Cervejas podem ser contaminadas por metanol? Especialista esclarece dúvida
Professor explica diferenças entre bebidas fermentadas e destiladas e destaca importância do diagnóstico e tratamento rápidos em casos de intoxicação

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O aumento recente de casos de intoxicação e mortes no Brasil causadas por bebidas adulteradas com metanol reacendeu o alerta entre autoridades de saúde e consumidores.
A substância, altamente tóxica, é utilizada de forma ilegal na fabricação de bebidas alcoólicas e pode causar cegueira, falência múltipla de órgãos e até morte. Diante do cenário, surge uma dúvida comum: é possível que cervejas também sejam contaminadas por metanol?
Fermentados x destilados: entenda as diferenças
De acordo com Luís Andrade, professor do curso de enfermagem da Estácio, a contaminação por metanol é muito mais comum em bebidas destiladas, como cachaça, uísque e vodka, do que em fermentadas, como cerveja e vinho.
“É mais comum que casos de intoxicação por metanol ocorram em destilados, e há uma explicação técnica para isso. Nos fermentados, como a cerveja, o processo de fermentação com leveduras gera naturalmente o teor alcoólico, que costuma ser menor. Já nos destilados, há a necessidade de separar diferentes frações — chamadas de cabeça, coração e cauda. Essa etapa é essencial porque é justamente no descarte da última fração que se eliminam substâncias tóxicas, como o metanol”, explica o professor.
Quando essa separação não é feita corretamente ou há adulteração proposital com adição de metanol, o risco de intoxicação aumenta significativamente. Por isso, segundo ele, bebidas fermentadas dificilmente estão associadas a esse tipo de contaminação.
Exceções e riscos pontuais
Apesar disso, o especialista destaca que algumas bebidas passam por processos mistos, o que pode elevar o risco.
“Existem bebidas que envolvem tanto fermentação quanto destilação, como o vinho do Porto. Nesse caso, o risco de presença de metanol não pode ser descartado”, observa Andrade.
Sintomas e atendimento precoce
Os sintomas da intoxicação por metanol costumam surgir entre 12 e 24 horas após o consumo da bebida contaminada. Entre os principais sinais estão visão turva, dor abdominal, náuseas, tontura e confusão mental.
“No organismo, o metanol e o etanol competem pelos mesmos receptores. Essa disputa explica por que a administração de etanol é utilizada como antídoto em casos de intoxicação — o etanol ocupa os receptores, reduzindo a ação do metanol”, detalha o especialista.
O tratamento rápido é decisivo para a recuperação. Pacientes que buscam ajuda médica logo nos primeiros sintomas têm maiores chances de evitar complicações graves. Além do uso de antídotos, pode ser necessária hidratação intravenosa e, em casos severos, hemodiálise para filtrar o sangue.
A literatura médica aponta que os melhores desfechos ocorrem quando o atendimento acontece nas primeiras 12 a 24 horas após a ingestão da substância.
Em caso de suspeita de intoxicação, a orientação é procurar imediatamente atendimento médico de urgência e, se possível, levar o rótulo ou amostra da bebida consumida.