MPPE diz que houve 'falhas graves' no socorro após naufrágio com morte de advogada em Suape

Promotor pediu à Justiça arquivamento da investigação do noivo de Maria Eduarda Carvalho. Mas citou necessidade de apuração da conduta de servidores

Por Raphael Guerra Publicado em 02/12/2025 às 12:23 | Atualizado em 02/12/2025 às 12:26

Clique aqui e escute a matéria

A pedido da Polícia Civil, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) encaminhou à Justiça, nesta terça-feira (2), a solicitação de arquivamento do inquérito que apurou a morte da advogada Maria Eduarda Carvalho de Medeiros, de 38 anos, após naufrágio na praia de Suape, no Cabo de Santo Agostinho. Mas apontou que houve "falhas graves" de servidores em relação ao socorro e indicou a necessidade de apuração disciplinar da conduta deles. 

A investigação da Delegacia de Porto de Galinhas, revelada pela coluna Segurança, concluiu que não houve dolo ou culpa do noivo da advogada, o médico urologista Seráfico Pereira Cabral Junior, 55, no acidente com a embarcação conduzida por ele na tarde de 21 de junho deste ano. 

Segundo o inquérito, o médico era habilitado para condução de embarcação, as condições meteorológicas e marítimas eram favoráveis no início do passeio e não houve ingestão de bebida alcoólica. 

"O naufrágio não decorreu de negligência, imprudência ou imperícia, mas sim de um evento de força maior. O próprio investigado, que possui experiência náutica e testou o veleiro antes de sair, afirmou que a intenção jamais foi adentrar o mar aberto, mas sim velejar na área abrigada, onde o mar é comumente calmo e considerado 'risco zero'", afirmou o promotor Rodrigo Altobello. 

"O acidente ocorreu porque a embarcação foi surpreendida por uma súbita rajada de vento e, principalmente, foi sugada por uma forte correnteza transversal. Embora o investigado não estivesse utilizando coletes salva-vidas, o que configura falha formal, este fato não foi determinante para a morte. O investigado e a vítima permaneceram no mar por mais de duas horas após o naufrágio, sendo o desfecho trágico resultado da exaustão extrema e da violência das ondas e pedras", pontuou. 

O laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) concluiu que a morte da advogada ocorreu por asfixia direta por afogamento, sem sinais de violência.  

O corpo da advogada, pedida em casamento durante o passeio de veleiro, foi encontrado três dias após o acidente. Já a cadela dela não foi achada. 

INVESTIGAÇÃO DE AGENTES PÚBLICOS

O promotor solicitou que a cópia do inquérito seja encaminhada à Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social (SDS), ao Comando Geral do Corpo de Bombeiros Militar e à Marinha do Brasil para eventual apuração disciplinar das condutas dos militares e agentes públicos envolvidos no socorro às vítimas. 

Isso porque o inquérito apontou indícios de possível omissão funcional. E citou que há evidências de falhas graves de comunicação e resposta operacional por parte de militares lotados no Centro Integrado de Operações de Defesa Social (Ciods), no atendimento inicial da ocorrência.

"Apesar de o acidente ter sido comunicado às 17h08, o acionamento do Grupamento Tático Aéreo (GTA) somente ocorreu por volta das 22h, aproximadamente seis horas após o naufrágio, período em que o salvamento ainda seria possível", apontou o relatório policial. 

O inquérito também apontou que houve demora nas tentativas de contato com a Capitania dos Portos de Pernambuco e falta de integração com o Corpo de Bombeiros Militar e o Salva-Mar de Ipojuca, comprometendo a efetividade do resgate.

Segundo a polícia, nenhuma equipe de salvamento foi efetivamente deslocada ao local do acidente. 

"A investigação demonstrou falhas graves e descoordenação no atendimento inicial da ocorrência, comprometendo a 'janela de salvamento'. (...) Tais circunstâncias configuram indícios de omissão funcional e/ou crime militar", afirmou o promotor de Justiça. 

Compartilhe

Tags