Após 2 meses, deputados mantêm silêncio sobre escândalo no sistema prisional de Pernambuco
Parlamentares ligados à segurança pública críticos do governo Raquel Lyra seguem sem se manifestar sobre esquema de corrupção, iniciado na gestão PSB

A operação da Polícia Federal contra o forte esquema de corrupção no sistema prisional de Pernambuco - sobretudo no Presídio de Igarassu - completou dois meses nesta sexta-feira (25). Até agora, um ex-secretário executivo, um ex-diretor e sete policiais penais foram presos. E o número de investigados não para de crescer.
Diante do escândalo descoberto, um detalhe tem chamado a atenção nos bastidores: o silêncio dos deputados estaduais ligados à segurança pública. A oposição, que desde o início da gestão Raquel Lyra faz críticas e cobranças ferrenhas sobre altos índices de violência e ao modelo que está sendo implementado para tentar reverter as estatísticas, permanece sem se manifestar sobre os problemas no sistema prisional.
E um dos motivos, evidentemente, é que a oposição que tanto bate na gestão atual é a mesma que passou 16 anos no poder e não deu a mínima atenção aos presídios. Além disso, diretores assumiam unidades prisionais por indicação dos parlamentares. Foi o que aconteceu, inclusive, em Igarassu.
Charles Belarmino de Queiroz, preso na primeira fase da La Catedral, comandava o presídio desde 2016. Antes da exoneração dele, assinada por Raquel Lyra em dezembro de 2024, houve forte pressão de alguns políticos para mantê-lo no poder.
SUPERLOTAÇÃO RESULTOU EM PODER PARA DETENTOS
Apesar de multiplicar o número de prisões na década passada, as gestões do PSB não ampliaram a quantidade de vagas - resultando em unidades sem estrutura física, superlotadas e lideradas pelos próprios detentos, que criaram as regras e continuaram praticando crimes diante da omissão do Estado.
A partir da apreensão do celular de um presidiário, a Polícia Federal identificou registros de conversas entre ele e policiais penais desde 2022, indicando a autorização da entrada de drogas, bebidas alcoólicas e garotas de programa no Presídio de Igarassu. Em troca, profissionais da segurança, incluindo o ex-diretor, recebiam propina.
Mesmo diante de tantas provas publicadas pela imprensa, a partir do que a PF apurou até agora, o assunto não virou pauta na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).
OPOSIÇÃO EM SILÊNCIO SOBRE SISTEMA PRISIONAL
Presidente da Comissão de Segurança Pública e Defesa Social, o deputado estadual Joel da Harpa (PL), muito ativo nas redes sociais, ainda não teceu comentários sobre o escândalo no sistema prisional publicamente. As mais recentes publicações são voltadas ao estado de saúde do ex-presidente Jair Bolsonaro, do mesmo partido, e até sobre Cuba.
Harpa, inclusive, foi alvo de recente operação da Polícia Civil que investiga uma organização criminosa suspeita de praticar os crimes de peculato, fraude em licitação e lavagem de dinheiro. A suposta relação dele com o grupo não foi revelada.
A deputada Gleide Ângelo (PSB), vice-presidente da mesma comissão, também ainda não subiu à tribuna da Alepe para falar sobre a histórica falta de investimentos no sistema prisional e que tem impacto direto na violência.
No Instagram, onde tem mais de 618 mil seguidores, as publicações mais recentes destacaram a violência contra a mulher - principal bandeira desde o primeiro mandato dela. Houve ainda postagens pedindo votos para um finalista do Big Brother Brasil e outra reclamando da transferência do 20º batalhão da Polícia Militar localizado no município de São Lourenço da Mata para Camaragibe.
ALIADOS DO GOVERNO TAMBÉM SEGUEM CALADOS
É preciso dizer que os deputados aliados ao governo Raquel Lyra também não trataram do tema no plenário da Alepe. Afinal, o esquema de corrupção se manteve ao longo de 2023 e 2024, como apontam as provas colhidas pela Polícia Federal.
Um vídeo, com imagens captadas em 6 de setembro do ano passado, mostra o então secretário executivo de Administração Penitenciária e Ressocialização de Pernambuco, André de Araújo Albuquerque, recebendo maços de dinheiro e guardando em uma sacola no Presídio de Igarassu. A gravação só foi descoberta após a prisão de Charles.