Agentes de saúde de Pernambuco são capacitados para detectar peste bubônica em projeto da Fiocruz

O projeto visa evitar surtos da peste em regiões rurais. Para isso é necessário monitoramento constante e rápida resposta das equipes de saúde locais

Por Maria Letícia Menezes Publicado em 14/07/2025 às 10:18

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A peste bubônica, doença infecciosa transmitida por pulgas que parasitam roedores e potencialmente fatal se não tratada, segue sendo motivo de atenção em regiões brasileiras onde existem focos naturais da bactéria Yersinia pestis, que causa a doença.

Embora esteja sob controle e os casos sejam raros, a enfermidade ainda exige ações preventivas para evitar sua reemergência.

Com esse objetivo, agentes de saúde e de combate a endemias de municípios do interior de Pernambuco participaram de uma capacitação voltada ao uso de um teste rápido em cães e de um aplicativo de georreferenciamento de amostras.

As atividades fazem parte de um esforço coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com apoio do Ministério da Saúde, para modernizar a vigilância epidemiológica da peste diante de mudanças ambientais e da diminuição de equipes especializadas.

Testes rápidos e geolocalização de dados tornam vigilância mais eficiente

Na prática, os profissionais são instruídos a aplicar um teste rápido desenvolvido por pesquisadores da Fiocruz, que pode indicar, em poucos minutos, se o animal esteve exposto à bactéria Yersinia pestis.

O exame é feito a partir de algumas gotas de sangue e não exige o envio da amostra para laboratórios, o que agiliza o processo em áreas de difícil acesso.

 “Os cães que testarem positivo não desenvolvem sintomas importantes nem são transmissores da doença, portanto não precisam ser sacrificados. Eles são sentinelas valiosos para a vigilância da doença, indicando onde há circulação do agente causador da peste em animais silvestres”, explica Matheus Bezerra, microbiologista da Fiocruz PE.

Divulgação/Fiocruz PE
- Divulgação/Fiocruz PE

Aplicativo registra localização exata das amostras, mesmo offline

Além dos testes, os agentes estão sendo treinados no uso do aplicativo SISS-Geo (Sistema de Informação em Saúde Silvestre), que permite registrar e georreferenciar cada amostra testada.

A ferramenta, mesmo quando usada em áreas sem acesso à internet, armazena dados de localização por GPS e os sincroniza automaticamente assim que o sinal é restabelecido.

O sistema também é capaz de emitir alertas sobre situações que mereçam maior atenção por parte das autoridades sanitárias.

As atividades mais recentes ocorreram em junho, nos municípios de Exu, Triunfo e Santa Cruz da Baixa Verde, no sertão de Pernambuco. Ao todo, 34 profissionais participaram do treinamento e realizaram testes em 159 cães. A iniciativa segue para os estados de Alagoas e Bahia a partir de agosto. 

Ministério da Saúde alerta para risco de reemergência

Mesmo com número reduzido de casos no Brasil, a peste bubônica continua sendo uma zoonose com potencial de reativação em áreas específicas.

A consultora técnica da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Marília Lavocat, alerta que o abandono da vigilância nos últimos anos representa um risco para populações vulneráveis.

“Com as transformações ambientais nas áreas historicamente endêmicas e a saída de muitos profissionais especializados, tornou-se essencial retomar essas ações com uma nova abordagem. Estamos redefinindo objetivos, incorporando novas tecnologias e capacitando equipes locais para fortalecer o monitoramento, a detecção precoce e a resposta rápida”, declarou.

O debate também está em alta fora do Brasil. Recentemente, um morador do Arizona (EUA) morreu vítima da bactéria Yersinia pestis, causadora da peste.

A peste bubônica foi a responsável pela devastadora Grande Peste na Idade Média, uma das pandemias mais mortais da história.

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