O que o sexting revela sobre o consentimento
Essa foi a questão central da pesquisa conduzida por Rikke Amundsen, professora de Mídia Digital e Cultura no King's College London.

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O sexting — criação e troca de mensagens, fotos e vídeos de teor sexual — faz parte da vida sexual e romântica de muitas pessoas, especialmente em uma era marcada pelo uso intenso da tecnologia digital, acelerada pela pandemia. Mas o que essa prática revela sobre as diferentes formas como homens e mulheres entendem e vivenciam o consentimento sexual?
Essa foi a questão central da pesquisa conduzida por Rikke Amundsen, professora de Mídia Digital e Cultura no King's College London, que analisou as experiências de homens e mulheres em relações heterossexuais. Em seu artigo publicado no The Conversation, Rikke destaca que o consentimento é fundamental para o sexting, mas homens e mulheres o abordam de maneiras diferentes.
“Mulheres estavam mais preocupadas com o risco de ter seu consentimento violado. Já os homens demonstraram maior preocupação em não violar acidentalmente o consentimento da pessoa com quem estavam se comunicando”, explica a pesquisadora.
Experiências das mulheres
Entre junho de 2016 e fevereiro de 2017, Rikke entrevistou 44 mulheres sobre o uso da tecnologia em suas relações íntimas. Muitas delas relataram sentir uma forte responsabilidade individual para evitar que suas imagens íntimas fossem compartilhadas sem autorização.
“As mulheres refletiam sobre a importância de se protegerem, evitando confiar na pessoa errada para sextar”, conta a especialista. Elas adotavam estratégias diversas, como não mostrar o rosto em fotos e buscar conhecer amigos e familiares do parceiro para criar uma rede de segurança.
Uma participante na casa dos 20 anos exemplificou:
“Eu tento conhecer a família e amigos dele antes, assim, se algo acontecer, posso contar para a mãe dele.”
Além disso, as entrevistadas viam o envio de imagens não solicitadas como um problema causado por homens mal comportados, não necessariamente como parte de um problema estrutural maior relacionado à misoginia, ideia que difere da visão acadêmica sobre o assunto.
Experiências dos homens
Já entre maio de 2022 e maio de 2023, cinco anos após as entrevistas com as mulheres, Rikke conversou com 15 homens. O cenário havia mudado com o avanço do movimento #MeToo, que colocou o tema do consentimento sexual na agenda global.
Apesar de apenas um homem mencionar diretamente o movimento, sua influência era clara. Um participante em seus 30 anos disse:
“Cresci em um período em que o entendimento sobre consentimento mudou muito. Homens da minha geração... acho que estamos muito mal preparados para as expectativas da sociedade moderna.”
Os homens relataram medo de violar o consentimento feminino e muitas vezes evitavam sexting considerado “arriscado” ou buscavam confirmar continuamente o consentimento da parceira durante a troca.
Caminhos para o futuro
Rikke conclui que tanto homens quanto mulheres levam o consentimento a sério e desejam evitar sua violação. Ela reforça a importância de criar espaços seguros para que, especialmente os jovens homens, possam discutir e explorar o consentimento sem medo de julgamentos.
“Precisamos de espaço para discutir consentimento, principalmente para jovens homens, sem que eles sofram consequências sociais negativas por isso”, destaca.
Organizações como Beyond Equality e Fumble já promovem esses diálogos em escolas, universidades e ambientes online. A pesquisadora acredita que essa conversa precisa chegar também às famílias, governos e empresas de tecnologia.
Sobre o desafio contemporâneo
Como ressalta Rikke, navegar pelo consentimento nas relações sexuais sempre foi um desafio, e a tecnologia trouxe novas oportunidades — mas também novos riscos.
“A tecnologia digital criou oportunidades para a interação sexual, mas também para a violação do consentimento. Precisamos criar espaços de diálogo para que possamos construir juntos uma prática saudável e respeitosa de consentimento sexual, para todos os envolvidos.”
Esse diálogo é essencial para garantir que o sexting e outras formas de intimidade digital sejam experiências seguras, consensuais e respeitosas.