Conedu 2025 discute integração entre educação e trabalho para jovens e adultos que não concluíram os estudos na idade adequada

Especialistas destacam que é preciso debater a EJA, considerando o contexto social e territorial de jovens e adultos que não concluíram os estudos

Por Mirella Araújo Publicado em 03/10/2025 às 18:14

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No país em que, segundo dados do Censo Escolar 2024, mais de 66 milhões de pessoas não concluíram o ensino básico e estão fora da escola, na outra ponta, há um cenário de retração da Educação de Jovens e Adultos (EJA) que atingiu o seu menor patamar no ano passado, com 2,4 milhões de matrículas. 

Apesar da alta demanda existente, é preciso debater o ensino para jovens e adultos que não concluíram  o ensino fundamental ou médio na idade esperada, compreendendo o contexto social e territorial em que estes alunos estão inseridos. Essas questões foram debatidas na Mesa "A EJA e a EPT na Fundação Bradesco: o impacto da educação na formação para o trabalho", realizada nesta sexta-feira (3), no Congresso Nacional de Educação (Conedu) 2025, no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda. 

Para Fernando Frochtengarten, gerente de Educação Continuada da Fundação Bradesco, ainda há uma relação conflitante sobre escola e trabalho e isso pode ser observando quando muitos jovens não concluíram os estudos porque precisaram trabalhar, ao mesmo tempo, que muitos retornam a escola para melhorarem as oportunidades no mercado de trabalho. Ou seja, é preciso que as políticas considerem estas duas realidades para investir em educação de qualidade e oportunidades de emprego e renda. 

"O estudante da EJA não é o estufdante que trabalha, mas o trabalhador que estuda", disse Fernando. Uma pesquisa recente do Itaú Educação e Trabalho e da Fundação Roberto Marinho revelou que a conclusão da EJA aumenta as chances de conseguir emprego formal e eleva a renda dos trabalhadores, especialmente jovens entre 19 e 24 anos, que podem ter um aumento de até 7,5% na renda mensal.

Mas diante desse cenário, o especialista também chama atenção para o risco de reduzir a modalidade a processos de aceleração e certificação. "Muitas vezes temos assistido ao sucateamento da EJA, que se volta a prática de aceleração, mas para além disso, a gente precisa pensar como a escola contribui com práticas de letramento, tanto escritas como orais, prática de numerando, uso das tecnologias digitais, além da escola poder abrir para outras formações subsequentes, que a gente sabe que contribui para a ampliação das possibilidaes do mercado de trabalho", afirmou Fernando Frochtengarten.

Trabalho como princípio normativo

O Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024) previa que 25% das matrículas da EJA estivessem articuladas com o ensino técnico até o ano passado. Entretanto, a meta chegou a apenas 6% dessas matrículas integradas.

Isso se reflete tanto nas fragilidades das políticas públicas para a modalidade de ensino quanto na dificuldade prática de conciliar jornadas de trabalho com a carga horária exigida pelo currículo escolar.

Segundo Edson Lanzoni, gerente de Ensino da Fundação Bradesco, e que também esteve presente na mesa, é importante repensar essa relação entre escola e trabalho sob a perspectiva do ensino técnico. Na semana passada, foi assinado o Decreto nº 12.603/2025, que institui a Política Nacional de Educação Profissional e Tecnológica (PNEPT) no Brasil. O decreto também cria o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Profissional e Tecnológica (Sinaept).

Para Edson, o documento propõe um caminho intermediário entre a visão meramente técnica e a ideia de vocação, incluindo competências socioemocionais como cooperação, pensamento crítico e criatividade.

"O plano traz o trabalho como princípio formativo, não apenas como técnica ou certificação. Ele aponta que a integração deve envolver ciência e sustentabilidade, cultura e tecnologia. Está na hora de a educação profissional dialogar com as grandes áreas do saber que a cultura acumulou", explicou.

Todos esses pontos precisam estar inseridos dentro de uma escola que não deixe a "vida real" fora dos seus muros, mas que faça o exercício diário de trazer as práticas sociais para dentro da sala de aula.

Fundação retoma a EJA em Pernambuco

O município de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife, será uma das oito cidades a oferecer turmas de Educação de Jovens e Adultos por meio da Fundação Bradesco a partir de 2026. A retomada dessa modalidade de ensino também contemplará unidades em Osasco (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Natal (RN), São Luís (MA), Teresina (PI) e Manaus (AM).

As inscrições estão abertas até 31 de outubro de 2025 e devem ser feitas presencialmente nas secretarias das escolas participantes, das 16h às 21h. O curso é gratuito e oferece certificado reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC).

Em Jaboatão, a Escola atua há 42 anos no bairro de Dois Carneiros. O diretor da escola, Márcio Maia, explica que a unidade trabalha desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Agora, a retomada da EJA, em uma comunidade onde mais de 50% dos pais de alunos não têm escolaridade, tem um significado de reparação histórica e social.

"Não apenas para o pai do aluno, que terá condições não somente de acompanhar o processo pedagógico do filho, mas, principalmente, porque trará a oportunidade de ele se recolocar profissionalmente e de ter possibilidades de ver sua vida transformada na fase adulta. E tem que ser uma escola para trabalhador", afirmou o diretor.

O Conedu 2025 segue com programação até o próximo domingo (5). O evento reúne professores da educação básica, docentes do ensino superior, estudantes de graduação e pós-graduação, além de estudantes de ensino médio e técnico.

 

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