Recife reforça combate às arboviroses com capacitação de 800 agentes

Instabilidade climática e reintrodução do sorotipo 3 da dengue acendem alerta; mutirões e visitas domiciliares serão intensificados

Por Maria Clara Trajano Publicado em 13/08/2025 às 16:13

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A combinação de sol forte pela manhã e chuvas ao longo do dia, típica desta época do ano no Recife, cria o cenário ideal para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya. Para conter o avanço das arboviroses, a Prefeitura iniciou, na última segunda-feira (11), uma grande mobilização com a capacitação de 800 agentes de saúde ambiental e controle de endemias (asaces).

Segundo a secretária executiva de Vigilância em Saúde do Recife, Marcella Abath, a cidade tem experiência no enfrentamento de epidemias, mas o momento exige reforço.

“O Recife está preparado para responder à epidemia de dengue por meio da integração de ações de vigilância, prevenção e assistência. É fundamental que a população se engaje, porque o poder público, por si só, não dá conta desse trabalho”, enfatiza.

Capacitação para intensificar ações em campo

O treinamento, realizado no Centro de Vigilância Ambiental (CVA), atualiza os profissionais sobre vigilância e controle do mosquito, biologia e ecologia do vetor, e uso de instrumentos de monitoramento. As equipes também recebem orientações para mobilizar moradores e eliminar focos.

Vânia Nunes, gerente de Vigilância Ambiental do Recife, reforça que o envolvimento dos moradores é decisivo.

“Mais de 80% dos focos estão dentro dos domicílios. É preciso engajamento de todos na eliminação dos criadouros, esvaziando ou vedando reservatórios, além de manter quintais livres de lixo e entulho. Também reforçamos a importância de permitir a entrada de nossos agentes, devidamente fardados e identificados”, explica.

Reintrodução da dengue tipo 3 preocupa autoridades

A última circulação do sorotipo 3 da dengue no Recife foi em 2002. Desde então, quem nasceu de lá para cá nunca teve contato com o vírus, o que aumenta a vulnerabilidade da população.

“Atualmente, 76,4% dos casos confirmados de dengue no Recife com identificação laboratorial são desse sorotipo. Associado às chuvas frequentes e ao calor, isso é propício para o aumento de casos”, alerta Marcella Abath.

Vânia Nunes explica que a prevenção começa dentro de casa. “Um único imóvel adoece uma comunidade inteira. Para não agravar, o fundamental é a hidratação. Crianças e idosos estão na faixa de maior letalidade da dengue. Ao suspeitar da doença, procure a unidade de saúde mais próxima ou uma UPA.”

Mutirão e denúncias de imóveis abandonados

Entre as áreas prioritárias para intervenção estão os bairros do Ibura e Cohab, onde haverá mutirão de prevenção. As ações incluem visitas domiciliares e orientações sobre limpeza de depósitos e quintais.

Imóveis desocupados também preocupam. “Temos solicitado que, mesmo vazia, a casa não esteja abandonada. Um terreno ou casa nessas condições pode adoecer uma comunidade inteira”, afirma Vânia.

Moradores podem denunciar focos de mosquito em imóveis abandonados pelo telefone 0800 281 1520 ou pelo aplicativo Conecta Recife. Equipes da prefeitura fazem a vistoria e, quando possível, tentam contato com o proprietário para ações conjuntas.

Situação epidemiológica no Recife

De janeiro a julho de 2025, foram notificados 5.290 casos suspeitos de arboviroses na cidade — 4.159 de dengue, 893 de chikungunya e 238 de zika.

Houve redução de 51,2% nos casos notificados e de 28,9% nas confirmações em comparação ao mesmo período de 2024. Até o momento, não houve registro de mortes por arboviroses neste ano na capital pernambucana.

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