Grande dama da dança africana, Germaine Acogny revisita suas origens em espetáculo no Recife
Performance gratuita terá apresentação única no Teatro de Santa Isabel, neste domingo (26), encerrando Festival de Teatro do Agreste
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Considerada a grande dama da dança contemporânea africana, a senegalesa Germaine Acogny construiu uma vida inteira dedicada a resgatar ancestralidades. Aos 81 anos e com mais de cinco décadas de carreira, ela segue transformando o corpo em instrumento de memória por meio do movimento.
No espetáculo "À un Endroit du Début", a artista retorna às suas origens sob o prisma da tragédia grega. É, como ela define, um desejo de "voltar a algum lugar do começo, ao lugar de onde venho, aos ancestrais, àqueles que me acompanham".
A performance terá apresentação única no Recife, no Teatro de Santa Isabel, neste domingo (26), encerrando o Feteag – Festival de Teatro do Agreste, dentro da programação do Festival Internacional de Dança do Recife. A entrada é gratuito, com a contribuição de 1 kg de alimento não perecível.
Das raízes à invenção do corpo africano contemporâneo
Nascida em 1944, no Benin, Germaine Acogny mudou-se para o Senegal ainda criança, por volta dos cinco anos. Jovem, seguiu para a França, onde estudou Educação Física
O retorno à terra foi também um mergulho em si mesma: ela passou a investigar, com rigor e sensibilidade, as sabedorias corporais herdadas de seus ancestrais, fundamentos que viriam a se tornar a espinha dorsal de sua pesquisa artística.
Em suas criações, estão presentes os elementos centrais das danças africanas: a música como extensão do corpo, o gesto em diálogo com o tempo e o espaço, e a profunda conexão com a natureza.
Na década de 1970, com a independência do Senegal, Germaine foi nomeada diretora artística da Mudra Afrique, uma escola de dança pan-africana fundada em parceria com Maurice Béjart e Léopold Sédar Senghor. O projeto simbolizava a afirmação de uma política cultural do Estado-nação senegalês, buscando uma unidade simbólica entre as expressões do continente.
Quando a Mudra Afrique encerrou suas atividades, Germaine seguiu perseguindo um sonho: criar um centro que reunisse a tradição e a contemporaneidade das danças africanas. O projeto se concretizou em 1998 com a fundação da École des Sables, em Toubab Dialaw, no Senegal — hoje uma das principais referências internacionais de formação e pesquisa em dança africana.
Um retorno às origens pela via da tragédia
O espetáculo "À un Endroit du Début" nasce da colaboração com o diretor franco-alemão Mikaël Serre e se constrói como um autorretrato em movimento. Nele, Germaine aproxima as palavras proféticas de sua avó, a sacerdotisa Aloopho, do mito trágico de Medeia, figura clássica da dramaturgia grega marcada pela dor e pela força.
Entre mito e autobiografia, são intensificados pelos elementos cênicos e visuais, como projeções e sons, e pela gestualidade precisa da artista, que articula danças tradicionais africanas e técnicas contemporâneas aprendidas em Nova York nos anos 1970.
A própria Mudra Afrique, criada em 1977, já vislumbrava esse diálogo entre o local e o universal. A escola pretendia desenvolver uma dança africana que pudesse ser experimentada "por todos os homens de todas as civilizações", unindo raízes e modernidade.
Ao longo de sua trajetória, Germaine Acogny recebeu inúmeros reconhecimentos internacionais, entre eles o Leão de Ouro da Bienal de Dança de Veneza, em 2021, pelo conjunto de sua obra e sua contribuição à linguagem da dança no mundo.
SERVIÇO
"À un endroit du début", com Germaine Acogny
Onde: Teatro Santa Isabel (Praça da República, s/n, Santo Antônio)
Quando: neste domingo (26), às 19h
Quanto: Gratuito, com a contribuição de 1 kg de alimento não perecível
Mais informações: www.feteag.com.br e @feteag (Instagram e Facebook)