Gregorio Duvivier traz "O Céu da Língua" ao Teatro do Parque

Dirigido por Luciana Paes, com texto e interpretação de Duvivier, comédia sobre a presença quase invisível da poesia no cotidiano chega ao Recife

Por Samara Cinobio Publicado em 08/09/2025 às 12:11

Clique aqui e escute a matéria

Quem tem medo de poesia? Gregorio Duvivier não faz parte deste grupo e, como um apaixonado, faz de tudo para persuadir os outros das qualidades do seu objeto de encanto – até mesmo criar um espetáculo sobre o assunto.

No monólogo cômico “O Céu da Língua”, o artista usa o seu discurso sedutor para convencer o público de que tropeçamos diariamente na poesia e o assunto é prazeroso e divertido.

O espetáculo estreou em Portugal em 2024, chegou ao Brasil em fevereiro deste ano e cumpriu uma extensa turnê que já acumula mais de 60 mil espectadores.

No Recife pela primeira vez, “O Céu da Língua” aportará no Teatro do Parque, dias 12 e 13 de setembro, às 20h, para sessões com ingressos já esgotados, o que levou à abertura de uma apresentação extra dia 13, às 17h.

“A poesia é uma fonte de humor involuntário, motivo de chacota”, reconhece o ator, que cursou a faculdade de Letras na PUC do Rio de Janeiro e publicou três livros sobre o gênero literário. “Escrevi uma peça que pode ajudar alguém a enxergar melhor o que os poetas querem dizer e, para isso, a gente precisa trocar os óculos de leitura.”

A direção é da atriz Luciana Paes, parceira de Gregorio nos improvisos do espetáculo “Portátil”. No palco, com cenografia de Dina Salem Levy, o instrumentista Pedro Aune cria ambientação musical com o seu contrabaixo, e a designer Theodora Duvivier, irmã do comediante, manipula as projeções exibidas ao fundo da cena. O resto é só Gregorio e sua lábia desafiadora:

“Acredito que o Gregorio tem ideias para jogar no mundo e, com essa crença, a coisa me move independentemente de qualquer rótulo”, diz Luciana, uma das fundadoras da celebrada Cia. Hiato, que estreia na função de diretora teatral.

“O Céu da Língua” não é um recital, tampouco o artista declamará Castro Alves, Fernando Pessoa ou Carlos Drummond de Andrade. Por outro lado, garante Luciana, a dramaturgia de Gregorio não deixa de ser poética neste “stand-up comedy pegadinha”, como ela bem define.

“O Gregorio simpático e engraçado está no palco ao lado do Gregorio intelectual com seu fluxo de pensamento ininterrupto e imagino que, por isso, a plateia deve embarcar na proposta”, aposta a diretora.

“Ele, graças aos seus recursos de ator, pega o público distraído, e ninguém resiste quando é surpreendido por alguém apaixonado.”

Toda linguagem é um acordo e, se você entende, tudo bem. Gregorio, desde a infância, carrega uma obsessão pela palavra, pela comunicação verbal, pela língua portuguesa. Assim o protagonista, por exemplo, brinca com códigos, como aqueles que, em sua maioria, só são decifrados por pais e filhos ou casais enamorados.

As reformas ortográficas que tiram letras de circulação e derrubam acentos capazes de alterar o sentido das palavras inspiram o artista em tiradas bem-humoradas.

O mesmo acontece quando ele comenta a ressurreição de palavras esquecidas, como “irado”, “sinistro” e “brutal”, que voltaram ressignificadas ao vocabulário dos jovens. E

aquelas que só de ouvi-las geram sensações estranhas, a exemplo de afta, íngua, seborreia ou outras, inventadas, repetidas à exaustão, como “atravessamento”, “namorido” ou “almojanta”? Até destas Gregorio extrai humor.

Para o artista, a língua é algo que nos une, nos move, mas raramente damos atenção a ela. É só pensar nas metáforas usadas no cotidiano – “batata da perna”, “céu da boca”, “pisando em ovos”. Nesta hora, usamos a poesia e nem percebemos.

Para provar que a poesia é popular, Gregorio chama atenção para os grandes letristas da música brasileira, como Orestes Barbosa e Caetano Veloso, citados em “O Céu da Língua” através das canções “Chão de Estrelas” (1937) e “Livros” (1997). “Os nossos compositores conseguiram realizar o sonho de Oswald de Andrade de levar poesia para as massas”, festeja o ator.

PORTUGAL - Nesta cumplicidade com a plateia, Gregorio mostra gradativamente que a poesia não tem nada de hermética e, claro, homenageia Portugal, o país que emprestou ao Brasil a sua língua para que todos se comunicassem.

Além de Fernando Pessoa, o ator evoca o poeta Eugênio de Andrade e lembra de que a origem de “O Céu da Língua” está relacionada ao espetáculo “Um Português e Um Brasileiro Entram no Bar”.

O divertido intercâmbio linguístico colocou no mesmo palco Gregorio e o humorista luso Ricardo Araújo Pereira em improvisações sobre o idioma que os une.

“Ele é um cara apaixonado pela palavra, então, a gente entrava em cena e falava, emendava um assunto no outro e, quando acabava a peça, ainda tinha muito a dizer”, lembra Gregorio.

Vem de Portugal também uma das maiores inspirações de Gregorio, inclusive para a criação do coletivo “Porta das Fundos”, que, a partir de 2012, ditou através da internet uma nova linguagem de humor no Brasil. Trata-se do Gato Fedorento, quarteto formado em 2003 por humoristas portugueses, entre eles Araújo Pereira.

Depois de criarem um blog, os integrantes do Gato Fedorento chegaram até a televisão e lotaram teatros, influenciando Gregorio e os colegas brasileiros Antônio Tabet, Fábio Porchat, João Vicente de Castro e Ian SBF no “Porta dos Fundos”.

“Temos uma reparação a fazer porque o Brasil recolonizou Portugal, e eles consomem muito mais a cultura brasileira que a deles”, avalia Gregorio. “Por isso, esse intercâmbio deve ser mais explorado; existem coisas geniais que não conhecemos.”

FICHA TÉCNICA

Interpretação e texto: Gregorio Duvivier
Direção e dramaturgia: Luciana Paes
Assistente de direção: Theodora Duvivier
Direção musical e execução da trilha: Pedro Aune
Criação visual e projeções: Theodora Duvivier
Cenografia: Dina Salem Levy
Assistente de cenografia: Alice Cruz
Figurino: Elisa Faulhaber e Brunella Provvidente
Iluminação: Ana Luzia de Simoni
Diretor técnico: Lelê Siqueira
Técnico de som: Dugg Mont
Visagismo: Vanessa Andrea
Fotos de divulgação: Demian Jacob
Fotos de cena: Priscila Prade | Joana Calejo Pires | Raquel Pelicano
Assessoria de imprensa: Pedro Neves
Designer gráfico publicação: Estúdio M-CAU – Maria Cau Levy e Ana David
Identidade visual divulgação: Laercio Lopo
Marketing digital: Renato Passos
Assistentes de Produção: João Byington
Produção executiva: Lucas Lentini
Produção: Pad Rok – Clarissa Rockenbach e Fernando Padilha

SERVIÇO

  • O Céu da Língua
  • Dias 12 e 13 de setembro de 2025, às 20h
  • Sessão extra: dia 13 de setembro, às 17h
  • Teatro do Parque: Rua do Hospício, 81, Boa Vista, Recife
  • Informações: (81) 99488-6833

Ingressos à venda na plataforma Inti:

  • Plateia: R$ 140 (inteira) e R$ 70 (meia)
  • Camarote: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia)
  • Classificação: 12 anos
  • Duração: 85 minutos

Compartilhe

Tags