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Homens negros têm três vezes mais risco de morrer por armas de fogo no Brasil, aponta estudo

Relatório do Instituto Sou da Paz aponta que cor da pele e território seguem determinando os riscos da violência letal, sobretudo para os mais jovens

Por Raphael Guerra Publicado em 20/11/2025 às 8:00

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Como fazia habitualmente nos fins de semana, o eletricista Luiz Carlos Chagas da Silva, 28 anos, levou a filha para brincar numa praça próxima de casa. O que seria uma noite de diversão, porém, terminou em tragédia. O homem foi vítima de bala perdida durante um ataque a tiros, por volta das 21h, na área de lazer localizada no bairro da Charnequinha, periferia do Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife. 

A menina de 2 anos, que presenciou tudo, sobreviveu. Os criminosos fugiram do local, sem aparentemente conseguirem acertar o verdadeiro alvo. O caso, ocorrido em 15 de março deste ano, exemplifica o novo relatório do Instituto Sou da Paz, que aponta a cor da pele e o território como determinantes para o aumento dos riscos de morte por arma de fogo no País. E as principais vítimas são os jovens. 

O estudo "Violência Armada e Racismo: O Papel da Arma de Fogo na Desigualdade Racial", divulgado nesta quinta-feira (20), indica que homens negros têm três vezes mais riscos de morrer por arma de fogo do que não negros. 

Do total de 32,7 mil homicídios cometidos com armas de fogo no Brasil em 2023, 94% das vítimas eram do sexo masculino. E 80% deles eram negros. 

A pesquisa analisou a violência armada e a desigualdade racial no País com base nos dados oficiais do sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

"A pesquisa dá visibilidade aos impactos da violência armada sobre a população brasileira negra e masculina, com objetivo de suscitar a defesa de novas políticas públicas que enfrentem o forte viés de gênero e raça observado na vitimização por arma de fogo no País”, afirmou Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz.

Os homicídios cometidos com armas de fogo permanecem em níveis altos e constantes, segundo o estudo. Representam 71% do total de casos entre 2000 e 2023. A violência armada atinge majoritariamente os jovens do sexo masculino entre 20 e 29 anos, com 81,2 mortes por 100 mil homens, mais de três vezes a taxa observada entre adolescentes e quatro vezes maior que entre os mais velhos.

REGIÃO NORDESTE NA LIDERANÇA

A região Nordeste concentrou quase metade dos homicídios de homens com armas de fogo em 2023. Foi a maior taxa do País com 55,8 mortes por 100 mil. Dessas vítimas, 90% eram negras.

Os estados com os maiores números absolutos de homicídios armados são Bahia (5.209), Pernambuco (2.810) e Rio de Janeiro (2.596). Quando se observa a taxa de homicídios por 100 mil homens, o Amapá lidera o ranking (111,5), seguido da Bahia (73,2), Pernambuco (62,0), Alagoas (58,0) e Ceará (52,8).

Já nas capitais, os piores índices são de Macapá (123,5, Salvador (107,5), Recife (74,4), e Maceió (72,9). Em todas as capitais brasileiras, homens negros, têm taxas de homicídio superiores às de homens não negros.

Os locais públicos são onde acontecem a maioria das mortes de homens por arma de fogo. Em 2023, 49% dos casos ocorreram em ruas ou estradas, já as residências representaram 11,6%. Observa-se, contudo, que há uma grande parcela dos locais não especificados (26%).

"É preciso investir na prevenção dos fatores da violência armada, controlando a disponibilidade de armas de fogo na sociedade brasileira, tanto no mercado legal quanto no enfrentamento ao seu tráfico ilegal, ponto de partida fundamental para que as políticas públicas de segurança democráticas sejam bem-sucedidas", avaliou Carolina Ricardo. 

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