ASSISTÊNCIA HOSPITALAR | Notícia

Hospital Correia Picanço encerra atendimento em UTI pediátrica, e leitos vão para o Barão de Lucena

Previsão é que transferência do Correia Picanço para o Barão ocorra até a sexta-feira (21). Profissionais irão, inicialmente, por cessão temporária

Por Cinthya Leite Publicado em 16/06/2025 às 21:19

Na tarde desta segunda-feira (16), a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE) trouxe explicações sobre o caso do Hospital Correia Picanço, no bairro da Tamarineira, Zona Norte do Recife. O esclarecimento veio somente cinco dias após as primeiras declarações de profissionais de saúde sobre o risco de desmonte da unidade de terapia intensiva (UTI) pediátrica do hospital, que é referência no tratamento de meningites e outras doenças infectocontagiosas.

SES-PE confirma a transferência de leitos de UTI do Correia Picanço para o Hospital Barão de Lucena, no bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife. A decisão, segundo a pasta, busca ampliar resposta ao crescimento acelerado de doenças respiratórias graves em crianças (síndrome respiratória aguda grave, conhecida pela sigla srag).  

O órgão garante que a reestruturação a rede hospitalar para ampliar a capacidade de atendimento pediátrico. A principal mudança é a transferência da equipe multiprofissional da UTI pediátrica do Correia Picanço para o Barão de Lucena, onde serão abertos dez novos leitos de terapia intensiva voltados a casos de maior complexidade.

A medida busca dar uma resposta imediata à elevada pressão por leitos. "Nas últimas semanas, foram registrados mais de 350 pedidos de UTI pediátrica em Pernambuco, e estamos com uma taxa de ocupação que varia de 97% a 100%. Em média, são 70 crianças em fila de espera por UTI", disse ao JC a secretária de Saúde de Pernambuco, Zilda Cavalcanti. 

Ela ressalta que a mudança busca otimizar os recursos da rede com foco no cuidado integral às crianças. "Hoje, uma equipe de UTI é capaz de atender até dez leitos. No Correia Picanço, temos cinco leitos disponíveis, o que significa que essa equipe pode trabalhar com maior demanda. No Barão de Lucena, temos estrutura para abrir dez leitos e dar maior resolutividade aos casos graves de doenças respiratórias e um aproveitamento completo da equipe".

Além desses dez leitos que serão abertos com a chegada da equipe, o Hospital Barão de Lucena já possui outros oito leitos de UTI pediátrica em funcionamento. Com isso, vai para 18 vagas de terapia intensiva. 

A prioridade neste momento, segundo Zilda, é responder à sazonalidade das doenças respiratórias em crianças, que vem crescendo, especialmente com o aumento dos casos de vírus sincicial respiratório (VSR). 

Outro ponto destacado pela secretária é o perfil assistencial dos hospitais envolvidos. "O Correia Picanço é um hospital de baixa complexidade, sem capacidade instalada para procedimentos de alta complexidade. Já o Barão de Lucena dispõe de infraestrutura adequada para a assistência intensiva pediátrica", o que foi decisivo na escolha do local para a abertura dos novos leitos.

A decisão, no entanto, provocou questionamentos por parte de entidades médicas e da sociedade civil, especialmente em relação à assistência a crianças com meningite, tradicionalmente acolhidas no Correia Picanço.

Em resposta, a SES-PE reuniu-se, nesta segunda-feira (16), com representantes do Correia Picanço, do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) e do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) para apresentar o novo fluxo de atendimento.

A assistência aos casos de meningite pediátrica será transferida para o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), no bairro de Santo Amaro, área central da cidade. A instituição possui enfermarias e UTIs especializadas em doenças infectocontagiosas. Por enquanto, será mantida, no Correia Picanço, a coleta do líquor (LCR), também conhecido como líquido cefalorraquidiano - um procedimento que envolve a extração de uma amostra do fluido que envolve o cérebro e a medula espinhal. Essa coleta é fundamental para diagnosticar meningite e outras condições que afetam o sistema nervoso central. 

De acordo com dados da SES-PE, em 2024, o  registrou 119 casos pediátricos de meningite, dos quais 17 exigiram internação em UTI. Durante o ano, a ocupação da UTI pediátrica no HCP chegou a ficar abaixo de 40%. "Essa análise embasa a decisão pela transferência das equipes e a otimização dos leitos para o atendimento a casos de srag no Barão de Lucena", diz a nota da SES-PE. 

A previsão é que a transferência da equipe do Correia Picanço para o Barão de Lucena ocorra até a próxima sexta-feira (21). Os profissionais irão, inicialmente, por meio de cessão temporária. A SES-PE também anunciou a criação de um grupo de trabalho para reavaliar o perfil do Correia Picanço dentro da rede estadual.

A ação faz parte do plano de contingência lançado em fevereiro deste ano, que viabilizou a abertura de 305 novos leitos pediátricos no Estado. Além disso, o Decreto Estadual nº 58.686, publicado em 25 de maio, autoriza medidas emergenciais por 90 dias, incluindo o credenciamento de leitos em unidades privadas e filantrópicas. 

"A governadora Raquel Lyra garantiu o orçamento necessário para proteger nossas crianças. A ampliação no Barão de Lucena é uma resposta direta e planejada diante de uma situação emergencial, e estamos usando toda a rede de forma estratégica para salvar vidas", salienta Zilda Cavalcanti.

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