'Morei no Pina na infância e lembro muito do frevo', diz Marco Nanini, que volta ao Recife com peça
"Traidor", de Gerald Thomas, cumpre temporada da sexta (17) ao domingo (19), no Teatro Luiz Mendonça: 'Quando é ao vivo, tudo pode acontecer'

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Com mais de 60 anos de carreira no teatro, Marco Nanini já não sente frio na barriga antes de subir ao palco. "Não mais. Agora eu já conheço toda a história, como é o palco. São muitos anos em cima desse tablado, certo?", diz o ator em entrevista ao JC, no hotel onde está hospedado no Recife.
Nanini retorna à capital pernambucana com o espetáculo "Traidor", escrito e dirigido por Gerald Thomas, para uma temporada de três noites — sexta (17), sábado (18) e domingo (19) — no Teatro Luiz Mendonça, na Zona Sul da cidade.
Recifense de nascimento, o ator viveu os primeiros anos da infância na cidade antes de se mudar por conta do trabalho do pai, que era gerente de hotéis. "Me identifico com o Recife por causa da família pernambucana. Minha mãe e toda a família dela, que não sei mais onde estão. Acho que já morreram", comenta, ao ser questionado se ainda se considera pernambucano.
"Morei no Pina quando era garoto e me lembro de muitas situações, como o frevo, que chama muita atenção, principalmente das crianças, talvez pelas cores que traz. E também de todas as coisas históricas do Recife, que são muito bonitas. Do Recife, como se diz, certo?", completa, rindo.
Um cruzamento entre Kafka e Shakespeare
Gerald Thomas, autor e diretor radicado em Nova York, define Traidor como "um cruzamento entre Kafka e Shakespeare". Na peça, Nanini interpreta um homem isolado em uma ilha, acusado de um crime que não cometeu. O personagem dialoga com a própria consciência, com seus fantasmas e com reflexões sobre o passado.
"Acredito que essa peça não tenha uma mensagem específica, porque é cheia de histórias, e o espectador pode se identificar com uma ou com outra. Se houver uma mensagem, que seja livre. Que cada um pense como quiser", reflete o ator.
Ele também compartilha parte do processo de criação do personagem: "Você precisa se identificar de alguma forma para criá-lo. O personagem vem bruto, escrito, e você estuda aquilo para ver as emoções que vai dar. Depende muito do ator também", explica.
"São técnicas que a gente aprende. Fiz escola de teatro, e são mais de 60 anos nessa história. Então você vai construindo as coisas, e às vezes até acrescenta ou tira algo, porque é ao vivo. Tudo pode acontecer."
Reencontro com Gerald Thomas
Apesar da liberdade em cena, Nanini não interferiu no texto, que funciona como uma espécie de continuação de "Um Circo de Rins e Fígados", montagem que também reuniu ator e diretor há 20 anos.
"Confio muito nele e acho tudo o que ele escreve muito interessante. O Gerald continua com a mesma loucura de 20 anos atrás. É sempre instigante, porque ele é cheio de imaginação", comenta.
A peça já havia passado pelo Recife no ano passado, durante o Festival Recife do Teatro Nacional, quando Nanini foi homenageado no Cineteatro do Parque.
"Adoro o Parque porque é muito próximo do público, a gente se dá muito bem lá. É confortável e agradável. O Santa Isabel também. O Guararapes é muito grande, mas também é confortável. Agora é a minha primeira vez no Luiz Mendonça", diz.
SERVIÇO
"Traidor", com Marco Nanini
Onde: Teatro Luiz Mendonça (Av. Boa Viagem, S/N, Boa Viagem, Recife)
Quando: 17 a 19 de outubro de 2025, de sexta e sábado, às 20h; domingo, às 19h
Quanto: R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia-entrada), à venda no teatroluizmendonca.byinti.com e na bilheteria do teatro.