Smartphones agravam sintomas de TDAH e autismo em crianças e adolescentes

Especialistas alertam que exposição prolongada às telas intensifica ansiedade, impulsividade e isolamento social em grupos neurodivergentes

Por Maria Clara Trajano Publicado em 07/09/2025 às 16:43

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O uso constante de celulares, tablets e computadores já mostra efeitos nocivos na saúde mental de crianças e adolescentes.

Entre os mais afetados estão os que têm neurodivergências, especialmente TDAH e autismo, cujos sintomas de ansiedade, impulsividade e dificuldades de socialização são agravados pela exposição prolongada às telas.

A rotina de quem vive com neurodivergências

Rafaela Soares, 36 anos, é jornalista e especialista em marketing, ela deixou a carreira para se dedicar integralmente aos filhos: Ruan, de 11 anos, diagnosticado com TDAH, TOD e deficiência intelectual leve (DI); e Heitor, de 8, que tem apraxia da fala e transtorno do espectro autista (TEA). Rafaela relata que o equilíbrio no uso das telas é uma tarefa diária e necessária.

“É uma luta constante, porque eles adoram os eletrônicos, mas percebo como isso interfere no comportamento, principalmente do Ruan. Então tento sempre buscar brincadeiras ao ar livre, atividades em família e momentos longe do celular. Desopilar das telas é essencial para eles e para mim também”, conta.

O que dizem os especialistas

No caso de pessoas com TDAH/TDA, o ambiente digital oferece estímulos constantes e recompensas rápidas, o que reforça comportamentos impulsivos e reduz ainda mais a capacidade de concentração em atividades que exigem foco sustentado, como leitura, estudos e conversas presenciais.

A preferência por conteúdos curtos e imediatos também dificulta o engajamento em tarefas cotidianas, contribuindo para o aumento da frustração e da ansiedade. Entre os que estão no espectro autista, os prejuízos se acentuam por conta da sensibilidade sensorial característica desse grupo.

Segundo a psicoterapeuta Ana Paula Calado, da Clínica Mundos, estudos já comprovam alterações cerebrais ligadas à atenção e ao controle emocional em jovens superexpostos às telas.

“Estudos científicos recentes apontam que o uso intenso de dispositivos eletrônicos está relacionado a alterações em padrões neurológicos, sobretudo nas áreas cerebrais ligadas à atenção, controle emocional e tomada de decisões", explica.

"As telas emitem luzes intensas, sons variados e movimentos acelerados, que podem provocar sobrecarga sensorial e crises emocionais. Além disso, o uso contínuo de dispositivos pode intensificar o isolamento social, reduzindo as oportunidades de interação no mundo real e comprometendo o desenvolvimento de habilidades socioemocionais”, diz.

Não são só os jovens

Os efeitos também atingem adultos. Entre eles estão distúrbios do sono, maior risco de depressão e ansiedade, além de sedentarismo. A luz azul emitida à noite reduz a melatonina, comprometendo o descanso.

“Além dos danos neurológicos e comportamentais, a dependência digital compromete aspectos importantes da vida, como o convívio familiar, o rendimento profissional e a saúde física”, reforça a especialista.

Caminhos possíveis

Atividades manuais, contato com a natureza e hobbies analógicos são alternativas para reduzir a dependência tecnológica.

“Não é negar a tecnologia, mas usá-la de forma consciente. Estar presente no mundo real nos devolve equilíbrio e humanidade”, completa Ana Paula.

Dicas para reduzir o tempo de tela em casa

  • Defina horários para uso de celulares e videogames;
  • Incentive atividades ao ar livre e esportivas;
  • Estimule hobbies como leitura, pintura e música;
  • Faça refeições em família sem dispositivos;
  • Dê o exemplo: adultos também devem limitar o tempo online.

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