INVESTIGAÇÃO | Notícia

SDS pune delegada flagrada conversando com Rodrigo Carvalheira, acusado de estupro

Interceptação mostrou que empresário ligou para Natasha Dolci, amiga dele, durante inquérito. Punição de 8 dias de suspensão será convertida em multa

Por Raphael Guerra Publicado em 17/06/2025 às 11:36 | Atualizado em 17/06/2025 às 12:31

Após mais de um ano de investigações, a Secretaria de Defesa Social (SDS) decidiu punir a delegada Natasha Dolci, que foi flagrada numa interceptação telefônica conversando com o empresário Rodrigo Carvalheira, acusado de estupro. Ela pretende recorrer a decisão. 

A portaria assinada pelo secretário Alessandro Carvalho foi publicada no último sábado (14). Na decisão, a partir de processo conduzido pela Corregedoria, o gestor afirmou que as provas dos autos demonstraram "comportamento de transgressão disciplinar", por haver "divulgado, por meio de ligação telefônica, atos ocorridos na repartição, propiciando a divulgação ou facilitando de qualquer modo, o seu conhecimento a pessoas não autorizadas". 

A punição determinada é de suspensão de oito dias, mas que será convertida no pagamento de multa, na base de 50% por dia de salário. 

Em abril do ano passado, a delegada chegou a ser afastada das funções por 120 dias, inclusive sendo obrigada a entregar a identificação funcional, as armas e utensílios funcionais. 

O afastamento teve como base uma decisão judicial que determinou a prisão de Rodrigo Carvalheira, em 11 de abril de 2024. Nela, o juiz José Claudionor da Silva Filho destacou que o "investigado tentou, através dos seus contatos políticos, retirar o inquérito policial que originou o presente processo da Delegacia da Mulher".

A delegada reforçou que não era a responsável pelo inquérito, não tinha intenção em interferir em investigação e que falou com o empresário na condição de amiga. 

Na época, a delegada declarou que, na ligação, pediu para Carvalheira levá-la ao Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, como forma de denunciar números fraudados na Polícia Civil e para pedir a transferência dela para a Delegacia de Fernando de Noronha. 

Rodrigo Carvalheira passou seis dias no Centro de Observação e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife. Depois, chegou a ser preso novamente, até novembro. 

As queixas contra ele foram feitas por três mulheres (todas do círculo social e de amizade do empresário), que afirmaram que foram dopadas e, quando acordaram, apresentavam sinais de abuso sexual - os casos ocorreram entre os anos de 2009 e 2019. Os processos seguem em tramitação. 

DEFESA DA DELEGADA

Em nota, o advogado Rodrigo Libório pontuou que o "inquérito policial que apurou suposta corrupção cometida pela delegada foi arquivado, após restar comprovado a inexistência de conduta criminosa".

"A Administração Pública Estadual, num ímpeto beligerante e punitivo, mesmo assim, aplicou uma punição desarrazoada pelo fato da Delegada apresentar críticas e denúncias contra a gestão da Polícia Civil, revelando odiosa ditadura e utilização do sigilo administrativo como manto de ilicitudes", disse.

Por fim, declarou que a delegada irá recorrer ao Judiciário "para reverter tamanha injustiça, garantindo o respeito aos princípios constitucionais".

Já Natasha afirmou que continuará "apresentando críticas e denúncias contra a fraude dos números na segurança e brigando por uma segurança pública efetiva em Pernambuco". 

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