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Arturo Gatti: morte do boxeador canadense em flat em Porto de Galinhas em condições misteriosas

Corpo de Arturo Gatti estava caído no meio da sala. O pugilista trajava apenas cueca. Ao lado dele, uma alça de bolsa suja de sangue

Por Elton Ponce, Raphael Guerra Publicado em 09/10/2021 às 8:46 | Atualizado em 08/10/2025 às 15:21

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O que aconteceu com Arturo Gatti? Essa era a pergunta que todos faziam em junho de 2009, quando o boxeador canadense foi encontrado morto em um flat na Praia de Porto de Galinhas, Litoral Sul de Pernambuco.

O corpo de Gatti estava caído no meio da sala. O pugilista trajava apenas cueca. Ao lado, uma alça de bolsa suja de sangue. Peritos criminalistas encontraram duas marcas de ferimentos: uma no pescoço e outra na parte de trás da cabeça dele".

Começava aí uma das mais emblemáticas investigações em Pernambuco, com repercussão nacional e internacional, peritos particulares contratados, muita especulação durante vários anos. Herança, famílias, suspense e reviravoltas marcaram o caso.

Arturo Gatti: morte

Poucas horas depois de ter início mais um plantão no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a força-tarefa sul foi acionada. A equipe, comandada pelo delegado Josedite Ferreira, seguiu às pressas para a praia de Porto de Galinhas.

Não era um caso comum: um ex-boxeador canadense havia sido encontrado morto dentro de um flat. Era manhã de 11 de julho de 2009. O corpo de Arturo Gatti estava caído no meio da sala.

O pugilista trajava apenas cueca. Ao lado, uma alça de bolsa suja de sangue. Peritos criminalistas encontraram duas marcas de ferimentos: uma no pescoço e outra na parte de trás da cabeça dele.

À polícia, Amanda Rodrigues, esposa de Gatti, contou que foi a primeira pessoa a encontrar o corpo. Dizia estar em choque pelo suicídio do marido.

Foto: Alexandre Belém/JC Imagem
Dentre os pedidos feitos pelo MPPE está o esclarecimento por parte do Instituto de Criminalística (IC) a respeito da análise da tração e resistência da alça de uma bolsa, que teoricamente serviu para o enforcamento da vítima - Foto: Alexandre Belém/JC Imagem

Diante do cenário, Josedite Ferreira pediu que ela o acompanhasse até o DHPP. Era preciso, naquele momento, um depoimento formal da mulher - a única que estava dentro de casa com o lutador, além do filho do casal, de apenas um ano.

Delegado experiente, Josedite não tinha dúvidas: Amanda havia assassinado o próprio marido, por enforcamento, enquanto ele dormia. Mas tudo foi negado por ela, que revelou ter tido uma discussão na noite anterior por conta de ciúmes.

Gatti, embriagado, teria a agredido. Mesmo assim, foram para casa e dormiram. Somente no meio da manhã, ao acordar, é que ela teria visto o corpo e acionado a polícia. Ao final do depoimento, a surpresa.

Na condição de viúva, ela foi informada que seria autuada em flagrante por homicídio e encaminhada à Colônia Penal Feminina. "Há contradições", sentenciou Josedite Ferreira.

À imprensa, ele ainda afirmou que a mulher teria questionado sobre a possibilidade de outra pessoa ter entrado no quarto. "Humanamente impossível isso. No quarto só entra quem tem cartão magnético. E fica no segundo andar. Não tinha como alguém ter subido pela janela", disse à época.

Foto: Clemilsom Campos/JC Imagem
Amanda Carine Barbosa Rodrigues chegou a ser presa após a morte de Gatti - Foto: Clemilsom Campos/JC Imagem

Amanda permaneceu por 19 dias presa até que a Justiça concedeu o habeas-corpus, graças a uma reviravolta no caso. Laudos dos institutos de Medicina Legal e Criminalística apontaram que o ex-boxeador havia cometido suicídio.

O delegado Paulo Alberes, que havia assumido as investigações, decidiu seguir a tese dos peritos e encerrou o caso concluindo que Amanda era inocente e que a vítima tirou a própria vida em um momento de fúria. Mas os familiares de Gatti não aceitaram esse resultado.

Para eles, a mulher do ex-boxeador foi responsável pelo assassinato dele com o objetivo de ficar com a herança. O testamento havia sido modificado cerca de um mês antes dele morrer.

Nas linhas, Gatti afirmava que tudo seria deixado para Amanda e para os filhos. O Ministério Público de Pernambuco seguiu a tese da polícia. Pediu o arquivamento do processo.

Em 2011, o caso Arturo Gatti volta à tona:peritos particulares, contratados pela família do lutador revelam supostas contradições nos laudos dos profissionais pernambucanos.

Eles concordaram com a teoria do enforcamento. Mas, enquanto os peritos daqui afirmaram que a morte foi provocada por asfixia após o ex-boxeador se enforcar, os estrangeiros garantiram que a asfixia foi provocada por "ação homicida". A novela Gatti ganhava novo capítulo.

O Ministério Público de Pernambuco decidiu analisar as duas perícias para decidir se o caso seria reaberto. E foi o que aconteceu meses mais tarde, já em 2012.

A promotora de Justiça Paula Catherine Ismail anunciou à imprensa que novas diligências e solicitações de perícias complementares seriam necessárias para esclarecer a morte de Gatti.

Amanda Rodrigues estava de volta à condição de suspeita. Mas com um vitória: a Corte Superior de Justiça da cidade de Quebec, no Canadá, decidiu que ela e o filho teriam direito a US$ 3,4 milhões (aproximadamente R$ 6,1 milhões) do patrimônio do ex-lutador.

Sem alarde, todas as solicitações de perícias foram atendidas, a pedido da Justiça. No ano seguinte, a promotora afirmou novamente que Gatti cometera suicídio. O caso estava encerrado.

"Não havia qualquer indício de homicídio nos exames realizados pelos peritos. Para mim, não há dúvidas de que foi suicídio. E a justiça acatou a recomendação do Ministério Público para que o processo fosse arquivado", revelou a promotora Paula Ismail, em entrevista à coluna Ronda JC em 2016. 

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