Educação de Jovens e Adultos (EJA) ainda enfrenta desafios para garantir a permanência dos estudantes nas escolas

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) vem enfrentando um recuo expressivo em todo o país. O Censo Escolar 2024 revelou que o número de matrículas caiu de 2,5 milhões, em 2023, para 2,1 milhões neste ano, representando uma redução de 16% no total de estudantes atendidos.

Entre os principais fatores estão as desigualdades sociais e econômicas, que afetam o acesso e a permanência dos alunos, além da ausência de políticas públicas eficazes para combater a evasão escolar entre jovens e adultos que não concluíram o Ensino Fundamental ou Médio.

Em Pernambuco, foram registradas 48.675 matrículas na EJA no Ensino Médio em 2023, sendo 47.030 em escolas públicas estaduais, 114 na rede municipal, 1.191 na rede privada e 340 na rede federal.

No ano seguinte, o total de matrículas subiu para 50.136, representando um crescimento de aproximadamente 3%. Apesar do aumento geral, os dados mostram uma concentração ainda maior na rede estadual, que passou a ter 48.862 inscritos — um crescimento de 3,9%. Por outro lado, a rede municipal teve uma leve queda de 3,5%, passando de 114 para 110 matrículas.

A rede privada também registrou redução, com queda de 18,4%, indo de 1.191 para 972 matrículas. Já a rede federal apresentou a maior retração proporcional, com uma diminuição de 43,5%, caindo de 340 para 192 alunos, segundo dados do Censo Escolar 2024.

Busca Ativa 

A Secretaria de Educação do Estado (SEE-PE) iniciou uma campanha em março deste ano, a campanha  "Dia D: Mobiliza EJA". Segundo a pasta, foram alcançadas 15.653 novas matrículas para a rede estadual de ensino. 

A mobilização, que atingiu todas as regiões do Estado, foi realizada com base no Pacto Nacional pela Superação do Analfabetismo e Qualificação na Educação de Jovens e Adultos, lançado pelo Governo Federal em 2024. 

A secretária executiva de Desenvolvimento da Educação, Ana Lucia Barbosa, destacou que o trabalho da rede estadual precisa ir além de garantir o retorno dos estudantes à sala de aula. Segundo ela, é essencial assegurar também a permanência dos jovens e adultos na escola e a conclusão de seus estudos.

Atualmente, o índice de conclusão da EJA no Ensino Médio, na rede estadual, é de 73%. Das 1.068 escolas da rede, 434 ofertam o EJA Urbano, contemplando cerca de 56 mil estudantes, e 109 escolas da EJA Campo, que tem cerca de 10 mil estudantes. A meta da SEE, no entanto, é elevar esse percentual em 20%.

"A manutenção desse estudante da EJA é o maior problema em todas as redes — estadual, municipal e privada. São turmas que começam com 25 alunos e, na metade do ano, já têm apenas 16. No fim, só concluem entre 10 a 8 estudantes. Então, é isso que precisamos trabalhar na EJA: o que leva esses jovens, adultos e idosos a abandonarem a escola", pontuou Ana Lucia, em entrevista ao programa Debate da Super Manhã, da Rádio Jornal, nesta quinta-feira (24).

O programa Busca Ativa tem sido uma das principais estratégias para identificar os fatores que levam alunos da EJA a se afastarem da escola. Atualmente, todas as unidades da rede estadual contam com um monitor responsável por atuar diretamente nas comunidades, coletando dados e informações que possam contribuir para o reingresso desses estudantes no ambiente escolar.

Sobre o regime de colaboração entre o Estado e os municípios - onde o recuo no número de matrículas é maior - a secretária acredita que é preciso ter um alinhamento pedagógico e que essa formação chegue até aos professores. 

Abordagem atrativa

Segundo o Painel de Monitoramento das Metas do PNE, o país ainda está distante de alcançar a Meta 10 do Plano Nacional de Educação, que prevê a integração de pelo menos 25% das matrículas da Educação de Jovens e Adultos (EJA) com a educação profissional até 2024. Em 2023, o percentual registrado foi de apenas 4,7%.

A coordenadora do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) do SESI Pernambuco, Ana Karla Barbosa, destacou a importância de compreender a rotina de vida dos estudantes dessa modalidade, composta em sua maioria por jovens com menos de 40 anos. "Um dos maiores desafios da EJA é a evasão, pois muitos desses estudantes não conseguem conciliar trabalho, responsabilidades familiares e os estudos", afirmou Ana Karla.

Para enfrentar esse desafio, desde 2018, o SESI Pernambuco adotou o formato de Ensino a Distância (EAD) na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Nesse modelo, os alunos realizam 80% das atividades de forma online e 20% presencialmente. "Essa proposta facilitou o acesso e permitiu que atingíssemos um número maior de estudantes", explicou a coordenadora Ana Karla Barbosa, que também participou do programa Debate da Super Manhã, da Rádio Jornal.

Dentro dessa metodologia, a instituição adota uma etapa de diagnóstico, na qual busca identificar e certificar as competências que o estudante já adquiriu ao longo da vida. "Ele só irá estudar as competências que ainda não adquiriu, o que reduz o tempo dele na escola. Assim, ele precisa comparecer presencialmente apenas uma vez por semana", detalhou a coordenadora.

No entanto, Karla também destacou um desafio significativo: o engessamento curricular das turmas de EJA, que são distintas das turmas regulares. "Precisamos aproximar mais a realidade do estudante, para que o aprendizado faça sentido e consigamos manter o aluno na escola até a conclusão", completou.

O SESI está ofertando 300 vagas gratuitas para a entrada 2025.2 da Nova Educação de Jovens e Adultos, sendo 100 para o Nível Fundamental e 200 para o Nível Médio.

O curso tem duração de 12 meses e é voltado para quem não completou os anos da Educação Básica em idade apropriada por qualquer motivo.

As inscrições podem ser realizadas até o dia 28 de abril (ou até as vagas serem preenchidas) pelo site https://pe.sesi.org.br ou em qualquer uma das 12 unidade do SESI Pernambuco.

As aulas estão previstas para iniciar no dia 5 de maio e acontecerão de forma online ou no modo semipresencial em duas unidades: Caruaru e Vasco da Gama, no Recife.

As vagas oferecidas são destinadas para os interessados em cursar a EJA Ensino Fundamental Anos Finais, voltada para estudantes a partir de 15 anos e tenham concluído no mínimo o 5º ano do Fundamental, ou a EJA Ensino Médio, para quem tem 18 anos e concluiu o 9º ano do Fundamental.

As aulas acontecerão de duas formas: online (100% EAD) ou semipresencial (80% EAD e 20% presencial). A modalidade semipresencial, entretanto, será oferecida apenas nas unidades do Vasco da Gama e Caruaru, e o estudante precisa comparecer na escola uma vez por semana.