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"Frutos do Mar" dá voz a pescadores, marisqueiras e educadores de Brasília Teimosa

Filme reúne histórias de vida e culinária da comunidade, marcada pela pesca artesanal, pela migração sertaneja e luta contra a especulação imobiliária

Por Alice Lins Publicado em 12/09/2025 às 20:40

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A diretora e roteirista Mônica Jácome lançou nesta quinta (11 de setembro) o documentário “Frutos do Mar - Tradição Culinária, Memória e Resistência na Brasília Teimosa”, em sessão pública e gratuita realizada, às 19h, na Escola Técnica Estadual João Bezerra, em Brasília Teimosa, no Recife.

O filme reúne narrativas de pescadores, marisqueiras, cozinheiras, comerciantes, educadores e crianças sobre a vida cultural, a rica gastronomia do bairro e a resistência frente às pressões históricas da especulação imobiliária.

Realizado pela Gato de Gengibre – Pesquisa e Produção Cultural, com produção associada da Janela – Gestão de Projetos, das produtoras Fernanda Ferrário e Dida Maia, o documentário foi contemplado no edital Ações Criativas para o Audiovisual – Produção, da Lei Paulo Gustavo, executado pelo Governo de Pernambuco, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundarpe.

Em pouco mais de 25 minutos, Frutos do Mar parte da premissa de que ninguém mais legítimo para contar a história de um território do que seus próprios moradores. É a comunidade que narra como se construiu o sistema cultural alimentar da Brasília Teimosa, moldado pelo encontro de três matrizes culinárias: o mar, o mangue e a caatinga.

Esse cruzamento tem raízes na migração sertaneja das décadas de 1930 e 1950, quando famílias fugindo das grandes secas ergueram palafitas no antigo Areal Novo, hoje Brasília Teimosa. Trouxeram hábitos alimentares à base de carnes — buchada, sarapatel, chambaril, carne-de-sol — que, somados à pesca artesanal e à mariscagem, criaram uma identidade gastronômica própria.

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"Frutos do Mar" dá voz a pescadores, marisqueiras e educadores de Brasília Teimosa - Divulgação

Gastronomia de resistência

O filme mostra como essa fusão atravessou gerações. No Bar do Cabo, fundado por migrantes sertanejos e hoje comandado pelas irmãs Natália e Gisele Oliveira, receitas de carne deram lugar a pratos de frutos do mar como o arroz de polvo e o camarão na cerveja, que tornaram a casa referência na cidade. Já o Império dos Camarões, criado por José Bezerra dos Santos, o “Seu Zezinho”, também migrante da seca, sobrevive hoje administrado em parceria com o neto.

Outros personagens centrais são a marisqueira Edileuza Silva do Nascimento (“Dona Lêu”), o pescador João Pereira Filho, e o vice-presidente da Colônia de Pescadores Z-1, Augusto Lima (“Seu Neno”), que compartilham as práticas de pesca artesanal, a mariscagem no mangue e a luta contra a degradação ambiental.

O título Frutos do Mar também remete à resistência da comunidade. O nome “Brasília Teimosa” surgiu nos anos 1950, quando moradores, mesmo sob ameaças e ordens de remoção, “teimaram” em permanecer no território. Desde então, convivem com o contraste entre a pesca artesanal e o avanço da especulação imobiliária em uma das áreas mais valorizadas do Recife, entre o Pina e o bairro do Recife.

O documentário ainda evidencia o papel dos educadores sociais, que fazem da cultura uma ferramenta de resistência. Taciana Melo, da Escola Mangue, e Dandara Martins, do CEPOMA, conduzem projetos que integram educação ambiental, cultura alimentar e memória popular. Entre eles, o Maracatu Nação Erê, primeiro grupo infantil de baque virado de Pernambuco, criado na Brasília Teimosa e que completa 30 anos em 2025.

Segundo Mônica Jácome, a intenção foi “construir uma narrativa em que a própria comunidade pudesse dizer ao poder público e à sociedade por que é fundamental valorizar e salvaguardar sua cultura alimentar e suas práticas de vida”.

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