Pesquisa mostra que mulheres cuidam mais da saúde que os homens

Levantamento revela desigualdades de gênero nos cuidados médicos, desconhecimento sobre fatores de risco e impacto do câncer na vida íntima

Por Maria Clara Trajano Publicado em 06/10/2025 às 15:39

Clique aqui e escute a matéria

As mulheres seguem assumindo o protagonismo quando o assunto é saúde — tanto nos cuidados pessoais quanto na responsabilidade pelo bem-estar da família. É o que aponta uma nova pesquisa da Ipsos-Ipec encomendada pela Pfizer, que avaliou as percepções de 1.740 brasileiros sobre o câncer de mama e de próstata, além de hábitos de prevenção e rotinas médicas.

O levantamento foi realizado em São Paulo, no Distrito Federal e nas regiões metropolitanas de Belém, Porto Alegre, Recife e Rio de Janeiro, com participantes de todas as faixas etárias e níveis de escolaridade.

Mulheres se cuidam mais, homens esperam pelos sintomas

Segundo o estudo, 49% das mulheres afirmam realizar check-ups anuais mesmo sem apresentar sintomas, enquanto 39% dos homens só procuram o médico quando algo incomoda. Parte do público masculino ainda evita consultas por medo de descobrir doenças graves ou por falta de tempo.

A diretora médica da Pfizer Brasil, Adriana Ribeiro, observa que o distanciamento dos homens dos serviços de saúde está ligado a fatores culturais. “Adoecer expõe fragilidades, o que contrasta com o conceito tradicional de masculinidade, associado à força e resistência”, afirma.

Além disso, 72% das mulheres disseram ser as principais responsáveis pelos cuidados de saúde da família, percentual que cai para 41% entre os homens. Entre os mais jovens (18 a 24 anos), 41% afirmaram que a mãe é quem mais cuida da saúde doméstica, contra apenas 3% que citaram o pai.

Desinformação sobre fatores de risco

A pesquisa mostra que tanto homens quanto mulheres ainda desconhecem fatores de risco importantes para o desenvolvimento de câncer de mama e de próstata.

Apenas 15% dos homens sabem que pessoas negras têm maior risco de desenvolver câncer de próstata. 40% reconhecem a obesidade como fator de risco, e 51% associam o tabagismo à maior mortalidade.

Entre as mulheres, 71% acreditam que o câncer de mama está mais ligado à herança genética do que aos hábitos de vida — quando, na verdade, apenas de 5% a 10% dos casos têm origem hereditária.

Só 36% das mulheres e 28% dos homens sabem que o consumo de álcool aumenta o risco de câncer de mama.

Segundo a médica oncologista Camilla Natal de Gaspari, da Pfizer Brasil, essa percepção distorcida pode atrasar atitudes de prevenção. “A falsa ideia de que o câncer de mama depende apenas da genética ignora fatores modificáveis, como sedentarismo e obesidade”, explica.

Exames ainda geram dúvidas

Apesar da ampliação do acesso à mamografia no Sistema Único de Saúde (SUS) para mulheres a partir dos 40 anos, mais da metade das entrevistadas (56%) não entende claramente quando o exame deve ser realizado. Uma em cada cinco mulheres acredita que ele só é necessário após achados suspeitos em outros exames.

Também há equívocos em relação à prevenção do câncer de próstata: 70% dos homens não sabem que o exame de toque retal deve ser feito mesmo quando o PSA — exame de sangue que mede uma proteína produzida pela próstata — apresenta resultado normal.

O tabu ainda persiste: em Belém, mais de um quarto dos homens admite desconforto com o exame ou dúvida sobre seu impacto na masculinidade.

Câncer e vida íntima

A pesquisa também abordou o impacto emocional e sexual das doenças. Diante da hipótese de um diagnóstico de câncer, 35% dos participantes afirmaram que contariam primeiro ao parceiro ou parceira.

Entre as mulheres, 57% disseram que a vida sexual não seria uma preocupação diante da gravidade da doença — percepção compartilhada por 41% dos homens.

Já 8% dos homens admitiram que poderiam manter relações com outras pessoas durante o tratamento do parceiro, mas sem abandoná-lo.

“Esses dados mostram como o câncer ultrapassa o corpo e afeta relações, autoestima e dinâmicas familiares”, comenta a oncologista Mariana Pestana, diretora da unidade de Oncologia da Pfizer Brasil.

Compartilhe

Tags