Número de tiroteios cai, mas há recorde de vítimas de bala perdida no Grande Recife
Mapeamento identificou 39 casos de inocentes atingidos, com apenas quatro sobreviventes, no primeiro semestre do ano. É a maior quantidade desde 2019

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O número de tiroteios caiu no primeiro semestre de 2025 no Grande Recife. Mas houve recorde, pelo segundo ano consecutivo, de pessoas vítimas de bala perdida nesse período. O mapeamento é do Instituto Fogo Cruzado, que estuda a violência armada.
De acordo com o levantamento, 736 tiroteios/disparos de arma de fogo foram identificados. O número representa redução de 25% em comparação com o primeiro semestre do ano passado, quando foram somados 983 registros.
Neste ano, houve vítimas em 96% dos tiroteios no Grande Recife. Ao todo, 849 pessoas foram baleadas: 631 morreram e 218 ficaram feridas.
Ao mesmo tempo, o mapeamento do Fogo Cruzado traz o alerta aos casos de vítimas de bala perdida - em geral pessoas que nada têm a ver com a situação e acabam atingidas em troca de tiros. Houve recorde na série histórica (iniciada em 2019).
No primeiro semestre deste ano, 39 pessoas que não eram o alvo foram atingidas pelos tiros. Só quatro sobreviveram. No mesmo período de 2024, que também já havia registrado o pior resultado, o número de atingidos chegou a 32, com seis sobreviventes.
CRIANÇA MORRE NO DIA DO ANIVERSÁRIO
A menina Helen Santos de Souza, de 4 anos, foi uma das vítimas da violência armada. Ela brincava com os primos perto de casa, no Córrego do Deodato, bairro de Água Fria, Zona Norte do Recife, quando foi baleada. O caso aconteceu em 12 de abril deste ano.
No momento em que a criança foi atingida, acontecia uma troca de tiros entre criminosos por causa da disputa pelo domínio do tráfico de drogas na localidade. Ela foi socorrida e encaminhada ao Hospital da Restauração, no Derby, onde morreu no dia seguinte - quando completou 5 anos.
Procurada, a Polícia Civil informou que o caso foi concluído com a prisão e indiciamento de dois suspeitos do crime.
AVALIAÇÃO SOBRE OS NÚMEROS
"O elevado número de vítimas de bala perdida evidencia que, mesmo em contextos de violência marcados por conflitos diretos, disputas e acertos de contas — como ocorre na Região Metropolitana do Recife —, há um significativo impacto sobre vítimas colaterais. O primeiro semestre registrou um triste recorde de crianças baleadas, sendo que pelo menos duas delas foram atingidas em situações de confronto. As crianças são vítimas colaterais não somente quando feridas, mas também ao presenciarem cenas de violência", pontuou Ana Maria Franca, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado em Pernambuco.
"Entre os casos registrados, há o de um pai morto por bala perdida enquanto estava com sua filha de dois anos em um parque. É inaceitável que um plano de segurança cite crianças e adolescentes como público prioritário sem apresentar ações concretas de proteção a essa população, que continua sendo alvo recorrente da violência — direta ou indiretamente", complementou.
O instituto identificou dez crianças vítimas de bala perdida no primeiro semestre deste ano. O número é o dobro do registrado em 2024.
"O governo do Estado pode celebrar a queda em algumas estatísticas, mas fica claro que indicadores isolados não são suficientes para dar conta de uma realidade tão complexa, sobretudo quando dobra o número de crianças baleadas de um ano para o outro", afirmou Ana Maria.
MORTES VIOLENTAS CAÍRAM NO PRIMEIRO SEMESTRE
De acordo com os dados oficiais da Secretaria de Defesa Social (SDS), 771 mortes violentas intencionais foram somadas no Grande Recife no primeiro semestre do ano. A queda foi de 16,5% em comparação com 2024, quando foram contabilizados 923 casos.
É importante dizer que, nesse número da SDS, estão registradas as mortes não só por violência armada, mas também por uso de outros instrumentos, como por exemplo faca e envenenamento.
Na última semana, o governo estadual anunciou queda de 1,2% no número de mortes em Pernambuco no mês de junho. Ao todo, 251 casos foram registrados pela polícia.
A SDS reforçou que há tendência de redução na Zona da Mata e no Grande Recife, como "resultado direto da integração entre as forças de segurança, da análise estratégica dos territórios e do investimento em inteligência policial e ações coordenadas".