Líder de esquema de corrupção no Presídio de Igarassu esteve em velório ilegalmente, revela depoimento

Denúncia do MPPE descreve que Lyferson Barbosa da Silva saiu da unidade, sem registro oficial, para se despedir de amigo assassinado em junho de 2023

Por Raphael Guerra Publicado em 09/07/2025 às 15:46 | Atualizado em 10/07/2025 às 9:35

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O presidiário Lyferson Barbosa da Silva, apontado pela Polícia Federal como chaveiro e um dos líderes do forte esquema de corrupção no Presídio de Igarassu, no Grande Recife, chegou a deixar a unidade, ilegalmente, para ir a um velório em julho de 2023. 

A informação consta na denúncia do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) enviada à Justiça, no mês passado, relacionada ao homicídio do ex-policial militar Heleno José do Nascimento, conhecido como Júnior Black, que integrava um grupo de extermínio.

O crime ocorreu na saída de um restaurante no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, em 17 de julho de 2023. Na ocasião, uma mulher de 54 anos também morreu por bala perdida. 

O MPPE denunciou Lyferson e outros dez acusados por envolvimento no duplo homicídio. As investigações da Polícia Civil indicaram que a morte de Júnior Black foi uma retaliação aos assassinatos de José Marcelo Coelho da Silva, conhecido por Olho de Gato, e Cristian Fernandes de Oliveira, durante confronto quatro dias antes no município do Parnamirim, Sertão do Estado.

Segundo o inquérito, um dos homens assassinados era considerado braço direito de Lyferson, por isso houve a ordem para a morte de Júnior Black por vingança.

ARTUR BORBA/JC IMAGEM
Júnior Black foi assassinado a tiros após sair de um restaurante em Boa Viagem, em julho de 2023 - ARTUR BORBA/JC IMAGEM

DEPOIMENTO REVELA ILEGALIDADE EM PRESÍDIO

Em interrogatório à polícia, um dos acusados, o ex-militar Ednaldo Adolfo de Souza, conhecido como Capitão Ferraz, declarou ter encontrado Lyferson no velório do corpo de Olho de Gato, no Cemitério de Santo Amaro, área central do Recife, em 15 de julho de 2023. Nesse período, o chaveiro já cumpria pena no Presídio de Igarassu. 

"Tal possibilidade de saída de unidade prisional, sem registros, foi apontada pela autoridade policial como decorrente das relações promiscuas estabelecidas entre detentos, com certo poder no mundo do crime,  com agentes penitenciários [policiais penais], as quais resultaram nas prisões de diversas pessoas na 'Operação La Catedral', a cargo da Polícia Federal", descreveu a denúncia do MPPE.

O documento apntou que, no velório, Lyferson, Capitão Ferraz e outros dois comparsas teriam definido a retaliação a Júnior Black. A investigação concluiu que o presidiário forneceu armas de fogo e dinheiro para o crime. 

A Justiça aceitou denúncia, e todos os acusados pela morte do ex-militar se tornaram réus no processo, inclusive Capitão Ferraz, que já era acusado de integrar uma milícia especializada no comércio ilegal de armas e munições, violação de domicílio, cárcere privado e outros crimes na Paraíba.

QUEM É LYFERSON, ALVO DA OPERAÇÃO LA CATEDRAL?

Em 25 de fevereiro deste ano, Lyferson foi um dos alvos da operação La Catedral. As investigações apontaram que ele exercia forte liderança no pavilhão onde cumpria pena e que tinha contato direto com o ex-diretor do Presídio de Igarassu, Charles Belarmino de Queiroz, e com outros policiais penais em cargos de supervisão. Os servidores foram presos na operação.  

A investigação apontou que o contato entre Lyferson e os policiais era feito sobretudo por meio de mensagens de WhatsApp, ou seja, ele tinha acesso a celulares com autorização da direção.

Os presos tinham acesso a bebidas alcoólicas, drogas e até garotas de programa. Em troca, pagavam propina aos policiais por meio de transferências via Pix. 

No ano passado, diante dos primeiros indícios do escândalo, Lyferson foi transferido para a Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, onde permanece.

A segunda fase da operação La Catedral aconteceu em abril deste ano. André de Araújo Albuquerque, ex-secretário executivo de Administração Penitenciária e Ressocialização de Pernambuco, foi preso

A ordem judicial foi dada após a descoberta de um vídeo, filmado em 6 de setembro de 2024, encontrado no celular de Charles. Nas imagens, André aparece recolhendo maços de dinheiro na mesa do ex-diretor do presídio, que está sentado e mexendo no aparelho. Nas imagens, Lyferson também aparece entregando notas. 

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