Por que assistir 'Pssica', minissérie brasileira da Netflix sobre crime e tráfico humano na Amazônia
Nova produção de Quico ("Irmandade") e Fernando Meirelles ("Cidade de Deus") desloca trama policial para as águas de Belém do Pará

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Um país de dimensão continental como o Brasil possui inúmeras possibilidades de narrativas e paisagens para o audiovisual, algo nem sempre explorado devido à forte concentração das produções no eixo Rio-São Paulo.
A minissérie "Pssica", que estreou nesta quarta-feira (20/08) na Netflix, dirigida por Quico Meirelles ("Irmandade") e produzida por Fernando Meirelles ("Cidade de Deus"), evidencia isso ao levar um enredo de crime organizado e tráfico humano para os cenários de Belém do Pará, alternando entre periferias urbanas e regiões ribeirinhas.
O JC assistiu aos dois primeiros episódios (de um total de quatro), nos quais já é possível perceber o ritmo eletrizante característico das séries policiais e de facções criminosas produzidas pela O2, responsável por títulos como Cidade de Deus (quatro indicações ao Oscar), Irmandade (também da Netflix) e Cangaço Novo (Prime Video).
Pssica na Netflix: Conheça os personagens principais da série
Inspirada no livro homônimo do escritor Edyr Augusto, a minissérie tem roteiro de Bráulio Mantovani (indicado ao Oscar por "Cidade de Deus") e produção de Andrea Barata Ribeiro, em parceria com Fernando Meirelles.
O enredo acompanha três personagens atravessados pela "pssica", gíria do Norte do Brasil que significa azar, maldição ou má sorte. São eles:
- Janalice (Domithila Cattete) é uma jovem que, após ter um vídeo íntimo vazado na internet, vai morar com a tia, mas acaba sequestrada por uma rede de tráfico humano que atua na fronteira com a Guiana Francesa.
- Preá (Lucas Galvino) é herdeiro de uma quadrilha que assalta barcos na Amazônia, conhecidos como “ratos d’água”, mas tem sua liderança contestada por parceiros do crime.
- Mariangel (Marleyda Soto), uma colombiana em busca de uma nova vida no Brasil, muda seus planos ao decidir vingar a morte da família, assassinada pelos criminosos das águas.
Essas três trajetórias se entrelaçam em um roteiro sagaz e envolvente, no qual um personagem pode se tornar tanto o algoz quanto o salvador do outro.
Estilo e visual de Pssica: câmera, fotografia e trilha sonora da série da Netflix
Apesar de estar ligada à tradição do audiovisual brasileiro pela assinatura da O2, a série ousa no experimentalismo, inserindo toques levemente psicodélicos em determinadas sequências – muito em função do esoterismo que envolve a palavra "pssica".


O trabalho de câmera combina leves distorções, criando uma sensação constante de tensão. Em várias cenas, frases curtas surgem em cores vibrantes na tela, criando pontes entre literatura e imagem de maneira inventiva.
A fotografia também se destaca ao acompanhar os barcos, transmitindo a sensação de que toda a narrativa se move como as águas da Amazônia. A trilha sonora, por sua vez, transita do brega tocado em bares ao carimbó de Dona Onete.
Elenco de Pssica: destaques e participação de atores pernambucanos
O elenco também se mostra afiado, com destaque para Domithila Cattete e Marleyda Soto, atriz que ganhou projeção internacional após Cem Anos de Solidão.
Também estão presentes nomes como David Santos, Welket Bungué, Bruno Goya, Maycon Douglas e os pernambucanos Ademara – que interpreta uma usuária de crack que se torna aliada de Janalice – e Sandro Guerra, no papel de um policial aposentado em busca da sobrinha desaparecida.
Temas de Pssica: crime, tráfico humano e questões sociais na série da Netflix
Os temas abordados são densos e perturbadores, sobretudo o tráfico de menores para exploração sexual na Ilha do Marajó – assunto que vez ou outra retorna à mídia e que recentemente foi tratado no longa Manas, de Mariana Brennand.
"Pssica" revela feridas sociais do Brasil ao mesmo tempo em que entrega um entretenimento de qualidade. Uma obra para ser maratonada.