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Sem proteção do Estado após pedidos de socorro, mulher é vítima de feminicídio no Grande Recife

Priscila Carla Pimentel foi assassinada a facadas na tarde da terça-feira (9). Ex-marido foi preso pelo crime, ocorrido no bairro de Cajueiro Seco

Por Raphael Guerra Publicado em 10/12/2025 às 10:11 | Atualizado em 10/12/2025 às 14:56

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Não faltaram pedidos de socorro. Papéis com boletins de ocorrência de violência doméstica/familiar se multiplicaram na casa de Priscila Carla Pimentel, de 32 anos. Mas sem ação do Estado - e com evidente fragilidade da rede de proteção às vítimas -, a mulher entrou para as estatísticas crescentes de feminicídio em Pernambuco. 

O crime ocorreu no bairro de Cajueiro Seco, Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, na tarde da terça-feira (9). Testemunhas contaram que a vítima foi até a casa da ex-sogra para buscar materiais para formatura da filha. No local, foi surpreendida pelo ex-marido, José Robson Santos da Silva, 34, que teria usado uma faca para matá-la. 

Priscila e José Robson passaram 17 anos juntos, segundo familiares. Mas, há cerca de três meses, ela decidiu se separar por causa das brigas e ameaças constantes. Boletins de ocorrência foram registrados, inclusive com pedido de medida protetiva de urgência. Mas, no final de setembro, a vítima desistiu da proteção, alegando que não havia mais situação de risco - conforme comunicação da Defensoria Pública. 

Por decisão judicial, o suspeito deixou de usar tornozeleira eletrônica em 10 de outubro. 

"Esse homem vivia na frente da casa da minha mãe ameaçando todo mundo. Infelizmente, a gente esperava [o crime]. Quando ela ligava [pedindo socorro], eu e minha mãe chegávamos antes. Mas dessa vez, ele foi mais rápido", lamentou a irmã da vítima, Paloma Pimentel, em entrevista à TV Jornal

Uma das filhas da vítima com o suspeito, de 14 anos, presenciou o crime. Ainda tentou salvar a mãe. "Ele ameaçava muito ela [Priscila]. A filha ainda disse: 'Tentei salvar minha mãe, mas ele tem muita força. Não consegui'", contou uma parente, sem se identificar. 

Após o crime, o suspeito foi encaminhado ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife, onde foi autuado em flagrante por feminicídio. 

Na audiência de custódia, nesta quarta-feira (10), ele teve a prisão em flagrante convertida em preventiva e foi encaminhado ao Centro de Observação e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima.

Em nota, a Polícia Civil confirmou que o caso foi registrado pela equipe de Força Tarefa de Homicídios Metropolitana Sul. "O autor foi levado ao DHPP para realização dos procedimentos cabíveis e em seguida ficou à disposição da Justiça."

Priscila tinha o sonho de ser técnica em enfermagem. Enquanto não concluía o curso, trabalhava catando recicláveis e limpando mariscos e sururus. Juntava dinheiro para fazer a formatura da filha.

Ela tinha seis filhos, sendo cinco com o suspeito do feminicídio. 

FEMINICÍDIOS CRESCEM EM PERNAMBUCO

Os casos de feminicídio em Pernambuco cresceram ao longo de 2025. De acordo com estatísticas da Secretaria de Defesa Social (SDS), 82 mulheres foram vítimas desse crime entre janeiro e novembro. No mesmo período do ano passado, foram 68. O aumento foi de 20,5%. 

Em nota, a SDS informou que as ações da Patrulha Maria da Penha, da Polícia Militar, foram intensificadas na atual gestão.

"Desde 2023, a patrulha já acompanhou 14.672 mulheres com Medidas Protetivas de Urgência (MPUs), realizando 63.084 diligências entre 2024 e 2025. Somente em 2025, 3.802 mulheres ingressaram no programa, com 20.725 atendimentos realizados", afirmou.

Em caso de violência, a mulher pode acionar imediatamente a Polícia Militar pelo número 190. Para orientações sobre a rede de proteção, também podem entrar em contato com a Ouvidoria da Secretaria da Mulher de Pernambuco: 0800.281.8187.

As vítimas não precisam mais procurar uma delegacia para solicitar medida protetiva de urgência. Basta acessar o site do Tribunal de Justiça de Pernambuco (portal.tjpe.jus.br). Com a ferramenta, não é necessário sair de casa para ir a uma delegacia ou contratar advogado ou advogada.

Na página inicial, é necessário rolar a tela até encontrar o ícone "Medida Protetiva Eletrônica" e, em seguida, clicar em "Iniciar Atendimento".

A resposta do juiz ou juíza à solicitação será enviada para o número de celular cadastrado pela mulher em um prazo de até 48 horas.

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