Ludicidade ajuda a fortalecer o desenvolvimento emocional de adolescentes na era digital
Famílias e escolas podem incentivar atividades lúdicas, fortalecendo autoestima e promovendo desenvolvimento emocional e social saudável nos jovens

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Quando pensamos em brincar, é comum associar a atividade à infância, mas especialistas alertam: a ludicidade é fundamental também na adolescência, fase marcada por transformações emocionais, sociais e identitárias.
Em um mundo hiperconectado, com redes sociais e pressões constantes, manter o espaço para o lúdico pode ser um antídoto contra a ansiedade e o isolamento que crescem entre os jovens.
Em um contexto de jovens cada vez mais hiperconectados, os dados chamam atenção: segundo informações inéditas do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), entre 2015 e 2024 o acesso à internet entre crianças de até 8 anos cresceu de forma expressiva – na faixa de 0 a 2 anos, os usuários passaram de 9% para 44%; entre 3 e 5 anos, de 26% para 71%; e entre 6 e 8 anos, de 41% para 82%.
Também aumentou o número de crianças com celular próprio: de 6% para 20% entre 3 e 5 anos e de 18% para 36% entre 6 e 8 anos. Esses dados ajudam a entender como adolescentes chegam à puberdade já imersos no mundo digital, o que intensifica desafios como ansiedade, dificuldade de socialização e isolamento.
Brincar não é apenas passatempo. Na infância, é por meio do jogo que a criança aprende a regular emoções — lidando com vitórias e derrotas —, a fortalecer vínculos e a expressar sua forma de estar no mundo.
Na adolescência, essa prática continua sendo uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento emocional e social. Jogos cooperativos, esportes, teatro, música e outras atividades lúdicas ajudam a reforçar o respeito aos limites de cada fase da vida, estimulam a criatividade e ampliam a capacidade de resolver conflitos de maneira saudável.
É importante que o adolescente se identifique com essas práticas recreativas, que devem ser oferecidas de acordo com sua faixa etária, permitindo que se divirta tanto quanto estaria nas redes.
Papel da escola e das famílias
Ao reconhecer a importância dessas experiências, famílias e escolas podem criar ambientes que incentivem atividades lúdicas, fortalecendo a autoestima e promovendo o desenvolvimento saudável dos jovens.
"Numa geração em que as telas estão cada vez mais presentes no dia a dia dos adolescentes, oportunizar momentos lúdicos, nos quais eles possam interagir com os pares, reduzir tensões físicas e mentais e desenvolver habilidades sociais, será estruturante para sua vida adulta", avalia Catarina Medeiros, psicóloga do Colégio GGE.
A especialista ressalta que tecnologias e o ambiente digital fazem parte do mundo contemporâneo, tornando essencial buscar equilíbrio. "Quando trabalhamos esse equilíbrio entre telas e interações presenciais, ou seja, ludicidade, conseguimos ter o melhor dos dois lados", complementa.
Na escola, é possível proporcionar momentos diferenciados da rotina, como intervalos e atividades lúdicas. “Mais do que ensinar conteúdos curriculares, é no espaço escolar que crianças e adolescentes encontram oportunidades para o desenvolvimento integral, valorizando o brincar, a socialização e a experimentação sem as pressões do mundo adulto", afirma Carolina Monteiro, coordenadora pedagógica do Colégio GGE.
"Um exemplo é a restrição ao uso de celulares dentro das instituições, prevista em lei nacional. Ao limitar os aparelhos, a escola se torna um refúgio contra a hiperexposição digital e incentiva a convivência, o jogo simbólico e as interações presenciais”, declara.
As famílias também podem contribuir, resgatando experiências lúdicas da infância e adolescência. Segundo a psicóloga, organizar atividades coletivas em casa permite que os jovens se desenvolvam de forma saudável e fortaleçam vínculos familiares.