Crítica: O Troll da Montanha 2 tem ação e bons monstros, mas falha no resto

Por Observatório do Cinema Publicado em 01/12/2025 às 10:43

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A troca metalinguística entre personagens elogiando “a poderosa sequência” já indica o tipo de autoconsciência irônica que o diretor Roar Uthaug e o roteirista Espen Aukan empregam em O Troll da Montanha 2. O novo filme da franquia deixa de lado boa parte da fórmula “MonsterVerso” do longa de 2022 e aposta em uma aventura ao estilo Indiana Jones pela Noruega, com mitologia expandida – e o dobro de trolls.

O conflito central envolvendo os jötunn se estabelece já na sequência inicial, que também reintroduz a protagonista Nora (Ine Marie Wilmann). Sua ligação de infância com mitos e magia foi reacendida pelos eventos do primeiro filme, mas isso a deixou como uma espécie de pária – em parte por culpa própria, já que ainda carrega grande peso de seus erros. O velho amigo Andreas Isaksen (Kim Falck) a traz de volta à ação quando um novo troll é descoberto, determinado a destruir a humanidade após despertar.

Aventura grandiosa

Mais uma vez, Uthaug conduz uma jornada ágil que funciona também como um anúncio turístico das paisagens impressionantes da Noruega. Nora, Andreas, o sempre galante Major Kristoffer Holm (Mads Sjøgård Pettersen) e a novata Marion (Sara Khorami) cruzam o país rastreando a criatura enquanto buscam respostas sobre como detê-la. Os cenários grandiosos garantem escala à aventura, mas também revelam o senso de humor do diretor, como um pista de dança em pleno resort de esqui virando alvo cômico de um troll furioso.

A química entre os personagens é suficiente para manter o ritmo, mesmo quando a construção deles é mínima. Khorami surpreende ao transformar Marion de contraponto irritante a crente destemida, o que funciona bem, ainda que de maneira discreta.

Nora, interpretada com intensidade por Wilmann, continua sendo o ponto forte: a “sussurradora de trolls” com empatia inabalável pelos jötunn. Contudo, a personagem segue definida quase exclusivamente por sua ligação com as criaturas folclóricas. A atuação ajuda a suavizar elementos superficiais do enredo, mas não salva momentos artificiais, como um sacrifício tardio tão mal executado que quebra completamente a suspensão de descrença. É o tipo de escolha estranha que escancara como O Troll da Montanha 2 muda traços de personalidade e detalhes narrativos conforme necessário para avançar a trama.

Mais monstros

Assim como no primeiro filme, a verdadeira magia está nos seres míticos. A empatia despertada pelos jötunn novamente injeta senso de encanto e fantasia, mas isso é constantemente sabotado pelo espetáculo e pela falta de profundidade dos personagens humanos. Uthaug e Aukan até sugerem temas instigantes – religião como força destrutiva, tecnologia contra natureza, e o valor das lições dos contos de fadas – mas todos ficam em segundo plano diante da aventura de espírito spielberguiano.

O Troll da Montanha 2 brilha quando se dedica às suas lendas e às reflexões sobre como elas se conectam ao presente tecnológico. Porém, a sequência prefere apostar no espetáculo Kaiju tradicional, com monstros em confronto e grandes cenas de ação. O resultado é um filme divertido o suficiente, mas menos envolvente do que a própria lenda no centro do caos.

Como era de se esperar, a cena pós-créditos prepara terreno para um terceiro filme, dando a Uthaug mais uma chance de transformar a mitologia nórdica em espetáculo hollywoodiano. Resta torcer para que, caso a franquia continue, ela finalmente deixe suas influências para trás e abrace de vez sua identidade escandinava.

O Troll da Montanha 2, assim como o filme original, estão disponíveis na Netflix.

Nota: 2,5 / 5

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