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Penitenciária Barreto Campelo começa a ser demolida para abrir espaço ao turismo em Itamaracá

A penitenciária é demolida após 51 anos de falência estrutural e denúncias graves. O espaço foi desocupado na Operação Ponto Final

Por Túlio Feitosa Publicado em 19/09/2025 às 21:40 | Atualizado em 19/09/2025 às 22:02

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A Penitenciária Professor Barreto Campelo, localizada na Ilha de Itamaracá, no Litoral Norte de Pernambuco, começou a ser demolida nesta sexta-feira (19). A demolição teve início em um dos pavilhões da unidade e marca o fim da estrutura que operou por 51 anos, sendo considerada uma das mais precárias do Estado.

O governo do estado informou que há um projeto em elaboração, que deverá ser apresentado nos próximos meses, que prevê a ocupação das centenas de hectares – antes destinados ao sistema prisional – por equipamentos de turismo.

O início da demolição da Barreto Campelo foi anunciado pela governadora Raquel Lyra (PSD) em suas redes sociais. A gestora esteve no local durante o início da demolição.

"O que está aqui hoje, prestes a ser demolido, também faz parte de uma atenção e um fortalecimento do sistema penitenciário de Pernambuco, pois as condições encontradas eram de muita precariedade, em um ambiente onde as pessoas não eram enxergadas para a ressocialização", ressaltou Raquel Lyra.

"Não existe segurança pública sem olhar para o sistema penitenciário, e é preciso cuidar de todos. A desativação deste presídio não aconteceu por acaso, construímos novas vagas no sistema e, assim, foi possível garantir a demolição de algo que já deveria ter sido derrubado há muito tempo", completou.

Contexto Histórico: O Fechamento da Unidade Prisional

A desativação da Barreto Campelo ocorreu há cerca de cinco meses, culminando na megaoperação denominada "Ponto Final". O fechamento da unidade foi resultado direto de denúncias graves sobre problemas estruturais e de segurança.

A Penitenciária vinha sendo estudada para desativação desde 2023. A Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) afirmou que esta medida se insere no plano de reestruturação do sistema prisional do Governo do Estado e atende a uma reivindicação histórica de moradores e turistas do Litoral Norte.

JAILTON JR./JC IMAGEM
Penitenciária Barreto Campelo Desativada - JAILTON JR./JC IMAGEM

Estrutura Precária e a Megaoperação de Transferência

O fechamento da Barreto Campelo era urgente devido às suas condições estruturais calamitosas. Vistorias realizadas, que contaram com a participação do Ministério Público Federal (MPF), atestaram as péssimas condições da unidade.

O relatório indicava que a penitenciária era composta por escombros, rachaduras e esgoto a céu aberto, o que tornava parte do perímetro inutilizável. A estrutura física estava enferrujada e com infiltrações, gerando um risco de desabamento e curto-circuito para presos e agentes.

Embora a penitenciária tivesse capacidade para 640 vagas, contava com 472 presos no momento da operação.

Além dos problemas físicos, a segurança e a assistência na unidade eram deficientes:

  • Havia um efetivo muito baixo da Polícia Penal.
  • Foi verificada a entrada desenfreada de drogas, bebidas e até armas de fogo. Em um período de 12 meses, policiais penais apreenderam três armas de fogo, 80 aparelhos de comunicação, além de 1,64kg de crack e 1,3kg de maconha.
  • Faltavam formas de assistência material básica, como camas, colchões, roupas de cama, toalhas de banho e material de higiene.

Em fevereiro, 460 detentos que estavam no local foram transferidos para outras três unidades prisionais do estado. A megaoperação "Ponto Final", ocorrida em 1º de março, mobilizou 332 policiais militares, 12 civis, 115 penais, além de membros do Corpo de Bombeiros e da inteligência.

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Os presos foram encaminhados, em parte, para o Presídio Policial Penal Leonardo Lago (recém-inaugurado no Complexo Prisional do Curado) e o restante foi levado para o Presídio de Itaquitinga.

O secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização, Paulo Paes, classificou a desativação como um "grande avanço para o sistema prisional do Estado" e garantiu que as unidades receptoras não ficaram superlotadas.

O Sindicato dos Policiais Penais de Pernambuco também encarou as transferências de forma positiva, citando as "péssimas condições de trabalho" que existiam na penitenciária.

A gestão estadual tem como objetivo que as novas unidades, como o Presídio Policial Penal Leonardo Lago, impeçam a atuação dos chamados "chaveiros" – presos que comandam pavilhões e ditam regras. Há planos de, futuramente, também encerrar as atividades da Penitenciária Agroindustrial São João, voltada para os reeducandos em regime semiaberto.

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