Transferência de batalhão da PM de São Lourenço para Camaragibe é criticada por opositores e até aliado de Raquel Lyra

Um decreto da governadora Raquel Lyra (PSD) que indica a transferência do 20º Batalhão da Polícia Militar de Pernambuco, atualmente instalado em São Lourenço da Mata, para um terreno localizado na cidade de Camaragibe, ambas no Grande Recife, desagradou até aliados políticos próximos da gestora.

Atualmente, o 20º Batalhão da PMPE Olinto de Melo Viana está instalado na Avenida Um, em São Lourenço, e é responsável pela segurança de 22 bairros e distritos da cidade, além de 32 bairros de Camaragibe, incluindo Aldeia.

A transferência de local veio à tona no último dia 8 de abril, quando a governadora assinou o decreto 58.415, desapropriando um terreno em Camaragibe para instalar o 20º BPM no local. Segundo o texto, o novo equipamento será construído em uma área de mais de 5,3 mil m².

Em janeiro passado, a prefeitura de Camaragibe havia anunciado que receberia um novo batalhão da PM, fruto de parceria com o governo estadual. O que ninguém sabia era que o batalhão em questão seria transferido de São Lourenço da Mata. Até o momento, o governo não externou as razões que justifiquem a decisão.

Nos bastidores políticos, o que se comenta é que a decisão seria uma forma de atingir o prefeito de São Lourenço da Mata, Vinícius Labanca (PSB), que integra o grupo de João Campos (PSB), possível adversário de Raquel Lyra nas eleições de 2026, ao mesmo tempo em que favoreceria o prefeito de Camaragibe, Diego Cabral (Republicanos), aliado da gestora.

Labanca disse ao Jornal do Commercio que não foi informado pelo governo do estado sobre a transferência do batalhão da cidade, e alegou que a decisão abrirá espaço para o avanço da criminalidade na cidade. O gestor relatou que enviou um pedido formal de informação sobre o assunto ao governo estadual, mas que não recebeu resposta.

“Tomei conhecimento do assunto por meio das redes sociais dela. Em nenhum momento fui procurado, nem pela chefe do Executivo estadual, nem pelo secretário de Defesa Social para tratar de um tema tão sensível para a nossa cidade. Agradeço a solidariedade que nossa cidade vem recebendo e seguirei atento — pronto, na hora certa, para tomar as providências que me cabem”, disse o prefeito.

Procurado pelo JC, o prefeito de Camaragibe, Diego Cabral (Republicanos), confirmou que o batalhão será transferido de São Lourenço para a cidade, mas afirmou não saber os motivos técnicos que levaram à mudança. Ele declarou que o novo equipamento continuará atendendo às duas cidades.

"É um ganho muito importante para a cidade, pelo qual nós brigamos, solicitamos oficialmente e fomos contemplados. Hoje o batalhão de São Lourenço atende a Camaragibe e provavelmente essa reciprocidade vai continuar. Com certeza a polícia tem os argumentos técnicos para estar fazendo a transferência, mas eu não consigo responder. Mas que será transferido para cá, isso é fato", disse Diego Cabral.

O equipamento custará R$ 9 milhões e ficará pronto em meados de 2026, contando com quadra poliesportiva, guarita, depósito de lixo e casa de bombas. A construção será erguida na avenida Belmino Correia, no centro da cidade, no terreno do Privê Vermont, em frente à antiga maternidade da cidade. "É uma fácil localização para chegada e saída do efetivo, inclusive para cidades vizinhas", disse Diego.

Segundo o gestor, ele não foi procurado por Vinicius Labanca para falar sobre a mudança. "Eu estou brigando pelos interesses da minha cidade e ele, pela dele, isso é natural. Mas essa é uma questão do governo, e eu só tenho a agradecer à governadora Raquel Lyra", completou.

Oposição criticou decisão na Alepe

Na última terça-feira (22), os deputados estaduais de oposição levaram o assunto para o plenário da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Na tribuna, o presidente Álvaro Porto (PSDB), afirmou que seria mais lógico instalar um novo batalhão em Camaragibe sem desmontar o de São Lourenço.

“Encerrar as atividades de um batalhão já consolidado num município para levá-lo a outro sem comunicado, explicação ou preparação prévia é uma decisão que tem causado estranheza, ainda mais quando os dois municípios carecem de mais segurança. Acreditamos na sensatez da governadora e apelamos para que ela reveja esse decreto”, discursou Porto.

Ele destacou que a unidade presta serviços à população há mais de 20 anos, especialmente diante da inexistência de uma Delegacia da Mulher, Corpo de Bombeiros ou unidade com plantão 24 horas na localidade.

A deputada Gleide Ângelo (PSB), que é delegada e vice-presidente da comissão de Segurança Pública e Defesa Social da Alepe, disse ter protocolado um pedido de informação ao governo e à SDS para saber a motivação da transferência.

“Quais os motivos técnicos para que haja essa mudança? Houve redução nos índices de violência que justifiquem isso? Qual o histórico de ocorrências nessas cidades? Por que mudar uma unidade que tem sede própria para um espaço que ainda será estruturado? São muitas explicações que precisam ser dadas”, disse Gleide.

“Se não obtivermos as respostas necessárias, a comissão vai convocar uma audiência pública para cobrar os esclarecimentos necessários, afinal, o correto e prudente seria equiparar os serviços entre essas duas grandes cidades da região metropolitana, para que cada cidadão e cidadã de Camaragibe e de São Lourenço da Mata sejam tratados com a mesma dignidade e o mesmo respeito”, concluiu a deputada.

O deputado Sileno Guedes (PSB) enviou ofício à governadora Raquel Lyra pedindo a revogação da transferência, e Rodrigo Farias (PSB) protocolou um requerimento solicitando informações sobre a mudança ao governo do estado.

Na semana passada, o deputado estadual Eriberto Filho (PSB), que tem forte ligação com São Lourenço, também criticou a transferência. Em nota enviada à imprensa, ele citou dados levantados junto à SDS que apontam mais homicídios em São Lourenço da Mata do que em Camaragibe em 2024, além de taxa de Crimes Violentos Letais Intencionais igualmente maior em São Lourenço em 2023.

“Não podemos admitir que o município perca um equipamento de segurança tão essencial em um momento tão delicado. Decisões como essa devem ser tomadas com base em critérios técnicos e com diálogo com a população, e não de forma política ou arbitrária. Como representante de São Lourenço da Mata, faço um apelo para que a governadora reavalie essa decisão”, declarou Eriberto Filho.

Aliado de Raquel, Eduardo da Fonte também não gostou

O debate também foi levado para a Câmara Federal. O deputado Eduardo da Fonte, presidente estadual do PP e aliado de primeira hora de Raquel Lyra, criticou a transferência do batalhão de São Lourenço e enviou um ofício à governadora pedindo a manutenção do equipamento na cidade.

“Manifesto minha preocupação com a iminente desativação do citado batalhão. Embora compreenda a importância da construção de um novo batalhão em Camaragibe, entendo que a transferência do 20º Batalhão de São Lourenço da Mata representa um grave risco para a segurança pública do município e de toda a região”, disse Eduardo da Fonte no documento, obtido pelo JC.

Ele argumentou que São Lourenço enfrenta desafios significativos em termos de criminalidade, e que a presença do batalhão é fundamental para a manutenção da proteção dos cidadãos.

No texto, ele também citou que Pernambuco enfrenta índices alarmantes de homicídios e crimes violentos, e que o estado precisa de mais investimentos em efetivo e infraestrutura policial, e não a redução ou realocação de batalhões consolidados. Eduardo pediu que Raquel revogue ou reavalie o decreto, avançando na construção do novo batalhão em Camaragibe, sem extinguir a unidade de São Lourenço.

"A desativação dessa unidade, sem a garantia de que outra estrutura equivalente será mantida no local, agravará a já precária situação de segurança no estado, que hoje figura entre os mais violentos do país. [...] É essencial que o estado adote uma política de expansão da segurança pública, com a criação de novas unidades, sem desmontar as já existentes”, completou o parlamentar.

Ainda em Brasília, o deputado federal Eriberto Medeiros (PSB) também se manifestou contrário à determinação durante pronunciamento na comissão de Segurança Pública da Câmara Federal.

Ele argumentou que São Lourenço aparece no ranking das 50 cidades mais violentas do Brasil e entre as cinco mais violentas de Pernambuco, de acordo com o Fórum Nacional de Segurança Pública. “O governo do Estado precisa fazer sua parte, analisando tecnicamente e não politicamente as ações da segurança pública”, afirmou Eriberto.

Presidente da comissão de Segurança é favorável à mudança

O deputado Joel da Harpa (PL), que é policial militar e presidente da comissão de Segurança Pública e Defesa Social da Alepe, disse que as instalações físicas atuais do batalhão de São Lourenço são desfavoráveis ao trabalho do efetivo. Ao JC, ele afirmou que o local é pequeno, antigo e precisa de manutenção, o que justificaria a construção de um nova nova edificação.

O parlamentar acrescentou que, por serem cidades vizinhas, a mudança não resultaria em prejuízo para a segurança da população da região, uma vez que, segundo ele, o efetivo continuará sendo distribuído da mesma forma entre as duas cidades.

"É uma polêmica desnecessária, tendo em vista essa necessidade física. As viaturas e efetivos continuarão sendo escalados do mesmo jeito. Se vai se construir uma nova edificação, com atendimento melhor para a população e conforto maior para a tropa, não vejo problema em sair de São Lourenço para Camaragibe", afirmou Joel.

"Inclusive abre a possibilidade de se enviar mais policiais para o batalhão novo. Esse pessoal novo que está se formando certamente vai ser ativado nesse local, não vai mudar o contexto de segurança", disse o deputado, completando que a realidade atual do estado não possibilitaria a manutenção do equipamento de São Lourenço após a construção do novo serviço. "Seria o ideal, mas para a realidade de hoje, de lançamento de efetivo, um batalhão só atende".

O Jornal do Commercio procurou o governo do estado e a secretaria de Defesa Social (SDS) por duas vezes para questionar o que motivou a transferência de localidade do batalhão, quando a mudança será realizada e se, uma vez instalado em Camaragibe, haverá mudança na área de cobertura de segurança. Não houve retorno.