No Recife, ministra comentou a liberação de perfuração na Foz do Amazonas e defendeu "transição energética justa"
Sonia Guajajara participou de evento na Unicap e evitou criticar a autorização do Ibama para que a Petrobras realize perfuração exploratória no Amapá
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A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, afirmou nesta sexta-feira (24), durante coletiva de imprensa realizada na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), que a 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro de 2025, em Belém (PA), será “a COP da maior e melhor participação indígena da história”.
O encontro com jornalistas antecedeu a abertura da reunião do Círculo dos Povos – Edição Pernambuco, que reúne lideranças indígenas, afrodescendentes, agricultores familiares e pesquisadores para discutir representatividade e justiça climática.
Diálogo rumo à COP30
A ministra destacou que o Círculo dos Povos tem o papel de ampliar a participação dos povos tradicionais e comunidades periféricas nos debates e decisões sobre a crise climática.
“O Círculo dos Povos reúne indígenas, comunidades afrodescendentes, agricultura familiar e comunidades tradicionais. É uma iniciativa que traz para o diálogo todos esses segmentos historicamente marginalizados do debate climático”, afirmou Guajajara.
Segundo ela, os encontros regionais, como o de Pernambuco, estão sendo realizados para recolher propostas e percepções que farão parte de um relatório nacional a ser apresentado à Presidência da COP30.
“Aqui dialogamos com pessoas que já vivem os impactos da crise climática, seja por meio das enchentes, das secas severas ou dos deslizamentos nas periferias”, completou.
Participação da sociedade civil e estrutura em Belém
Guarajara ressaltou que a COP 30, primeira realizada no Brasil, será marcada por uma ampla presença da sociedade civil e dos povos originários, com uma estrutura inédita voltada à diversidade social e cultural do país.
“A primeira COP no Brasil não pode acontecer sem a presença dessa diversidade de Brasil — indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas e pequenos produtores”, pontuou.
A ministra explicou que o governo planeja credenciar 360 representantes indígenas na zona azul, espaço oficial das negociações, além de garantir a presença de movimentos sociais e organizações em áreas paralelas, como a zona verde e a Aldeia COP, que servirá como alojamento e local de debates.
“Estamos articulando uma participação unificada dos povos indígenas do Brasil e do mundo, com posicionamentos comuns e estruturados. Queremos que esta COP avance nas soluções e resultados concretos”, disse Guajajara.
Ministra defende “transição justa” após aval à Petrobras
Questionada sobre a autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para que a Petrobras perfure um poço em águas profundas na região da Foz do Amazonas, na Margem Equatorial, a ministra afirmou que o governo mantém o compromisso com a transição energética, mas que o processo deve ser feito “de forma gradual e justa”.
“O presidente Lula tem falado muito sobre a necessidade de fazer uma transição justa. É preciso reconhecer que a própria população também precisa se preparar para essa mudança. Não é algo que possa acontecer de um dia para o outro”, declarou.
Sonia Guajajara evitou fazer críticas diretas à decisão do Ibama ou à Petrobras, especialmente diante das críticas de ambientalistas à exploração na região. Ela reforçou, no entanto, que o Ministério dos Povos Indígenas tem defendido o diálogo e a consulta prévia e informada aos povos afetados.
“O nosso parecer sempre foi e continua sendo o respeito ao direito de escuta e à consulta livre e prévia aos povos indígenas que serão afetados direta ou indiretamente”, afirmou.
Contexto: a exploração na Foz do Amazonas
O Ibama autorizou na segunda-feira (20) a Petrobras a realizar perfuração exploratória em um bloco localizado na Bacia da Foz do Amazonas, a cerca de 175 km da costa do Amapá. A licença permite apenas a pesquisa exploratória, e não a produção de petróleo.
A região é vista pelo Ministério de Minas e Energia como estratégica para o futuro energético do país, com potencial para gerar até R$ 1 trilhão em arrecadação nas próximas décadas. Ambientalistas, no entanto, alertam para os riscos à biodiversidade marinha e aos ecossistemas amazônicos.
A atividade de exploração ocorre em um momento em que o Brasil busca se posicionar como liderança global na transição energética e na proteção da Amazônia, temas centrais da agenda diplomática que será levada à COP30.
Evento reúne lideranças e movimentos sociais
Além da ministra, o encontro na Unicap contou com a presença da vereadora Jô Cavalcanti (PSOL), do senador Humberto Costa (PT) da professora Luísa Azevedo de Melo (Unicap), da pesquisadora Valdênia Brito Monteiro e de lideranças como Joice Paixão e Anne Heloise Barbosa, representantes de movimentos sociais e ambientais.
A edição pernambucana do Círculo dos Povos integra o ciclo nacional de mobilização do Ministério dos Povos Indígenas e tem apoio do Governo Federal, da Universidade Católica de Pernambuco e do Gabinete da vereadora Jô Cavalcanti.