Crítica: episódio 6 de It: Bem-vindos a Derry desacelera em preparo para a reta final
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O sexto capítulo de It: Bem-vindos a Derry assume um ritmo mais contido depois de duas semanas intensas. A série desacelera para reorganizar os personagens diante do que está prestes a acontecer na cidade.
O episódio funciona como uma pausa estratégica, concentrada em tensões internas, rupturas familiares e na escalada emocional que antecede o Augery. É um momento de reorganização dramática que prepara o terreno para um desfecho inevitável.
Essa mudança de tom cria espaço para observar, com mais clareza, como cada personagem lida com as consequências do encontro com Pennywise no esgoto, explorando a fragilidade humana em uma cidade prestes a explodir.

A ruptura entre Will e Leroy redefine a temporada
O ponto mais contundente do episódio surge logo no início, quando a relação entre Will e Leroy chega ao limite. A violência que se instala entre pai e filho é menos sobre a influência direta da criatura e mais sobre o colapso de um homem exausto, pressionado e emocionalmente desarmado.
Charlotte, por sua vez, assume um papel fundamental para conduzir essa mudança. A personagem se afasta de Leroy ao perceber que os limites foram ultrapassados, e seu arco se fortalece quando ela passa a agir por conta própria para proteger o filho e ajudar Hank.
A cena no Black Spot, com a reunião de personagens que estavam dispersos, explora essa nova dinâmica: a série posiciona Charlotte como uma das poucas adultas capazes de escapar do torpor que domina Derry.
Esse movimento coloca Will em contato direto com Hank, criando um contraste interessante. O garoto ganha a validação que perdeu em casa, enquanto Hank se agarra à oportunidade de sobreviver e recompor suas forças. As conversas entre eles resgatam um pouco da humanidade perdida nos últimos episódios, funcionando como alívio emocional em meio ao caos.
Enquanto isso, o grupo de crianças se reorganiza em uma estrutura mais afetiva. O episódio aproveita esse respiro para desenvolver, com delicadeza, o vínculo entre Marge e Rich, dando ao núcleo jovem momentos de leveza e cumplicidade.

A faca, o medo e o impacto da Coisa no grupo
Lilly, agora mais ligada ao punhal forjado a partir da estrela que trouxe a entidade, atravessa o episódio com uma agressividade que destoa de sua postura anterior. A série sugere que o objeto cobra um preço emocional, funcionando quase como um catalisador para impulsos que a garota não reconhece como seus. É uma mudança coerente com o trauma acumulado desde os primeiros episódios, mas que também antecipa complicações para o grupo.
Hallorann, por sua vez, retorna profundamente abalado. A experiência nos esgotos rompeu sua falsa sensação de controle, e sua tentativa de se manter lúcido no meio de visões insistentes reforça o desgaste psicológico que o personagem tenta esconder.
Derry, enquanto isso, dá sinais cada vez mais evidentes de que está prestes a entrar em combustão. A população reage com violência desproporcional à fuga de Hank, e o episódio deixa claro que a histeria coletiva não é apenas resposta humana, mas parte do mecanismo que antecede o presságio.
O episódio acena para os efeitos psicológicos da Coisa sobre a cidade, mas nem sempre dá tempo para que esses sentimentos sejam percebidos organicamente. Em comparação às tramas centrais (mais cuidadosas e consistentes), o núcleo da milícia e dos cidadãos cai em um ritmo quase acelerado. Isso enfraquece um pouco a dimensão social do caos em Derry, mas ainda assim contribui para aumentar a urgência da narrativa.

Revelações sobre Ingrid e a sombra de Bob Gray
Quando Lilly se depara com Ingrid Kersh, a série aprofunda ainda mais a mitologia da temporada e cria uma nova camada de antagonismo que não depende diretamente da Coisa. Ingrid rompe o padrão dos personagens manipulados e se revela agente ativa na violência, guiada por um desejo distorcido de ser reconhecida por seu pai.
O episódio insere esses flashbacks como peças-chave para justificar sua devoção cega e a extensão de suas ações. A revelação funciona dentro da lógica proposta pela série, embora abra novas frentes que precisarão ser resolvidas rapidamente.
Essa adição traz complexidade, mas também deixa evidente o desafio de conciliar tantas subtramas nas semanas finais. Com o climax se aproximando, Shaw reforçando seu plano militar e Pennywise ganhando força, Ingrid se torna mais uma peça em um tabuleiro já bastante carregado.

Um episódio de preparação emocional
O sexto episódio de It: Bem-vindos a Derry funciona como um capítulo de transição essencial. Sem o ritmo explosivo dos episódios anteriores, ele se concentra nas consequências do terror, nos desdobramentos emocionais dos personagens e no colapso das relações que sustentavam parte da história. É um episódio de dores expostas, escolhas difíceis e mudanças profundas na dinâmica familiar e comunitária.
Mesmo com algumas subtramas aceleradas, o capítulo cumpre sua função ao preparar terreno para um final que promete ser turbulento. Ao reforçar a importância das crianças, aprofundar o abalo dos adultos e expor novos antagonistas humanos, a série avança para um confronto inevitável.
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