VIOLÊNCIA POLICIAL | Notícia

PMs do Bope réus por homicídio no Recife admitem uso de rádios particulares em ações

Depoimentos em audiência na Justiça revelaram que militares usam equipamentos próprios para se comunicarem. PMPE diz que ferramenta é admitida

Por Raphael Guerra Publicado em 17/06/2025 às 13:53

Policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) réus pelo duplo homicídio na comunidade do Detran, no bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife, admitiram que usam rádios particulares para se comunicarem durante as ações nas ruas. Conforme revelado pela coluna Segurança, a Justiça decidiu que os réus vão a júri popular

Os depoimentos, na fase de audiência de instrução e julgamento dos seis PMs que respondem por homicídio qualificado de dois homens, foram destacados nas alegações finais do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que pede a condenação do grupo.

O militar Rafael Alencar Sampaio, um dos réus, confirmou o uso de rádio próprio para se comunicar com os colegas de farda. 

"Rádios que a gente utiliza são particulares, são adquiridos por nós mesmos, são os rádios de modelo Malfen (...) os rádios que a gente utiliza para a comunicação entre nós, o efetivo, é nosso (...) existe, na viatura existe [rádios oficiais] (...) eu não sei se a polícia fornece esse tipo de material [rádios auditáveis e com GPS], na época eu comprei esse para mim. (...) o meu que eu usava era particular", declarou no depoimento em juízo. 

Na visão do MPPE, o uso de rádios particulares é uma forma de garantir que os diálogos não sejam auditáveis, ou seja, não sirvam de provas contra os próprios policiais.

Na noite de 20 de novembro de 2023, os policiais deveriam ter se dirigido para a sede do 11º Batalhão, no bairro de Apipucos, mas mudaram de rota, em três viaturas após receberem uma denúncia de que suspeitos de tráfico de drogas estariam na comunidade do Detran.

Uma câmera flagrou o momento em que os PMs invadiram a casa onde estavam Bruno Henrique Vicente da Silva, de 28 anos, e Rhaldney Fernandes da Silva Caluete, 32. Mulheres e crianças deixaram o imóvel por ordem dos policiais. E logo em seguida os tiros foram disparados na dupla. Testemunhas garantiram que ambos estavam ajoelhados e desarmados. 

O MPPE destacou que Rhaldney possuía antecedentes criminais pelo crime de receptação. Mas Bruno tinha certidão negativa, ou seja, sem qualquer passagem pela polícia.

O QUE DIZ A POLÍCIA MILITAR DE PERNAMBUCO?

Procurada pela coluna, a Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) afirmou que o uso de celulares e rádios particulares é admitido como ferramenta de apoio à comunicação, "desde que não interfira ou comprometa a segurança e a exclusividade da rede oficial" da Corporação. 

A PMPE declarou que adota tecnologias de comunicação para garantir a eficiência no patrulhamento. "As equipes utilizam telefones funcionais, contratados pelo governo do Estado, além da radiocomunicação digital troncalizada P25 ou Tetra, conforme a região do Estado", disse.

RÉUS VÃO AGUARDAR JULGAMENTO EM LIBERDADE

Na decisão de levar seis policiais militares a júri popular pelas mortes no Detran, a  juíza Fernanda Moura de Carvalho, da 1ª Vara do Tribunal do Júri Capital, também atendeu ao pedido das defesas e determinou a soltura deles.

Josias Andrade Silva Júnior, Rafael de Alencar Sampaio, Brunno Matteus Berto Lacerda, Carlos Alberto de Amorim Júnior, Ítalo José de Lucena Souza e Lucas de Almeida Freire Albuquerque estavam presos no Centro de Reeducação da Polícia Militar (Creed), em Abreu e Lima, desde abril do ano passado.

Medidas cautelares foram determinadas, como a proibição de que atuem nas ruas. Eles deverão permanecer em expediente interno, no batalhão de origem, sem posse ou porte de arma de fogo. Além disso, não poderão ter contato com testemunhas e parentes de vítimas e deverão permanecer em casa no horário das 18h às 6h e nos dias de folga.

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