Eleições 2026: Lula vai com João Campos ou Raquel Lyra? Veja novas especulações
Enquanto Raquel Lyra e João Campos rejeitam a ideia de um palanque duplo, Lula não vê razão para não apoiar os dois. Mas uma decisão pode ser tomada

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Quando assumiu seu primeiro mandato, em 2003, o presidente Lula (PT) prestigiou os dois partidos que mais trabalharam por sua vitória em Pernambuco, nomeando o atual senador Humberto Costa (PT) como ministro da Saúde e Eduardo Campos (PSB), o deputado federal mais votado no estado em 2002, como ministro da Ciência e Tecnologia, uma pasta sem tanta relevância mas à qual Eduardo conferiu um amplo significado.
No Palácio das Princesas, ao tomar conhecimento do assunto, o então governador Jarbas Vasconcelos (MDB) comentou: “Lula não quer aproximação conosco, pois nomeou como ministros meus principais adversários”.
Reeleito governador em 2002 com 60% dos votos do Estado, Jarbas havia derrotado na eleição os candidatos do PT, Humberto Costa, e do PSB, Dilton da Conti, e votara em José Serra (PSDB) para presidente da República.
Na volta ao Palácio do Planalto em 2023, para este terceiro mandato, Lula tomou um rumo diferente. As desavenças entre PT e PSB – partidos que andam mais separados do que juntos – provocaram a derrota de Danilo Cabral (PSB), no primeiro turno de 2022, e de Marília Arraes (então PT hoje no SD), no segundo turno.
Já a governadora eleita Raquel Lyra (PSD), com raízes de esquerda, usou na fase final de sua campanha do segundo turno a chapa “Luquel”, representada por eleitores que votaram nela para governadora e em Lula para presidente.
Empossado, Lula não hostilizou Raquel, não colocou seus adversários como ministros e tem feito questão de prestigiá-la e transferir recursos para seus projetos de Governo.
Entre Raquel Lyra e João Campos, Lula optou pelos dois
Apesar da aproximação com Raquel, o presidente manteve sua ligação com o prefeito João Campos, do PSB, e tem prestigiado os dois. Essa postura tem gerado especulações sobre a possibilidade de Lula ter apoio da governadora e do prefeito do Recife em 2026, aumentando seu percentual de votos no estado.
Nesse caldo de cultura, a bancada do PT na Assembleia Legislativa de Pernambuco apoia a governadora e defende que o partido a ela se junte no próximo ano, ao passo que há petistas no secretariado de João Campos que trabalham dia e noite para que o partido se junte a ele.
Para completar, ao falar no Congresso Nacional do PSB em junho último, que elegeu João Campos presidente nacional da legenda, Lula citou o caso de Pernambuco, onde em 2006 teve o apoio dos candidatos a governador Eduardo Campos, pelo PSB, e Humberto Costa, pelo PT, construindo dois palanques. E afirmou que os partidos de sua base deveriam pensar em soluções desse tipo em 2026.
As declarações provocaram reboliço, e o PSB reagiu, como registrou este blog, lembrando que em 2006 Eduardo e Humberto eram oposição, tornando possível a solução dada, mas que agora se tratava de outra questão, pois Raquel é a governadora e João é o seu adversário.
Palanque duplo não foi digerido
Até hoje, nem a governadora nem o prefeito se pronunciaram sobre o assunto, mas as especulações continuam de vento em popa, sobretudo depois que Raquel se filiou ao PSD, partido que faz parte da base de apoio do presidente.
Na semana passada, a revista Veja publicou que o PSB fez chegar ao Palácio do Planalto seu posicionamento sobre o assunto, deixando claro que poderia se afastar do PT se Geraldo Alckmin (PSB) não continuasse candidato a vice de Lula e se fosse admitido o palanque duplo em Pernambuco.
Já a governadora Raquel Lyra, como apurou este blog, confessou recentemente a uma pessoa amiga que, se lhe fosse proposto o palanque duplo, só consideraria a proposta com a garantia de que seria a preferida no palanque do candidato a presidente e não a segunda opção. Diante do exposto, comentou que não vê muita viabilidade na tese exposta pelo próprio Lula.
Modus operandi do PT
“Esta questão de um candidato a presidente ter dois palanques em Pernambuco já está virando um modus operandi do PT”, afirma a cientista politica Priscila Lapa, adiantando: “não faz muito tempo, foi em 2022, que Lula apoiou a candidatura de Danilo Cabral a governador diante de uma aliança formal entre o PT e o PSB, e, ao mesmo tempo, não desmereceu Marília Arraes, que também disputou com apoio da militância petista e ficou com ela no segundo turno. Em 2026, se essa tese vingar, terá seu próprio contexto, suas próprias nuances”.
Segundo ela, “Lula tem uma relação muito próxima com João Campos, que não é de hoje e que ele faz questão de ressaltar sempre que vem a Pernambuco, mesmo fora de uma campanha politica. Isso aumentou com a aliança nacional entre o PSB e PT na última eleição. A governadora também tem tido o seu apoio não só institucional como em momentos críticos como das vezes em que a militância do PT começou a vaiá-la e Lula a defendeu e segurou na sua mão, demonstrando preocupação com ela. Ele tem tido muito carinho por Raquel. Se conseguir ter o apoio dos dois essa questão marcará a eleição de 2026”.
Lula não pode dispensar votos
Priscila entende também que, na condição atual, quando não está bem nas pesquisas, “Lula não vai poder dispensar apoio, não vai poder prescindir dos votos. Diante dessa fragilidade, caso isso continue, João vai permanecer com ele, até pela história construída até aqui, mas Raquel pode querer manter uma certa neutralidade. Só o tempo vai mostrar como isso vai se dar”.
Em entrevista ao videocast Cena Política, do Jornal do Commercio, esta sexta-feira, o senador Humberto Costa afirmou que é cedo para discutir 2026, que o PT ainda não considerou o apoio a Raquel ou a João, mas deixou claro que a legenda só vai se juntar a quem declarar apoio a Lula.
Ele chegou a lembrar que não sabe como vai se comportar a governadora em termos nacionais no próximo ano, mas admitiu que uma parte do partido quer apoiá-la e outra defende o nome de João Campos.
E concluiu: “Quando houver uma definição partidária por um candidato, todo o partido caminhará junto”. Ou seja, a não ser que Lula pense em solução diferente, o PT só terá um palanque por aqui? É pagar pra ver.