VLTização do BRT: Avança proposta de transformar corredores de BRT em transporte sobre trilhos
Projeto foi anunciado pela Prefeitura do Rio de Janeiro ainda em 2022 e agora está sendo finalizado para ser licitado após aprovação de vereadores

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O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD) reafirmou nesta segunda-feira (4/8) seu ambicioso projeto de substituir os ônibus do sistema BRT por Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs) nos corredores das Zonas Oeste e Norte do Rio de Janeiro.
A proposta, apresentada aos vereadores aliados no Palácio da Cidade, é a principal na área da mobilidade urbana e prevê a instalação de trilhos para a circulação de 160 composições de bonde. Se aprovado, o plano consolidará a cidade com uma malha de 251 km de VLT, tornando-se a maior nesse tipo de transporte nas Américas.
O projeto, conhecido como “VLTzação do BRT”, tem sido elaborado pela equipe de Paes desde 2022. A previsão é que a licitação para a substituição dos ônibus BRT por VLTs seja lançada ainda em 2025. Os corredores BRT Transoeste, que conecta Jardim Oceânico a Campo Grande/Santa Cruz, e Transcarioca, de Alvorada ao Galeão, serão transformados em linhas de VLT. A prefeitura projeta que 85 composições atenderão a Zona Oeste e 75 a Zona Norte.
“VLTIZAÇÃO” CUSTARÁ R$ 12 BILHÕES
Estudos recentes do BNDES apontam que a troca dos sistemas de ônibus articulados pelo novo sistema sobre trilhos terá um custo avaliado em R$ 12 bilhões. Embora os detalhes técnicos e financeiros completos não tenham sido divulgados no anúncio mais recente, análises anteriores indicavam que a conversão dos BRTs e a inclusão de uma nova ligação de VLT na Zona Sul da cidade totalizariam um custo de R$ 14,8 bilhões.
A viabilidade do projeto se baseia na premissa de que é possível instalar trilhos sobre a pista onde já circulam os BRTs, exigindo adaptações nas estações para a altura dos bondes.
A gestão municipal afirmou na coletiva de imprensa realizada esperar que, com a chegada do VLT, a demanda de usuários aumente de 420 mil para 500 mil passageiros por dia nos corredores Transoeste e Transcarioca, tornando-os mais atrativos e eficazes para a população carioca.
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Além dos corredores de BRT, o projeto de "VLTzação" contempla a implantação de um VLT ligando o metrô de Botafogo à Gávea, com previsão de início de operação no primeiro semestre de 2025. Este trecho terá 12 quilômetros de extensão e 13 paradas, além de um Centro Integrado de Operação e Manutenção, e será uma Parceria Público-Privada (PPP).
PROPOSTA EM AJUSTES PARA SER VOTADA NA CÂMARA MUNICIPAL
Segundo o prefeito, a proposta já está em fase de preparação para envio à Câmara Municipal e deverá provocar debates aprofundados entre os vereadores nas comissões da Casa nas próximas semanas. A Prefeitura do Rio de Janeiro justifica a mudança de modal sob o argumento de que o VLT qualifica o sistema viário, tem o dobro da capacidade dos ônibus articulados, oferece intervalos regulares, é mais seguro, gera maior conforto para o passageiro, não produz ruído, é sustentável e se integra à paisagem urbana.
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O prefeito Eduardo Paes enfatizou que o projeto é um planejamento de longo prazo que precisa ultrapassar governos e que buscará financiamento externo. “Garantimos que nada do que foi feito na infraestrutura dos BRTs será perdida. Ao contrário, facilitará a viabilidade do plano e ajudará a reduzir os custos”, disse. Paes também assegurou que todos os planos já anunciados para o BRT, como a compra de ônibus e reformas, serão cumpridos em seu tempo de governo, buscando ajustar o sistema para que a população não sofra com o abandono.
No entanto, a "VLTzação" suscita discussões sobre o possível desperdício de dinheiro público, uma vez que a maior parte dos investimentos nos corredores de BRT do Rio de Janeiro foi federal, via os Programas de Aceleração do Crescimento (PACs) da época. O sistema BRT do Rio, em particular, enfrentou um processo de degradação considerável, levando a um processo de intervenção municipal e à assunção da gestão e operação pela empresa pública Mobi-Rio.
Apesar das críticas, na época do primeiro anúncio, ainda em 2022, especialistas como Rafael Calabria, ex-coordenador de Mobilidade Urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), aprovam a proposta, afirmando que não a veem como desperdício, mas sim como um investimento que gerará impactos positivos enormes: ambientais, sociais, urbanos. Ele destacou que as estações existentes podem ser aproveitadas, reduzindo gastos.
Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), também expressou aprovação na época, afirmando que a notícia "soou como música para o setor ferroviário brasileiro".