AVC: reconhecer os sinais e agir rápido faz toda a diferença na recuperação
Especialista do Hospital da Restauração explica sintomas, tipos de AVC e importância do atendimento imediato para evitar sequelas graves
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O acidente vascular cerebral (AVC) é a principal causa cardiovascular de morte e a maior causa de incapacidade no Brasil. Reconhecer os sinais de alerta e agir com rapidez pode ser o fator decisivo entre a recuperação e sequelas permanentes.
No dia mundial de combate ao AVC, lembrado nesta quarta-feira (29), a neurologista Ana Dolores Nascimento, coordenadora da Unidade de AVC do Hospital da Restauração (HR), explica como identificar os sintomas e quais atitudes tomar diante de uma suspeita da doença.
Sinais de alerta: o tempo é o principal inimigo
A especialista reforça que os sintomas clássicos aparecem de forma súbita e precisam ser reconhecidos imediatamente. “Os três principais sinais de um AVC são boca torta, fala embolada e fraqueza em um dos lados do corpo. Ao perceber esses sintomas, é fundamental levar o paciente o mais rápido possível para uma emergência”, alerta Ana Dolores.
Para ajudar na memorização, a médica recomenda o uso da sigla SAMU:
- S de sorriso (ver se a boca entorta);
- A de abraço (dificuldade em levantar um dos braços);
- M de música (dificuldade para falar ou cantar);
- U de urgência (em caso de um dos sintomas aparecer, o paciente deve ser socorrido imediatamente, por meios próprios ou pelo Samu (192).
“Cada minuto conta. Quanto mais rápido o atendimento, maiores as chances de devolver o paciente para casa com menos incapacidades”, enfatiza.
O AVC dá sinais dias antes de acontecer?
Nem sempre o AVC ocorre de forma definitiva logo no primeiro episódio. A neurologista explica que há situações em que o paciente apresenta sintomas leves e temporários, como fala embolada ou fraqueza passageira.
“Chamamos de acidente isquêmico transitório. É como se fosse um ‘princípio de AVC’. Em cerca de 20% dos casos, o quadro se repete dias depois, com o AVC se instalando de fato”, explica.
Por isso, mesmo sintomas que duram poucos minutos devem ser tratados como urgência. “O paciente não pode achar que ficou bom e deixar pra lá. É preciso procurar atendimento, pois é uma janela de oportunidade para evitar um AVC maior”.
Isquêmico ou hemorrágico: qual a diferença?
Existem dois tipos principais de AVC. O isquêmico, que representa cerca de 80% dos casos, ocorre quando há obstrução de um vaso sanguíneo no cérebro, geralmente causada por um coágulo ou por uma placa de gordura.
Já o hemorrágico acontece quando o vaso se rompe, levando a um sangramento dentro do cérebro.
“No AVC isquêmico, usamos medicamentos trombolíticos ou realizamos a trombectomia, que é um procedimento para retirar o coágulo. Esse tratamento precisa ser feito em até quatro horas e meia após o início dos sintomas”, detalha a neurologista.
Já o AVC hemorrágico exige controle rigoroso da pressão arterial e, em alguns casos, intervenção cirúrgica. “Em ambos, o tempo é determinante”, reforça.
Cefaleia súbita e outros sintomas menos conhecidos
Embora os sinais clássicos sejam os mais comuns, outros sintomas podem indicar a ocorrência de um AVC. “Além da fraqueza e da fala embolada, o paciente pode ter tontura, visão dupla, dificuldade para enxergar e dor de cabeça intensa”, explica Ana Dolores.
A dor de cabeça associada ao AVC é descrita como súbita e muito forte, diferente da cefaleia comum. “É aquela dor que aparece de repente, muitas vezes acompanhada de fraqueza ou alteração na fala. É um alerta importante”, afirma.
Tudo o que você precisa saber sobre AVC para salvar vidas
Maioria dos casos podem ser evitados
Segundo a neurologista, apenas uma pequena parcela dos casos de AVC estão relacionados a fatores genéticos. A maioria é causada por fatores de risco modificáveis.
“Hipertensão, diabetes, obesidade, fibrilação atrial, sedentarismo e alimentação inadequada são os principais vilões. Controlar a pressão, o peso e manter uma vida saudável é essencial para evitar o AVC”, orienta.
Ela explica ainda que hábitos como praticar atividade física regular, reduzir o consumo de sal e açúcar e evitar embutidos fazem parte das medidas mais eficazes de prevenção. “Mesmo quem tem predisposição genética pode reduzir drasticamente o risco se adotar um estilo de vida saudável”.
Mulheres no puerpério e atenção redobrada
A neurologista alerta também para um grupo que, embora pouco lembrado, requer atenção especial: as mulheres no puerpério, período pós-parto que dura de seis a oito semanas.
“Durante a gestação e no pós-parto, há um aumento natural na formação de coágulos no sangue, o que pode elevar o risco de AVC. Esses fatores trombogênicos precisam ser acompanhados de perto”, diz.
Diagnóstico e tratamento salvam vidas
Ana Dolores reforça que a agilidade no diagnóstico e o acesso rápido ao atendimento especializado são determinantes para o desfecho do paciente.
“O AVC é uma emergência médica. Se for reconhecido e tratado em tempo hábil, é possível evitar sequelas ou até mesmo não ter nenhuma. O importante é não perder tempo”, conclui.