Com 10% de intenções de voto, direita pode ser fiel da balança em Pernambuco em 2026
Seriam 6% de Gilson Machado (PL) e 4% do quase desconhecido a nível estadual mas muito presente no Recife, o vereador Eduardo Moura, do Novo

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Para além da diferença, ainda expressiva, entre a governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito João Campos (PSB) na eleição para governador no próximo ano - 55% para ele e 24% para ela -, a pesquisa Quaest, divulgada na sexta-feira, mostrou que dois prováveis candidatos de direita para governador somariam, se a eleição fosse hoje, 10% dos votos.
Seriam 6% do ex-ministro Gilson Machado (PL) e 4% do quase desconhecido a nível estadual mas muito presente no Recife, o vereador da capital Eduardo Moura, do Novo, conquistados na oposição ao atual prefeito.
O que estes números mostram? Numa leitura mais ampla, que, sem eles na disputa, a governadora poderia ter hoje 34% das intenções de voto, e, numa mais detalhada, que, se os mesmos confirmarem as candidaturas – até agora isso não está posto - a direita passa a ter força suficiente para levar a eleição para o segundo turno.
Na pesquisa do mesmo instituto em fevereiro deste ano João tinha 56, Raquel 28 e Gilson 5%. Ela perdeu de lá para cá os mesmos 4% que foram para Eduardo Moura, ou seja, os votos teriam sido apenas deslocados mas poderiam voltar para a governadora.
Toda razão de ser
O presidente estadual do PL, Anderson Ferreira, que há muito tempo estuda o voto de direita em Pernambuco, afirma não ter dúvida de que a direita dificilmente ganharia uma eleição de governador, diante da polarização estabelecida entre o prefeito do Recife e a governadora – para ele a chance da direita é de fazer um senador pois conseguiria isso com 25 a 30% dos votos –e explica que a tese de que os conservadores serão o fiel da balança tem toda razão de ser.
“Em 2026 a eleição será definida na Região Metropolitana e se observarmos a eleição de 2022 eu fiquei como candidato a governador em terceiro lugar, perdendo para Raquel por pouco mais de 100 mil votos no primeiro turno e só tinha o apoio de dois prefeitos interioranos. Esse votos foram obtidos no Grande Recife sobretudo pois fui o mais votado em Jaboatão, Olinda, Camaragibe, Abreu e Lima e no Recife fiquei em segundo perdendo para Raquel por apenas 2.715 votos”.
Ele diz que já no ano 2000, João Campos venceu Marília Arraes para prefeito com os votos da direita que se recusou a estar com candidata do PT.
Direita é forte no Grande Recife
Ele diz que no estado de Pernambuco somando os eleitores de direita tradicional e os evangélicos os dois segmentos teriam hoje 30% dos eleitores. “No Recife o percentual é de 35% e na Região Metropolitana vai para 40%. Bolsonaro teve contra Lula no segundo turno de 2022 43,68% dos votos recifenses”- explica. Anderson não nega que a disputa nacional influirá no voto mas afirma que “a direita não vai estar em palanque do PT”.
Pré-candidato a senador pelo PL, ele imagina que os dois senadores a serem eleitos em 2026 tendem a representar a esquerda e a direita. “O PL vai entrar pra valer a disputa para o Senado e não terá candidato a governador", explica.
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Anderson tem um obstáculo na sua frente que é Gilson Machado, pelo qual Bolsonaro chegou a manifestar preferência.
Se Bolsonaro permanecer no PL, certamente vai querer ganhar essa disputa para o seu afilhado mas Anderson tem uma filhado também forte que é o presidente nacional da sigla, Waldemar da Costa Neto, que o chamou para reunião há cerca de 15 dias e afirmou que o candidato a senador será ele. Bolsonaro, já recolhido a prisão domiciliar, não pode se manifestar.
Raquel Lyra e a neutralidade
A candidatura a governador de Eduardo Moura tem entrado nas especulações tanto no Novo, o seu partido, como no bolsonarismo, que ele também representa. Mas, como ensina o economista e analista de pesquisas pernambucano Maurício Romão, “é cedo para se tirar qualquer conclusão. O eleitor ainda não está ligado na eleição de 2026. É altíssimo em todas as pesquisas o índice de indecisos e ninguém sabe como vão estar no próximo ano os candidatos a presidente e se polarização continuará forte com Bolsonaro fora da disputa. Lula e ele se alimentam da polarização e não me admiro se, na ausência de Bolsonaro, a população esqueça os dois e busque um terceiro caminho”.
A cientista política Priscila Lapa diz não ter dúvidas do crescimento do eleitorado de direita em Pernambuco, tendendo a se consolidar em 2026 “mesmo em um estado como Pernambuco com inclinação de esquerda”.
Ela acredita que “um fator importante na conjuntura estadual é a “neutralidade” da governadora Raquel Lyra, o que já foi um fator importante em 2022 e que agora parece ser um elemento novamente relevante”.
E acrescenta: “se por um lado a conjuntura nacional polarizada força um posicionamento dos atores locais, ela certamente transita entre um conjunto amplo de forças políticas, com grande capacidade de atrair o eleitor de direita que não aceita, de forma alguma, um candidato identificado com a esquerda. Mas há uma sutileza nisso: João Campos, mesmo com o PT no palanque, tem boa avaliação em todos os segmentos do eleitorado. Em 2024 ele teve votos de todos eles. Caso se mantenha como um fenômeno midiático poderá alcançar votos da direita e inviabilizar movimento de migração de votos para Raquel até pelo velho e conhecido voto útil”.