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O cuidar no olhar e no dia a dia da médica Isabela Coutinho

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Por JC Publicado em 14/07/2025 às 4:00

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Ginecologista e obstetra, Isabela Coutinho é graduada em Medicina pela Universidade Federal de Pernambuco com mestrado em Saúde Materno Infantil pelo IMIP) e doutorado em Cirurgia pela Universidade Federal de Pernambuco. É médica concursada da Prefeitura do Recife, desde 1995. Em maio de 2016, assumiu a direção geral do Hospital da Mulher do Recife, onde atua até hoje.

Conta um pouco sobre sua carreira na medicina. Casada com o desembargador Stênio Neiva Coelho, forma um casal muito querido na nossa sociedade.

Arquivo pessoal
Isabela Coutinho é médica ginecologista obstetra e preside o Hospital da Mulher do Recife desde 2016 - Arquivo pessoal

Por optou pela medicina?

No ano do vestibular, o meu querido avô, também médico, Arthur Coutinho, mostrou-se bastante interessado na minha inscrição, participando ativamente do processo. Terminei prestando vestibular para jornalismo, na Unicap e medicina, na Federal. Infelizmente, meu avô faleceu antes de eu prestar o vestibular. Passei nos dois, mas a medicina me ganhou.

Medicina ou jornalismo?

A carreira de medicina veio como um presente ao final do meu ensino médio, quando eu ainda estava em dúvida sobre seguir a profissão de jornalista ou de médica. Sempre fui muito curiosa e comunicativa, gostava de ler e escrever, o que me colocaria como uma boa jornalista e quem sabe até escritora. Fico pensando até hoje.

Arquivo pessoal
Isabela com seu marido Stenio Neiva e seus dois filhos Eduarda e Stenio Filho - Arquivo pessoal

 

É próxima da família?

Sou a terceira de quatro filhos e a minha infância foi muito feliz, mas também enfrentei a separação dos meus pais aos 12 anos, Waldemir e Christina. Porém, sempre fomos muito unidos e não houve traumas. Nossos pais sempre nos cercaram de amor, harmonia, respeito e carinho, ensinando que o nosso futuro dependia de nossas escolhas, do estudo, do empenho e dedicação.

Um momento bom da infância?

Minha infância foi marcada pelos tempos maravilhosos vividos em Tamandaré, onde temos uma casa de praia e estávamos sempre com nosso pai. Também lembro, com felicidade, dos domingos nas missas e almoços em família na casa do vovô materno, em nossa casa ou no memorável restaurante Galo de Ouro; de passeios para feirinha de Boa Viagem ou Casa da Cultura e pelo cuidado que sempre tivemos um com os outros em nossa casa, com minha irmã mais velha, Eugênia, meu irmão Arthur, e o caçulinha Waldemir.

Como foi tomar posse no Hospital da Mulher?

O convite foi uma surpresa, mas também um grande desafio. Foi uma honra e oportunidade, de poder garantir o atendimento diferenciado e especializado na saúde da mulher em todas as fases de sua vida, além da realização como profissional que sempre lutou para a prestação de uma assistência respeitosa, humanizada e que colocasse a mulher como protagonista. Quando nasceu o Hospital da Mulher do Recife, nasceu uma nova Isabela Coutinho, a que realizou o sonho de tentar cuidar das mulheres com mais dignidade

Qual o maior desafio de comandar um hospital deste porte?

Dirigir um hospital, com 158 leitos e uma gama de serviços é bastante desafiador. Atendemos as mulheres em todas as fases de sua vida, a partir dos 10 anos de idade, com setores diferentes e cada um com sua especificidade. Vou dar apenas dois exemplos: temos a UTI Neonatal que trata dos recém-nascidos em estados críticos. Ao mesmo tempo que também temos a UTI da Mulher/Obstétrica. Aqui já observamos outro público, outras medicações, necessidades de outros tipos de profissionais. Ou seja, dentro de um único espaço temos vários setores completamente diferentes. Então gerir isso, é gerir vários perfis dentro de um único hospital. É difícil, é complexo, mas é estimulante.

Algo que te marcou e te deixou emocionada no Hospital?

Aprendo a cada dia com os eventos lindos e emocionantes e também com as situações difíceis que vivenciamos na rotina de um hospital. Mas, realmente, o que mais me emociona é poder oferecer atendimento com humanidade, respeito e amor. É poder ouvir: “como eu fui bem atendida aqui”.

Quais dados relevantes/de destaque no hospital?

Desde que o Hospital da Mulher do Recife foi inaugurado, em maio de 2016, já fizemos 229.259 atendimentos de emergência; 312.335 consultas médicas; 271.082 atendimentos multiprofissionais; 11.122 procedimentos cirúrgicos; 1.44.664 exames laboratoriais; 1.816.709 exames de imagem; e 44. 962 partos, sendo 27.153 normais e 17.809 cesáreas. (Dados compartilhados no início de julho)

Há algum projeto para ajudar na comunicação direta e ações de prevenção?

Estamos participando do programa de Oferta de Cuidados Integrado, capitaneado pelo Ministério da Saúde, e o Hospital da Mulher entrou como referência para a OCI de câncer de colo de útero, o que consiste em receber pacientes com exame de HPV positivo ou alterações nos exames realizados. O objetivo principal é atuar de forma precoce antes que a doença se instale. Sobre este programa, o HMR já recebeu, inclusive, visita de uma comitiva da Organização Pan-Americana da Saúde junto com o Ministério da Saúde.

Foi por sua inspiração que a filha escolher a medicina?

Eduarda se tornou uma mulher forte, admirável e que também é defensora da mulher. Acredito ter sido uma fonte de inspiração para ela sim. E isso é muita responsabilidade para mim. Eu me assustei um pouco com a escolha dela pela especialidade da ginecologia obstetrícia. É uma especialidade difícil, sacrificada, não temos hora, nem dia. É, de fato, um sacerdócio (mas a vida dela toda foi vendo a sua mãe e quis mesmo assim). Então, só posso apoiar e me orgulhar por isso. Quando vi o brilho nos olhos de Duda, pensei: não tem jeito, se apaixonou!! Que orgulho da minha filha, que honra ser inspiração para uma pessoa tão maravilhosa quanto ela! Como uma mãe coruja, não posso deixar de falar no meu filho Steninho que escolheu a advocacia por profissão e já traça suas primeiras conquistas, com competência, dedicação e disposição.

O que é mais importante pra você?

A gente vive a vida tentando ser feliz. Então, ser feliz é o meu propósito.

Qual sua inspiração?

Eu me inspiro em quem busca ser amor, leveza, luz e alegria na vida das pessoas.

Como foi conciliar a maternidade com a profissão

Sempre fui focada e sempre me esforcei muito para atingir os meus objetivos. Aprendi com minha mãe que uma mulher para ser ela mesma, precisa ser independente. Stênio, meu marido, sempre foi muito parceiro e respeitoso com as minhas escolhas. Assim que acabei a residência nos casamos e emendei com mestrado, doutorado e filhos. E para isso, sempre tive seu apoio incondicional. Ele ajudava a cuidar das crianças enquanto eu estava de plantão, estudando para o mestrado e fazendo a minha tese de doutorado. Então nossa vida é uma parceria. Respeitamos, apoiamos e participamos ativamente da vida do outro.

Quais casos mais recorrentes chegam ao Hospital?

Bebês que nascem muito prematuros e que levam dias, às vezes meses, lutando pela sobrevivência são eventos muito frequentes e que me deixam feliz e emocionada quando conseguimos mandá-los saudáveis para o convívio com sua família.

Opinião sobre o cenário de muitas faculdades de medicina?

Há uma grande alta no número de faculdades de medicina e cresceu o número de médicos formados. Esse cenário é bastante preocupante e faço duas anotações a esse respeito. Primeiro, temos que repensar, enquanto sociedade, sobre a quantidade de faculdades de medicina que estão sendo abertas. Precisamos estar atentos e vigilantes no compromisso com a qualidade de ensino, com o campo de prática e valores educacionais e éticos. Segundo é que boa parte não procura a área por vocação e sim por status. A vocação é primordial porque para ser médico é preciso muito estudo, determinação, trabalho devotado e noites sem dormir. Precisamos ter amor, empatia e comprometimento com o paciente.

Conselho para quem quer seguir a área

Ame a medicina, estude muito sempre, faça sua residência, mestrado, doutorado, pós doutorado. Apesar de todo o conhecimento, nunca se esqueça que o olhar nos olhos do paciente e familiares é parte fundamental em todo o processo de proteção e promoção da saúde. Sempre se coloque no lugar dos outros.

Fica ligada nas demandas 24h ou tem momentos em que se desliga?

Infelizmente, eu fico ligada o dia inteiro, embora tenha pessoas maravilhosas me ajudando nas tarefas de gestão. Apesar de delegar tarefas, estou sempre atenta nos cuidados...

Por que a mulheres estão tendo menos filhos?

Venho percebendo uma redução nas taxas de natalidade nos últimos dois anos, embora nesses últimos meses tivemos uma alta na quantidade de partos no Hospital da Mulher do Recife, que acredito ser sazonal, Posso atribuir essa queda, publicada pelo IBGE, aos estímulos à utilização de métodos contraceptivos, a uma maior flexibilidade na lei da laqueadura tubária e, especialmente aqui no Recife, um estímulo forte à informação e oferta de dispositivos intrauterinos principalmente no período pós-parto como a melhor forma de oportunizar o momento.

Lembra do primeiro bebê que trouxe ao mundo?

Iniciei na obstetrícia no 5° período da faculdade, como acadêmica voluntária na Maternidade Bandeira Filho, quando o meu amor pela obstetrícia começou. Não recordo o primeiro parto, mas cada um é único e simbólico. A cada parto, nasce um bebê, uma mãe, uma nova família e por que não dizer, uma nova obstetra. Sinto muita honra por ter participado dos partos de todos os meus sete sobrinhos. Sou um pouco mãe de cada um deles.

RAIO X

 

Time: Sport

 

Restaurante: Le Chef

 

Comida: Feijoada

 

Filme: “A Rosa Púrpura do Cairo” e “Ainda Estou Aqui”

 

Música: “Ainda Bem”, de Marisa Monte

 

Cantora: Marisa Monte

 

Livro: “Travessuras da Menina Má”, de Mario Vargas Llosa, e toda a coleção de Harry Potter

 

Local: Fernando de Noronha

 

Hobby: Ler e Ir à praia

 

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