A visão estratégica de Carolina Oliveira no turismo
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Por Julliana Brito
Maria Carolina de Castro Oliveira, ou simplesmente Carol Oliveira, é recifense. Formada em Ciência da Computação pela Universidade Católica de Pernambuco em 1994, tem MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Filha de Zezito Pedroza, hoteleiro pioneiro no estado, Carolina cresceu imersa no universo da hotelaria. Seu pai fundou um grupo tradicional de quatro hotéis em Recife e Natal. Inicialmente, Carol iniciou sua carreira na área de tecnologia, mas logo migrou para os negócios da família, dedicando-se à hotelaria. Desde 2022 é presidente do Recife Convention & Visitors Bureau.
Como foi viver no universo hoteleiro quando pequena?
Não apenas cresci em um ambiente hoteleiro, como também morei por muitos anos na cobertura do Recife Praia Hotel. Cresci vendo meu pai trabalhando na construção dos hotéis e atuar ativamente na operação. Ele é o meu maior exemplo. Aos 10 anos, pedi ao meu pai para trabalhar no hotel e, durante as férias, ajudava no escritório com minha irmã mais velha. Esse universo sempre fez parte da minha história.
Decisão de entrar no ramo hoteleiro?
Não foi algo planejado. Prestei vestibular para Ciência da Computação e, naquela época, os hotéis da família estavam arrendados ao Grupo Othon, então eu não imaginava trabalhar na hotelaria. Já no final do curso, os hotéis foram sendo devolvidos para a gestão da família. Passei a atuar neles.
Quais eram os hotéis?
O grupo tinha quatro hotéis: três em Recife, e um em Natal, o Reis Magos. Vila Rica foi o primeiro hotel da família, o Reis Magos não existe mais, foi demolido no início de 2020. O Recife Praia pertencente a três dos meus cinco irmãos, está passando por um retrofit completo e deve ser reinaugurado em breve como um residencial de alto padrão. Atualmente, o único hotel da família em operação é o Park Hotel, que permaneceu comigo e com minha irmã Maria Helena na administração.
O que é mais desafiador em manter um hotel no Recife?
É um exercício diário de equilíbrio. O maior desafio é conciliar as altas expectativas dos hóspedes com um cenário em que os custos operacionais, tributários e trabalhistas são cada vez mais elevados. É uma gestão que exige precisão, sem jamais abrir mão do cuidado humano e da atenção aos detalhes que dão personalidade à experiência do cliente.
É um trabalho desafiador?
Apesar de todos os desafios, é um trabalho que me motiva. Todos os dias buscamos inovar, aprimorar processos, valorizar a equipe e oferecer um serviço que traduza a hospitalidade genuína do Recife.
A reforma do Park Hotel foi finalizada?
A primeira fase, que contempla as áreas sociais, já foi concluída s a nova cobertura, incluindo o Rooftop 17 e a piscina, e está sendo finalizada a nova recepção e a ampliação do restaurante do térreo, que também será aberto ao público. A segunda fase, que envolve a renovação completa dos apartamentos, está prevista para começar em 2026.
Como surgiu o convite para liderar o CVB?
Aconteceu de forma casual. Em 2022, eu era vice-presidente do Recife Convention & Visitors Bureau, na gestão de Simão Teixeira como presidente. Quando Simão precisou retornar para sua terra, Portugal, coube a mim assumir a presidência. Em 2023, fui eleita oficialmente para o biênio 2023/2024 e, em 2025, fui reeleita para um novo mandato.
O que você mais gostava de fazer quando pequena?
Fui uma criança, e depois adolescente, mais quieta e muito estudiosa. Mas o que eu mais gostava, sem dúvida, era passar os dias na casa que tínhamos em Porto de Galinhas. Lá, junto com meus irmãos, construímos algumas das melhores memórias da nossa infância.
O turismo de eventos na atualidade?
Vivemos um momento relevante. No Brasil, o setor deve movimentar cerca de R$ 141,1 bilhões em 2025, representando um crescimento estimado de 8,4% em relação a 2024. É um resultado expressivo, que demonstra vigor e consolidação, mesmo após os desafios enfrentados nos últimos anos. Hoje, temos um mercado mais atento, integrado e com papel cada vez mais estratégico no desenvolvimento dos destinos. Os organizadores de eventos buscam cidades preparadas, com infraestrutura adequada, serviços qualificados e segurança operacional. E o Recife tem avançado de forma consistente.
Os resultados do setor no último ano?
Tivemos um ano extremamente positivo. 2024 já tinha sido o melhor desempenho da década para o turismo de eventos em Recife, e 2025 manteve, e ampliou, esse ritmo. Houve um aumento significativo no número de congressos, feiras e encontros corporativos realizados na cidade, o que trouxe um fluxo maior de visitantes que participam dos eventos. Isso fortalece a ocupação hoteleira e impulsiona setores como gastronomia, transporte e serviços especializados. Boa parte das captações feitas em 2024 se concretizaram em 2025, além de outras já confirmadas para 2026 e anos seguintes. Isso cria um fluxo contínuo e estratégico de novos eventos para o destino.
O turismo de eventos contribui para a economia local?
Cada congresso, feira ou encontro corporativo mobiliza simultaneamente setores como hotelaria, gastronomia, transporte, receptivo, montagem, audiovisual, tecnologia, segurança, design, comunicação e uma diversidade de fornecedores. É uma atividade que gera emprego e renda de forma muito mais abrangente do que outros segmentos. O participante de eventos costuma gastar entre 1,5 e 3 vezes mais do que o turista de lazer. Isso amplia o impacto econômico, fortalece negócios ao longo de todo o ano, reduz a sazonalidade e aumenta a arrecadação municipal.
Como está a preparação para o fim de ano?
O fim de ano é tradicionalmente um período de grande movimento no Recife. Neste ano, o cenário está ainda mais favorável. As pesquisas mostram que Recife e Pernambuco estão entre os destinos mais procurados do Brasil para o Réveillon e para as férias de verão. A programação da Orla de Boa Viagem, os shows e eventos ao ar livre fortalecem a circulação de pessoas. A expectativa é de uma temporada extremamente positiva.
E o Carnaval? Quais as expectativas?
O Carnaval é sempre um dos períodos mais importantes para a economia e para a imagem do Recife. As expectativas para 2026 são muito positivas, tanto para o carnaval de rua, que impacta diretamente a ocupação e o comércio, quanto para os eventos privados, que têm crescido e atraído visitantes de diversos mercados. Esse conjunto de movimentações deve resultar em boa ocupação hoteleira, maior consumo e geração de renda.
Que projeções a entidade tem?
Continuidade de crescimento. Temos ampliado a captação de eventos, fortalecido vínculos com entidades nacionais e internacionais e diversificado cada vez mais os segmentos em que atuamos. Hoje, já contamos com uma agenda de eventos confirmados e prospectados que se estende até 2033, o que demonstra a confiança do mercado no Recife como destino. Outro ponto importante é a promoção integrada da cidade, especialmente diante da tendência do bleisure, que combina lazer e negócios e tem ganhado força entre os participantes de eventos.
Os diferenciais competitivos de Pernambuco?
Pernambuco e Recife apresentam diferenciais competitivos muito claros, o primeiro deles é a conectividade aérea. O Aeroporto Internacional do Recife abriga o maior hub da Azul no Nordeste, garantindo acesso facilitado a partir de diversas cidades brasileiras e também de rotas internacionais. Para organizadores de eventos, essa conectividade é decisiva: aumenta a atratividade do destino e reduz custos logísticos, tornando Recife uma escolha natural para congressos, feiras e encontros corporativos.
Como está a infraestrutura do estado?
É um ponto fundamental para a atividade turística. O estado conta com equipamentos modernos, versáteis e em plena expansão, que vão desde centros de convenções consolidados até novos espaços recentemente inaugurados. Essa atualização contínua amplia nossa capacidade de receber eventos de perfis variados, do corporativo ao científico, do cultural ao gastronômico. A identidade cultural do Recife é outro diferencial marcante.
Prioridades estratégicas no Recife Convention Bureau?
Ampliar a captação de eventos estratégicos para a economia pernambucana. Fortalecer as empresas associadas, criando condições reais para que novas oportunidades surjam. Promover o destino de forma integrada, conectando lazer e eventos. Além disso, temos investido fortemente em inteligência comercial, organização interna e boas práticas de governança.
Como a entidade tem trabalhado com o poder público e iniciativa privada?
O Convention sempre atuou como um elo entre os setores público e privado. Atuamos em parceria com a Prefeitura, o Governo do Estado, o trade turístico e entidades nacionais para captar eventos e promover o destino. Essa articulação envolve desde ações de prospecção e inteligência comercial até apoio logístico, institucional e promocional aos eventos que escolhem nossa cidade. Quando os setores caminham juntos, os resultados aparecem de forma direta para a cidade: mais visitantes, mais negócios, mais renda e uma cadeia produtiva fortalecida.
Quais políticas públicas são mais urgentes?
Precisamos de políticas públicas que ofereçam continuidade, previsibilidade e visão de longo prazo ao turismo de eventos. Esse é um setor que depende de planejamento antecipado e a estabilidade das regras é essencial para atrair os eventos. Entre as prioridades, destaco: incentivos responsáveis para a captação de grandes eventos; Investimentos contínuos em mobilidade, infraestrutura urbana, segurança pública e qualificação profissional; Fortalecimento dos corredores turísticos, garantindo ambientes limpos, seguros, organizados e preparados para receber o visitante; Apoio à conectividade aérea; Modernização de Recife e Pernambuco, seja com novos equipamentos, revitalizações urbanas, tecnologia, sustentabilidade ou soluções inovadoras de mobilidade.
Legado para deixar no final da sua gestão?
Quero deixar um legado de continuidade e fortalecimento do trabalho que vem sendo construído há muitos anos no Recife Convention & Visitors Bureau. Acredito que uma gestão sólida não começa do zero nem atua de forma isolada, ela avança a partir de uma base bem estruturada, respeitando o que foi feito e abrindo caminhos para o que ainda pode ser conquistado. Em 2026, o Recife Convention completa 25 anos de fundação, e é uma honra contribuir para que essa história siga crescendo.
E o seu objetivo até lá?
Entregar um Convention ainda mais profissional, integrado e estratégico, com processos organizados, inteligência comercial fortalecida e uma atuação próxima do trade, do poder público e dos grandes players nacionais. Um destino mais competitivo, com Recife novamente bem posicionada na prateleira do mercado MICE e cada vez mais preparada para receber congressos, feiras e encontros de todos os portes. Outro pilar essencial que desejo fortalecer é o associativismo, solidificar a compreensão de que o Convention só é forte porque seus associados acreditam no trabalho coletivo. Quero deixar um Convention mais forte e um Recife ainda mais preparado, moderno e valorizado como destino nacional de eventos, com o associativismo cada vez mais presente como força motriz desse desenvolvimento.
RAIO-X:
Time: Sport.
Restaurante: Rooftop 17 do Park Hotel. (é claro)
Comida: O bacalhau cozido que meu marido faz.
Filme: “Sociedade dos Poetas Mortos”. com Robin Williams.
Livro: ‘O Alienista’, de Machado de Assis, mais atual do que nunca.
Música: ‘Ave Maria’, de Schubert.
Cantor: Zeca Baleiro.
Local favorito: Minha casa.
Hobby: Estar com minha família.