Alimentação emocional: entenda a diferença entre fome e ansiedade e como evitar excessos
Desejo repentino por comida, culpa após comer e busca por alívio emocional podem ser sinais de fome emocional, alertam especialistas

A forma como nos alimentamos está profundamente conectada às emoções. Muito além da função fisiológica de fornecer energia ao corpo, comer pode se tornar um mecanismo de compensação emocional, levando ao que especialistas chamam de fome emocional — um padrão que, quando frequente, pode desencadear problemas de saúde e desequilíbrios na relação com a comida.
A nutricionista Juliana Moreira, docente da Estácio, explica que há diferenças claras entre a fome real e a emocional.
“A fome física é uma resposta natural do organismo, surge gradualmente e apresenta sinais como estômago roncando, cansaço e irritabilidade. Já a fome emocional aparece repentinamente, sem relação com a necessidade nutricional real, e costuma vir acompanhada de desejos por alimentos específicos, geralmente ricos em açúcar e gordura”.
Já a psicóloga Ana Cristina Fabbri, também docente da Estácio, reforça que a alimentação frequentemente reflete o estado emocional.
“Muitas pessoas recorrem à comida para aliviar emoções como estresse, tristeza, ansiedade ou até mesmo alegria. Isso acontece porque determinados alimentos estimulam a liberação de substâncias ligadas ao prazer, como a dopamina e a serotonina, promovendo uma sensação momentânea de bem-estar”.
Quando a emoção vai direto ao prato
Segundo Fabbri, esse alívio proporcionado pela comida pode se tornar um ciclo vicioso. “O alívio proporcionado pela comida é passageiro. Muitas vezes, a pessoa sente culpa ou arrependimento depois de comer, o que pode gerar novas emoções negativas e, consequentemente, mais episódios de fome emocional”.
Momentos de tristeza, ansiedade ou frustração são comumente associados a episódios de compulsão alimentar, especialmente por comidas que trazem conforto, como doces, massas e alimentos ultraprocessados.
“Muitas vezes, uma comida específica está ligada a memórias afetivas, trazendo conforto e sensação de pertencimento. No entanto, quando isso se torna um hábito frequente e automático, pode indicar um problema”, alerta Fabbri.
Além disso, há uma relação fisiológica entre alimentação e emoções: o intestino, conhecido como “segundo cérebro”, é responsável por cerca de 90% da produção de serotonina, neurotransmissor ligado à sensação de bem-estar. Ou seja, o que comemos influencia diretamente o humor e o estado emocional interfere nas escolhas alimentares.
Estratégias para retomar o equilíbrio
Para quebrar esse ciclo, é essencial desenvolver uma relação mais consciente com a comida. “O ideal é desenvolver um olhar mais consciente sobre a relação com a comida. Perguntar-se ‘estou com fome ou estou ansioso?’ antes de comer pode ajudar a identificar gatilhos emocionais e evitar escolhas impulsivas”, orienta Juliana Moreira.
Atividades físicas regulares, alimentação equilibrada e práticas que estimulem o autoconhecimento, como a meditação, ajudam a reduzir a dependência emocional da comida. “Praticar exercícios físicos, investir em uma alimentação rica em nutrientes e buscar estratégias para lidar com as emoções de forma saudável são caminhos eficazes para evitar que a comida se torne uma válvula de escape”, afirma Fabbri.
Juliana ainda recomenda incluir alimentos ricos em triptofano, como banana e castanhas, e fontes de ômega-3, como peixes, que auxiliam na produção de serotonina e promovem maior saciedade.
Se os episódios de alimentação emocional forem frequentes e estiverem prejudicando o bem-estar físico ou emocional, o acompanhamento profissional é fundamental. “O acompanhamento de um nutricionista e de um psicólogo pode ajudar a compreender as causas desse comportamento e encontrar estratégias mais equilibradas para lidar com as emoções”, conclui Juliana.