SISTEMA PRISIONAL | Notícia

Com megaoperação, Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá, começa processo de desativação

Policiais militares, civis, penais e membros do Corpo de Bombeiros participam da transferência dos detentos para duas unidades prisionais do Estado

Por Raphael Guerra Publicado em 01/04/2025 às 10:29 | Atualizado em 01/04/2025 às 15:09

A Ilha de Itamaracá, no Litoral Norte de Pernambuco, amanheceu nesta terça-feira (1º) com uma megaoperação para transferência de presos da Penitenciária Professor Barreto Campelo. Trata-se do processo de desativação da unidade prisional, que tem 51 anos e é considerada uma das mais precárias do Estado. 

Ao todo, 332 policiais militares, 12 civis, 115 penais, além de membros do Corpo de Bombeiros e da inteligência, participam da megaoperação, batizada de Ponto Final. Parte dos detentos está sendo encaminhada para o Presídio Policial Penal Leonardo Lago, recém-inaugurado no Complexo Prisional do Curado, na Zona Oeste do Recife. O restante será levado para o Presídio de Itaquitinga, na Mata Norte. 

Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap), afirmou que a desativação "faz parte do plano de reestruturação do sistema prisional do Governo do Estado e atende a uma reivindicação histórica de moradores e turistas do Litoral Norte".

A Barreto Campelo tem capacidade para 640, mas atualmente contava com 472 presos. Segundo relatório do Ministério Público Federal (MPF), entre os detentos há integrantes de três grandes facções: Comando Vermelho, Primeiro Comando da Capital (PCC) e Trem Bala. 

Cristiano Régis/SEAP
Policiais penais, civis e militares participaram da transferência dos presos - Cristiano Régis/SEAP

A desativação da penitenciária vinha sendo estudada desde 2023, por determinação da governadora Raquel Lyra. Naquele ano, pouco mais de 150 presos foram transferidos para outros presídios - diminuindo a superlotação que existia. 

A promessa da gestão estadual é de que as novas unidades - a exemplo do Presídio Policial Penal Leonardo Lago - não permitam mais a atuação dos chamados chaveiros, presos que comandam pavilhões e ditam regras, muitas vezes na base da ameaça e agressão física. 

"Considero um grande avanço para o sistema prisional do Estado, pois a desativação da Barreto Campelo significa cuidado e respeito com a população privada de liberdade e os profissionais que lá trabalhavam. Vamos seguir com todas as mudanças necessárias ao processo de ressocialização do apenado", declarou, em nota oficial, o secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização, Paulo Paes.

A unidade prisional será demolida, mas ainda não há informação oficial do que será feito com o terreno. 

"A gente recebeu o Estado de Pernambuco com a condenação da Corte Interamericana de Direitos Humanos, tendo um dos piores sistemas penitenciários do Brasil. E com apoio do governo federal, com decisão do nosso governo, a gente tem conseguido fazer esse processo de reconstrução. E uma das etapas era fazer a demolição da Barreto Campelo, e faremos outras", declarou a governadora Raquel Lyra, em evento de inauguração da nova sede da Advocacia Geral da União, no Recife.

A ideia da gestão estadual, no futuro, é também encerrar as atividades da Penitenciária Agroindustrial São João, voltada para os reeducandos em regime semiaberto.

PENITENCIÁRIA BARRETO CAMPELO TEM ESTRUTURA PRECÁRIA

Vistoria realizada no ano passado, com participação do MPF, identificou as péssimas condições estruturais da penitenciária, que também é marcado por uma quantidade muito baixa de efetivo da Polícia Penal e pela entrada desenfreada de drogas, bebidas e até armas de fogo.

MPF/DIVULGAÇÃO
Vistoria, em outubro de 2024, comprovou favelização na Penitenciária Barreto Campelo - MPF/DIVULGAÇÃO

"Apesar do saldo de vagas, existe uma limitação de espaço estrutural, já que a unidade é composta por escombros, rachaduras, esgoto ao céu aberto que torna parte do perímetro inutilizável. A estrutura física precária torna-se um risco para os próprios presos e agentes pelo risco de desabamento, curto-circuito, principalmente do pavilhão evangélico, diversas rachaduras, infiltrações e estruturas enferrujadas", apontou relatório divulgado no mês passado. 

A comitiva que participou da vistoria observou que, com exceção da possibilidade de banho de sol para todos os presos, as outras formas de assistência material não eram suficientes. Faltam camas, colchões, roupas de cama, toalhas de banho e material de higiene.

Em um período de 12 meses, policiais penais apreenderam três armas de fogo, 80 aparelhos de comunicação, 1,64kg de crack e 1,3kg de maconha na Barreto Campelo. 

"A penitenciária tinha péssimas condições de trabalho. A mudança garante mais segurança para a sociedade pernambucana, como também para melhores condições para policiais penais e para os presos. O sindicato vê com bons olhos essas transferências", afirmou João Carvalho, diretor de Articulação Política do Sindicato dos Policiais Penais de Pernambuco.

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