorte) e cortes de pessoal mais profundos. Ele avalia que, apesar do acordo favorável com a União – que manteve o limite de 10% de poder de voto para o governo, concedendo mais assentos no conselho –, “ficou um gosto amargo” no mercado.

Analistas como João Pimentel, do Citi, alertam para o risco político contínuo, já que a União permanece como acionista com mais de 40% do capital total. Isso exige que a Eletrobras navegue suas relações com o governo tanto como acionista quanto como autoridade reguladora, podendo influenciar decisões estratégicas e de alocação de capital.

Outra perspectiva, de Bernardo Viero da Suno Research, aponta que a falta de valorização das ações está ligada ao atual momento do mercado acionário, ofuscado pela renda fixa devido às elevadas taxas de juros. Já Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, destaca um "percalço" no primeiro trimestre de 2025 relacionado à estratégia de comercialização da companhia, mas mantém a visão otimista de longo prazo devido à alta dos preços futuros de energia.

A descotização, processo gradual de liberação de energia para comercialização no mercado livre, inicialmente vista como um grande impulso, também foi impactada. Wellington Senter, da Fitch Ratings, lembra que o cenário de preços futuros de energia se alterou significativamente, impulsionado pelo crescimento da geração solar distribuída, que intensificou a sobreoferta de eletricidade no país. Embora a Eletrobras tenha entregado o que estava sob seu controle, fatores externos, como o cenário de preços, têm sido mais determinantes. A Fitch, inclusive, alterou recentemente a perspectiva do rating da companhia de negativa para neutra, embora a classificação ainda esteja abaixo da nota soberana do Brasil.

Compartilhe

Tags