Projetos sociais de estudantes pernambucanos chegam à final da Olimpíada de Tecnologia em São Paulo
Com soluções voltadas para acessibilidade e inclusão digital, alunos da EREM Engenheiro Lauro Diniz representam Pernambuco na fase final da competição

Um aplicativo criado para auxiliar na comunicação de pessoas autistas - com recursos de fonética, linguagem em Libras, entre outros comandos - e outro voltado para ajudar pessoas idosas aprenderem a usar ferramentas digitais, são dois dos projetos desenvolvidos por estudantes da rede estadual de ensino que irão representar Pernambuco na quarta edição da Olimpíada Brasileira de Tecnologia (OBT).
Neste ano, oito equipes, totalizando 37 alunos da Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Engenheiro Lauro Diniz, localizada no bairro do Ipsep, Zona Sul do Recife, foram classificadas para a terceira fase da competição, que será realizada em São José dos Campos, no interior de São Paulo.
A professora Dinara Souza Leão Lopes destacou que, quanto mais se incentiva a aprendizagem tecnológica de forma acessível, mais próxima a sociedade estará de se tornar verdadeiramente igualitária. Muitos alunos, inclusive, relataram que nunca imaginaram ser capazes de planejar um aplicativo, por exemplo.
“É muito gratificante ver eles acreditando em si mesmos, acreditando que podem chegar mais longe. A gente sabe que a educação pública ainda enfrenta muitas defasagens, mas, quando colocamos esses estudantes em posição de destaque, eles mostram que podem alcançar grandes conquistas, inclusive medalhas de ouro em competições nacionais”, afirmou a docente, em entrevista à coluna Enem e Educação.
O Governo de Pernambuco, por meio da Secretaria de Educação do Estado (SEE-PE), disponibilizou um ônibus para levar os estudantes até São Paulo. No entanto, os custos com alimentação e hospedagem ficarão a cargo de cada aluno. A previsão é de que eles viajem no dia 12 de julho e retornem ao Recife no dia 21 de julho.
"Estamos falando de jovens da rede pública, de um bairro da periferia do Recife, que estão provando que talento, dedicação e conhecimento podem romper barreiras. Precisamos garantir que eles tenham a oportunidade de representar nossa escola, nosso estado e nossa região no cenário nacional", declarou Dinara.
Ela explicou que alguns estudantes estão mobilizados por meio de rifas e vaquinhas para arrecadar recursos suficientes para cobrir os custos e conseguir participação na viagem. Segundo a professora, o valor estimado dessas despesas é de R$ 1.160 por aluno. Quem tiver interesse em contribuir pode procurar diretamente a direção da EREM Engenheiro Lauro Diniz.
Alunos veem novas possibilidade de um novo futuro
Para o estudante Arthur de Lima Alves, 17 anos, que, junto com sua equipe, conquistou a medalha de prata pelo projeto AutisPec, participar da OBT foi uma forma de se aproximar ainda mais da área de tecnologia e construir ferramentas com impacto social.
“Desde o ano retrasado (2023), faço curso técnico em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, então sempre tive curiosidade em aprender algo além do que vejo em sala de aula e poder transformar esse conhecimento em algo útil para a sociedade”, disse o jovem.
A equipe Sunflower (@sunflower.spec), composta pelos estudantes Mariane Cristina Nascimento Silva, Gabrielly Vitória de Souza Bastos, Lorenna Beatriz de Oliveira Miranda, Kaynan Pinheiro Lucas e Lyvia Beatriz de Oliveira, já havia participado da edição da Olimpíada em 2024 com um projeto semelhante, conquistando a medalha de bronze no ranking geral.
“Nós mudamos muita coisa no nosso aplicativo, e acho que por isso evoluímos na nossa colocação. Aprofundamos o tema com o objetivo de alcançar e atender mais pessoas. ”, explicou Arthur.
Sobre a expectativa para a disputa na última fase da Olimpíada, o estudante destacou que todas as etapas são importantes, mas que agora é o momento de colocar em prática tudo o que foi planejado nos últimos três meses.
O AutisPec tem como principal objetivo oferecer suporte ao desenvolvimento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), a partir dos três anos de idade, auxiliando pais, cuidadores e profissionais das áreas de Saúde e Educação. Por meio de tecnologia empática e acessível, o aplicativo busca melhorar a comunicação, estimular habilidades cognitivas e promover o bem-estar da criança e da família.
O app reúne ferramentas como inteligência artificial, jogos educativos, formulários de anamnese e suporte à comunicação, com foco em ajudar tanto as crianças com autismo quanto seus cuidadores - que, muitas vezes, não sabem como agir em momentos de crise ou como estimular o progresso das crianças.
“Fazer com que o aplicativo funcione e seja útil para a sociedade é algo único. E ainda poder representar o nosso estado demonstra muito da nossa força. Falo por mim e pela minha equipe: tanto para nós, que participamos no ano passado, quanto para os que vão este ano, todos vão perceber não só como é bom competir, mas também que seus aplicativos podem, de fato, ter alguma serventia real para a sociedade”, afirmou Arthur Lima, em entrevista à coluna Enem e Educação.
Chance de superar dificuldades
A equipe Elos (@elosfacility), formada pelos estudantes Phâmella Camilly de Lira Souza, Kalliny Vitória de Oliveira, Weivison Gabriel Silveira de Oliveira e Samuel Felipe Silveira Coelho, conquistou a medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Tecnologia com o projeto Elos Facility.
O aplicativo tem como objetivo ajudar pessoas idosas a se conectarem com a tecnologia atual, facilitando o acesso às ferramentas digitais que fazem parte do cotidiano. O app reúne desde jogos educativos até um chat virtual para tirar dúvidas.
Antes de receber a proposta de participar de uma competição na área de tecnologia, Phâmella Camilly, 16 anos, contou que nem imaginava que poderia ir tão longe nesse universo.
“Foi uma coisa muito interessante pra gente e uma experiência nova. Por meio do nosso projeto, queríamos que os idosos pudessem se envolver mais com a tecnologia também. Escolhemos esse público-alvo porque ele não é muito procurado”, afirmou a estudante da Erem Engenheiro Lauro Diniz.
Phâmella e sua equipe ainda estão assimilando o fato de que terão a oportunidade de apresentar o projeto na prática em São Paulo, durante a fase final da competição. Ela destacou, ainda, que o apoio da família tem sido essencial para essa conquista.
“Nós temos recebido o apoio de todos, graças a Deus. Foi uma emoção muito grande quando saiu o resultado, porque é algo que a gente não acreditava que conseguiria”, completou.
Também participam da competição as equipes Lextech (@obt.lexteck); Elytra (@elytraobt); Vanguarda (@vangarda_tecteam); Mandala (@madala.obt); Econecta (econecta.obt2025); e The Five (@the,5ldz).
Como funciona a OBT
A Olimpíada Brasileira de Tecnologia é uma realização do Instituto Alpha Lumen, com apoio do Massachusetts Institute of Technology (MIT) Brasil, em parceria com o STEAM para a Educação Tecnológica. A iniciativa é voltada para os alunos do 8º e 9º anos do Ensino Fundamental (nível 1) e dos alunos do 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio (nível 2).
Com temas que dialogam diretamente com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU), a competição é dividida em três fases.
A primeira etapa possui duas tarefas: uma para a equipe de Matemática/Técnica, que deve apresentar a resolução de desafios envolvendo matemática aplicada e lógica computacional; e outra para a equipe Social, que deve escolher, estudar e apresentar, por meio de um vídeo, um problema relevante para sua comunidade local, regional ou nacional, dentro da temática dos ODS, conforme descrito no item 2.1 do edital.
A partir da segunda fase, as equipes Matemática/Técnica e Social passam a trabalhar juntas na prototipagem de um aplicativo que busque solucionar o problema identificado na primeira fase.
Já na terceira e última fase, que ocorrerá de 17 a 19 de julho, na Semana da Escola Avança de Tecnologia, os estudantes participarão do "Desafio App", que reúne os dez times mais bem colocados nas duas primeiras fases e os dez melhores na prova optativa de programação básica para a premiação final.