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Milícia privada: PMs são presos por cobrança de taxas e violência contra comerciantes no Grande Recife

Investigação aponta que grupo, formado por policiais e ex-agentes, cobrava valores abusivos semanalmente sob justificativa de prestação de 'proteção'

Por Raphael Guerra Publicado em 22/07/2025 às 10:59

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Policiais militares acusados de integrar um grupo de milícia privada, com atuação sobretudo no município de Abreu e Lima, no Grande Recife, foram presos preventivamente por determinação do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). A decisão atendeu a um recurso do Ministério Público Estadual.

Investigação conduzida pelo Grupo de Operações Especiais (GOE) indicou que o grupo era formado principalmente por policiais militares, ex-agentes e um ex-vereador. Os acusados cobravam valores abusivos semanalmente aos comerciantes do bairro de Caetés I e outras áreas pobres do município, mediante ameaças e atos de violência, sob a justificativa de prestação de serviço de "proteção". 

As prisões ocorreram entre os dias 11 e 14 de julho, com bastante sigilo. A coluna Segurança apurou que o subtenente da reserva remunerada Jorge Lopes de Freitas, o cabo reformado Rostand Cavalcanti Belém, o cabo Edmilson Silva de Lima e o soldado Aprígio Juvenal de Arruda Neto (ambos lotados no 26º Batalhão) foram os primeiros presos.

Já no dia 12, foi a vez do subtenente da reserva remunerada Robson Quintino dos Santos. O 2º sargento Paulo Ditácio de Oliveira, lotado no 17º Batalhão, foi capturado no dia 14. Todos estão recolhidos ao Centro de Reeducação da Polícia Militar (Creed), em Abreu e Lima. 

GRUPO COM MAIS DE UMA DÉCADA DE ATUAÇÃO

O grupo começou a ser investigado em outubro de 2023, após denúncias recebidas pela Polícia Civil. Cada estabelecimento comercial era obrigado a pagar cerca de R$ 50 por semana pela "taxa de proteção", segundo relatos de testemunhas e vítimas.

A investigação apontou que a milícia armada atua há pelo menos dez anos em Abreu e Lima. 

Em julho do ano passado, os acusados foram presos temporariamente em operação. Com o fim das investigações e envio da denúncia, o Ministério Público pediu a prisão preventiva deles, mas a Vara Criminal da Comarca de Abreu e Lima negou.

Por isso, um recurso em sentido estrito foi interposto e analisado pela 2ª Câmara Criminal do TJPE. Entre os argumentos, o Ministério Público afirmou que a periculosidade dos réus está demonstrada nos autos do processo e que, mesmo após a operação e prisão temporária dos principais membros, as atividades da organização criminosa persistiram. 

"Há indícios veementes de que os investigados fazem da prática ilícita um verdadeiro modo de vida, com divisão de tarefas, hierarquia e infiltração em espaços de poder político e institucional, vez que Rostand Cavalcanti Belém [um dos réus] foi vereador de Abreu e Lima no período de 01/01/2013 a 31/12/2020. Essa circunstância agrava sobremaneira o risco à ordem pública, pois o poder de intimidação do grupo transcende o uso de armas: ele está enraizado na impunidade percebida por quem o teme", citou o MP. 

Por unanimidade, a 2ª Câmara Criminal do TJPE concordou com os argumentos e decretou a preventiva dos réus. 

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