Bike PE: Sem expansão, sem integração, sem manutenção e sem confiabilidade
Não é só briga política. Decadência do Bike PE, cada vez com mais problemas e sem crescer, fez Prefeitura do Recife lançar novo sistema para a capital

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A decisão da Prefeitura do Recife de lançar o seu próprio sistema de compartilhamento de bicicletas públicas vai além da briga política entre os praticamente certos rivais nas eleições para o governo do Estado, o prefeito João Campos (PSB) e a governadora Raquel Lyra (PSD). Quem acha que é só política pode estar com um olhar tacanho.
A necessidade de um novo sistema de bike share é urgente para toda a Região Metropolitana do Recife e, ainda mais, para a capital pernambucana. Pelo menos para os usuários do sistema, que sentem na pele a decaída que o Bike PE - operado pela empresa Tembici em parceria com o Banco Itaú - vem sofrendo a olhos vistos e pedaladas, principalmente nos últimos dois anos.
Sem a manutenção devida, a expansão e a integração intermodal prometida desde que foi criado ainda em 2011, o Bike PE vem perdendo a confiabilidade, requisito número um para qualquer tipo de modal de transporte, mesmo os ativos (não motorizados). Até mesmo a robustez das bicicletas - característica da tecnologia canadense PBSC -, que fizeram e ainda fazem toda a diferença no sistema, está comprometida.
Problemas nas marchas, nos pedais, correntes, pneus e até mesmo freios são cada vez mais comuns entre as 900 bicicletas que oficialmente estariam disponíveis nas 90 estações instaladas no Recife (quase a totalidade) e as poucas disponíveis nas cidades de Olinda e Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife.
Assim como problemas de encaixe nos docks individuais das estações (onde as bicicletas são acopladas), que também fizeram toda a diferença quando a Tembici virou a operadora do sistema, substituindo a pernambucana Serttel como parceira do Itaú.
Esses problemas mais recentes se somam a outros mais antigos, como a expansão do sistema e a integração com o transporte público, que por anos foi permitido com o cartão VEM usado nos ônibus da RMR. Ou a dificuldade de encontrar bicicletas para retirar e docks disponíveis para devolução nos horários de pico.
Outro exemplo é a expansão para a periferia, avanço prometido desde o início do sistema que nunca aconteceu. Com pouquíssimas exceções, apenas bairros nobres e o Centro do Recife têm estações.
“Infelizmente, a degradação do Bike PE é uma realidade e já faz algum tempo. Antes, o grande problema era não ver ele crescer, ir para bairros mais afastados do Centro e a velha dificuldade de disputar uma bicicleta aos domingos, quando a população usa para lazer. Agora, tirando poucas estações, faltam bikes com frequência e muitas têm apresentado problemas de manutenção sérios”, critica o servidor público João Carlos Pimenta, que usa o Bike PE todos os dias da semana para ir e voltar do trabalho.
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“Tem sido difícil encontrar uma bicicleta hoje em dia perfeita, macia, sem problemas nas marchas, bancos ou pedais. E isso quando você acha uma bike, principalmente no Centro do Recife. Já ouvi falar que o uso do sistema pelos entregadores de delivery tem provocado essa rápida degradação e a ausência de bicicletas, principalmente no fim do dia. Lamento muito porque gosto demais do serviço e acho ele fundamental para a cidade”, diz o universitário Henrique Santos, que costuma usar o Bike PE pelo menos três vezes por semana.
AVALIAÇÕES SOBRE O SISTEMA CONFIRMARAM A DEGRADAÇÃO



Uma tese de mestrado do curso de Administração Pública da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), divulgada pela Coluna Mobilidade em março deste ano, comprovou os problemas que os usuários do Bike PE têm enfrentado diariamente.
Além dos problemas já citados, o estudo constatou que o sistema já teria começado errado, com poucas estações, baixa capilaridade e, principalmente, sem integração com os sistemas de transporte público, tanto ônibus como metrô.
A tese Cadê a bike? Um estudo sobre a implementação das estações de bicicletas compartilhadas na Região Metropolitana do Recife, sob a perspectiva da governança pública, aponta que apenas 3% das estações do sistema têm proximidade com o transporte de média e alta capacidade e, mesmo assim, tudo concentrado na área central.
E que, para ter uma efetiva presença na RMR, o ideal era que o número de estações fosse três vezes maior do que é hoje. Pelo menos. A análise aponta que deveriam ser ao menos 300 estações na Região Metropolitana do Recife, enfatizando que as 90 estações que seguem até hoje, mesmo após 14 anos de implantação do Bike PE, estão muito abaixo do necessário.
Além de serem poucas, a distância entre elas também é desestimulante: chega até a um quilômetro.
GESTÃO FRACA E OPERAÇÃO INSUFICIENTE



Os problemas do Bike PE parecem não ser percebidos nem pelo gestor do sistema - o governo de Pernambuco -, muito menos pelos operadores, no caso a Tembici. A reportagem tentou por várias vezes e de diversas formas conseguir um retorno sobre a degradação das bikes e da operação com a empresa, sem sucesso.
Apenas o Estado se posicionou por nota, mas mesmo assim afirmando que está tudo muito bem e que o Bike PE está funcionando satisfatoriamente. “O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Mobilidade e Infraestrutura (Semobi), informa que o contrato para a operação do Sistema de Bicicletas Públicas Compartilhadas no Recife e Região Metropolitana, conhecido como Bike PE, está vigente e em plena execução”, afirma.
E segue dizendo que o contrato foi renovado este ano. “Renovado em março deste ano, o contrato atendeu a manifestação de uma das partes e teve a renovação de 12 meses, com término previsto para 30 de março de 2026. O documento prevê ainda a possibilidade de prorrogação, mediante a nova manifestação de uma das partes: o Governo de Pernambuco ou a empresa Tembici, responsável pela operação do serviço”.
Também garante o funcionamento. “A Semobi esclarece que as 90 estações do BIKE PE, com mais de 1.300 bicicletas (esse dado não confere com as informações apuradas pela reportagem, vale destacar) espalhadas por pontos estratégicos da cidade, seguirão em pleno funcionamento, de acordo com o contrato vigente, firmado até o próximo ano.
O Sistema de Bicicletas Públicas Compartilhadas é uma iniciativa de mobilidade sustentável, que amplia as opções de deslocamento da população, incentiva o transporte alternativo e contribui para a melhoria da qualidade de vida urbana. A Semobi reforça o compromisso em fomentar ações que estimulem o uso de modais não poluentes, oferecendo aos usuários mais segurança, conforto e condições adequadas de circulação”, finaliza na nota.
PREFEITURA DO RECIFE QUER SISTEMA MAIS MODERNO E COM BIKES ELÉTRICAS
Enquanto o Estado e a operadora do Bike PE seguem achando que está tudo perfeito com o sistema de bike share pernambucano, a Prefeitura do Recife corre por fora e busca uma operação mais moderna, ampla e eficiente para o serviço na capital.




No dia 27/9, a gestão municipal lançou o edital de licitação para a concessão do sistema de bicicletas compartilhadas, processo coordenado pela Secretaria Executiva de Parcerias Estratégicas. O contrato de concessão terá uma vigência de dez anos com a empresa vencedora, no valor de até R$ 101.983.914,11 milhões.
Com a concessão, a proposta é de que o sistema passe por uma significativa ampliação e modernização. Confira os principais pontos exigidos:
Estações: Recife contará com 120 estações distribuídas pela cidade, representando uma expansão de 51,90% em relação aos atuais 79 pontos - total de estações do Bike PE na capital atualmente.
Frota: A frota total será de 1.200 bicicletas. A quantidade de bicicletas convencionais será ampliada, saindo de cerca de 700 para 960 unidades.
Inovação: O diferencial desta nova implementação será a inclusão de 240 bicicletas elétricas no sistema de compartilhamento.
Tecnologia: Todas as 1.200 bicicletas terão monitoramento via GPS. Os usuários poderão utilizar o serviço através de um aplicativo e site próprios para retirada e devolução nas estações.
A sessão pública de licitação será realizada eletronicamente no dia 27/11, às 10h. E a previsão é que a assinatura do contrato aconteça até fevereiro de 2026. Os documentos da licitação estão disponíveis no site oficial https://parcerias.recife.pe.gov.br/projetos/concessao-bicicletas-compartilhadas.